CRÍTICA #2 | ’13 Reasons Why’ possui uma ótima narrativa e nos faz refletir sobre as atitudes do dia a dia

Bruno Cavalcante

A nova produção da Netflix “13 Reasons Why” é a grande sensação entre os aficionados por séries no momento. Baseada no best-seller “Os 13 porquês”, do escritor americano Jay Asher, a trama aborda o drama vivido por Hannah (Katherine Langford), uma adolescente que decide se suicidar após severos acontecimentos em sua vida. No entanto, antes disso, ela deixa uma herança de 13 fitas cassetes descrevendo os tais motivos que a levaram a cometer o ato. E isso faz envolver algumas pessoas de seu ciclo social.

A série tem sido apontada com uma das melhores produções da Netflix nos últimos tempos. Sua aprovação com mais de 90% no site de resenhas “Rotten Tomatoes” também impressiona. Mas trazendo tudo isso para o plano atual, não é de se espantar que uma trama sobre buylling cause tanto interesse por parte dos jovens, visto que hoje em dia, o que mais temos acompanhado na internet são casos de desrespeito à mulher, homofobia, racismo, intolerância etc. Parece que hoje as pessoas estão mais sensíveis com relação a qualquer tipo ofensa. Tudo se torna público mais rapidamente e as opiniões se formam na mesma velocidade.

A grande sacada de “13 Reasons Why” é tratar de um tema tão atual, ambientado em um dos lugares mais cruéis que podemos ter notícia, o ensino médio. Afinal de contas, quem nunca sofreu qualquer ataque de colegas ou desconhecidos durante anos de estudo que atire a primeira pedra. No entanto, “13 Reasons Why” vai um pouco mais além, a série também aponta para aqueles pequenos atos que cometemos no nosso dia a dia, sem nos dar conta de que aquilo poderia afetar de alguma forma qualquer outra pessoa. Ela nos faz pensar que ao mesmo tempo em que nos consideramos vítimas, também podemos ser os agressores, e que nossas ações podem resultar em consequências desastrosas na vida de alguém.

Os episódios são muito bem construídos aos longo dos 13 capítulos que a série possui. A cada episódio somos apresentados a um novo “porquê” da vida de Hannah entre o passado e o presente, que se une a uma pessoa do elenco em diferentes pontos da vida da moça. Os personagens são bem carismáticos, apesar de alguns parecerem um pouco distantes da nossa realidade. Todavia, acredito que mesmo com os obrigatórios clichês de uma produção como esta, tivemos também criações interessantes como Courtney, vivida pela iniciante atriz Michele Selene An, uma estudante aplicada e popular, que apesar de parecer desprendida de qualquer preconceito, se mostra incomodada por ter sido criada por pais gays em um determinado momento de sua vida. Outro personagem de destaque é o do ator Miles Heizer, o enigmático Alex. Este, de início você fica se perguntando quanto a sua sexualidade, ou se ele está apenas tentando se enturmar para não pagar o pato. Mas Alex me pareceu alguém em construção, que devido a sua severa criação, ainda não teve tempo para entender quem realmente é ou deseja ser.

Um ponto positivo que tem sido visto nas recentes produções da Netflix é a diversidade de seu elenco. Temos tido personagens negros, asiáticos, gays, latinos, entre outros, tendo um certo destaque dentro da trama e não apenas com papéis secundários. Isso procede em “Sense8”, “3%”, “Um Dia de Cada Vez” e obviamente em “13 Reasons Why“. Mas na série em questão isso pode ser visto ainda com mais clareza.

Apesar da diversidade de seu elenco, “13 Reasons Why” também peca na qualidade de suas atuações. Mesmo com bons desempenhos de alguns atores, como a excelente Alisha Boe (intérprete de Jessica) e o ótimo Brandon Flynn (Justin), e até podemos também considerar Katherine Langford, a série é prejudicada pela exagerada expressão corporal de Daylan Minnette (intérprete de Clay, o protagonista), que em certos momentos chega a dar agonia de tão caricata e forçada é a sua atuação. Também poderíamos dar o prêmio de atuação mais sem graça para o ator Christian Navarro, que interpreta o quase sem vitalidade Tony. Um personagem que poderia ser melhor aproveitado, se o mesmo apresentasse mais presença em cena. Em relação ao restante do elenco, podemos dizer que apenas passaram no teste.

13 Reasons Why” é um série de bastante relevância isso não podemos negar. Todavia algumas coisas dentro dela não funcionam tão bem. Por exemplo, tudo bem quanto à ideia de fitas cassete, isso me soa como algo original, mas por que cargas d’água o protagonista não consegue apenas ouvir uma fita de 60 minutos inteira já que o assunto é de seu interesse? Ou como que uma ‘nude’ ou ‘semi-nude’ vazada pode causar tanto rebuliço nos dias atuais? Visto que hoje em dia o que mais temos são fotos aparecendo pela internet? Também chego a considerar algumas decisões da própria Hannah, que mesmo tendo sido tão atingida, insistia no erro dos outros.

Como disse anteriormente, “13 Reasons Why” é um trabalho que precisa ser conferido, seja pelo burburinho que tem feito na mídia, pela curiosidade do tema ou por sua excelente trilha sonora. Mas na verdade, o grande trunfo da obra é nos fazer pensar sobre como tratamos o outro no nosso dia a dia. E que você nunca sabe o que uma pessoa pode estar passando. Por isso, seja gentil sempre.

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Bruno Cavalcante

Meu nome é Bruno Cavalcante, sou formado em publicidade e propaganda, carioca, escorpiano, apaixonado pela vida e por cinema também. Meu gênero preferido é o terror, mas gosto e vejo de tudo um pouco.
NAN