Crítica de série | Bloodline (1ª temporada)

Sabrina Rodrigues

AVISO: A crítica contém SPOILERS, muitos SPOILERS!
Tenho dito a amigos que o cinema foi para a telinha e esse vício em séries não é por um acaso. Vamos mergulhar no universo de Bloodline, então?
Criada por Todd A. Kessler, Daniel Zelmane e Glenn Kessler, todos, também, criadores da série Damages , a qual tinha Glen Close como protagonista, Bloodline é a série drama do site de streaming Netflix, que estreou no dia 20 de Março, com treze episódios.
Bloodline gira em torno da família Rayburn, cujos componentes são: o patriarca Robert Rayburn (Sam Shepard), dono de uma pousada na Flórida, a sua esposa Sally (Sissy Spacek), e os quatro filhos vivos: o filho mais velho Danny (Ben Mendelsohn), o detetive John Rayburn,  Kevin Rayburn (Norbert Leo Butz) e a filha caçula Meg Rayburn (Linda Cardellini). Isso sem contar com Sarah (Angela Winiewicz), morta em um acidente de barco. E é aí onde o drama tem início.
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Outros personagens são recorrentes na primeira temporada como Eric O’Bannon (Jamie McShane),  amigo de Danny que se encontra em liberdade condicional; a irmã de Eric e namorada de Danny, Chelsea O’Bannon (Chloë Sevigny); Marco Diaz (Enrique Murciano), detetive e noivo de Meg Rayburn; Diana Rayburn (Jacinda Barret), esposa de John Rayburn.
Por ter os mesmos criadores, Bloodline dispõe de alguns recursos de Damages, que são as idas e vindas entre fatos passados e futuros. Entretanto, em Damages, esse vai e volta tinha um ritmo mais acelerado, por ser uma série jurídica e por ter outra proposta, diferentemente, de Bloodline, que é um drama familiar com um enfoque mais psicológico.
A série tem um ritmo, muitas vezes, arrastado? Tem. Mas, nem por isso ela deixa de ser muito boa e ainda ficamos ansiosos por mais um episódio.
Bloodline não é uma série de ação, não é um suspense policial. Ela tem uma proposta que vai conquistando a atenção do público aos poucos, pois a questão foca em torno do desenvolvimento psicológico de cada personagem e de como cada um reagiu ao longo da vida a um trauma que mexeu com todos. Já sabemos o que vai acontecer no final, mas o que nos prende é saber como.
Mas, vamos para a Flórida, onde os problemas começam, ou melhor, retornam quando o problemático Danny decide voltar a morar na pousada e não é bem recebido nem pelo pai e nem pelos irmãos, somente a mãe está feliz por tê-lo de volta.
A série tem um narrador, pelo menos é o que parece, que expõe um ponto de vista (ao menos no início) sobre os acontecimentos. Em meio à chegada de Danny, John, que é detetive, encontra-se numa investigação que envolve tráfico de pessoas com duas vítimas mulheres.
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Ao longo dos episódios, conhecemos mais os personagens: Danny é considerado “o problema” da família. Saiu de casa há muitos anos, sem que ninguém soubesse o que ele realmente fez na vida; é desajustado, envolvido com uso e tráfico de drogas, sem emprego fixo e precisando da ajuda financeira da família. Quando ainda era um adolescente, foi severamente espancado pelo pai, causando-lhe traumas não só físicos como psicológicos, pois houve um silêncio completo da família em relação ao ocorrido a fim de proteger o patriarca, Robert.
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John Rayburn é o segundo filho, responsável, casado, pai de dois adolescentes e que de todos os irmãos, tem a relação mais conflituosa com Danny, e mais a frente da série descobrimos o motivo.
Kevin é o terceiro irmão, tem problemas nos negócios, está se divorciando da esposa, é fraco, medroso, quase um bebê chorão.
Meg é advogada, mantém um noivado há anos, mas tem um caso com um empresário que está de passagem na cidade.
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Sally é a matriarca da família, protetora de Danny, parece estar alheia a tudo o ocorre, mas penso que essa personagem não é tão boba quanto parece. Principalmente, quando em um dos últimos episódios, ela revela ter induzido os seus filhos a mentirem em relação ao “acidente” com Danny.
De episódio em episódio, vamos entendendo o porquê da raiva, da rejeição do pai em relação a Danny, e o distanciamento dos irmãos, o desprezo que Danny tem por eles.
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A revolta se acentua, quando Danny recebe do detetive Lenny Potts (Frank Hoyt Taylor), que na época investigou o seu acidente, as fitas cassetes com os depoimentos mentirosos dos irmãos, em que cada um afirma, como num roteiro ensaiado, que os machucados e fraturas do irmão mais velho foram consequências de um acidente de carro.
Mas, o que falar de Ben Mendelsohn (que, aliás, merece, ao menos, uma indicação ao Emmy e espero, também, que os jornalistas internacionais não se esqueçam dele no Globo de Ouro em 2016!)? Ele interpreta um personagem cínico, mentiroso, dissimulado, criminoso, manipulador, calculista e mesmo assim, nos apanhamos, muitas vezes, odiando-o e, outras, amando-o, torcendo por ele, mesmo cientes de todos os erros que ele comete.
blood_s1_037_hSe Danny era para ser o grande vilão da história, não deu certo. O que eu mais vejo é o #teamdanny nas redes sociais. Será que nos tornamos uma espécie de psicólogos do Danny? Queremos vingança por ele? O que fez dele o personagem mais atraente para o público?
Pelo menos para mim, ele é um personagem instigante, mesmo reconhecendo que ele poderia seguir adiante na vida e ter evitado tantos erros e não ter feito e se tornado o inferno da família Rayburn.
Um excelente diálogo entre Danny e a sua namorada Chelsea ocorre quando ele pergunta o porquê de ela ajudar a mãe que a maltratou tanto na infância. E Chelsea responde: “Se você deixar que alguém controle a sua felicidade, você está ferrado.” E Danny silencia.
ChloeSev-Bloodline-Ep1x11-cap00019Será que ele deixou aquela família controlar e determinar a felicidade dele? Ele não poderia ter deixado tudo para trás? Mas, aquela família é um novelo de mentiras, que para Danny, não poderia ficar no passado.
Foi difícil ver o último episódio da temporada sem Danny. Algo que me deu o mesmo sentimento que tive no último episódio da quinta temporada de The Good Wife, mas vamos deixar TGW para outro dia!
bloodline.swamp_Mas, lembra, no início, quando eu escrevi que o cinema foi parar na telinha? Esse é o ponto chave de Bloodline. O enquadramento e a fotografia fazem parte da história, eles integram a narrativa em conjunto com o roteiro e fazem o seu papel na série. É como se alguém, que não faz parte do clã dos Rayburn, observasse tudo a distância. E esse alguém é o filho de Danny que vai procurar John na última cena do episódio final.
Como será a segunda temporada sem o Danny? Para mim, esse é o desafio dos roteiristas para a próxima temporada. Vamos aguardar e ver como os Rayburn conviverão com tantas e mais mentiras e segredos, como o próprio John Rayburn disse: “Não somos pessoas ruins, mas fizemos algo terrível”.

Sabrina Rodrigues

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