Crítica de Série | Demolidor [2ª temporada]

Adolfo Molina

O amor do herói à Hell’s Kitchen, e sua queda, sempre foram os principais ativadores do olhar justiceiro do advogado Matthew Murdock, que vigia sua cidade como o Demolidor. Carregado pela moralidade – em decorrência principalmente por seu catolicismo -, o vigilante vermelho necessita enfrentar novos e antigos perigos que ameaçam a sanidade e o compromisso com a paz da população da cidade.

Ao fim da primeira temporada, o Demolidor consegue pôr Wilson Fisk na cadeia e assim, remanesce uma onda efêmera de paz e tranquilidade. No entanto, logo nos primeiros episódios se nota que ainda há muito por vir, principalmente por conta do Rei do Crime não mais controlar a cidade. Paralelo às gangues e à recorrência jurídica de Nelson & Murdock, surge na cidade outro ícone de vigilância.

Punisher

Eis o primeiro ponto inovativo e forte da série: o ex-fuzileiro naval Frank Castle deseja vingar a morte de sua família ao rechaçar violentamente o banditismo. A população se espanta com suas ações; dada esta visão, a mídia inicia a repercussão dos fatos e em decorrência ao tratamento da promotoria pública ao caso Castle, que é explicado posteriormente, surge o codinome que todos conhecem: The Punisher. Ponto curioso: pelo menos nas legendas da Netflix, não é traduzido. Interessante ponto para credibilizar a alcunha original.

Dividindo os treze episódios da segunda temporada, nota-se três arcos centrais, que funcionam como os cernes que definem as justificativas dos personagens novos e redobram as características dos personagens antigos. O primeiro arco foca-se na história do Punisher com o Demolidor. Os embates morais, os confrontos físicos e as divergências logo apresentadas nas ações; enquanto o primeiro é militarmente treinado e sua conduta se baseia só na perspectiva da punição, o demônio de Hell’s Kitchen ainda é abatido pela culpa, pela fé e pela bondade. O 3º episódio, talvez o melhor de toda a temporada, trabalham os dois separados mas tentando uni-los. Não como amigos mas sim, a compreensão nas atitudes, principalmente as de Castle.

Os court episodes tem maior presença nesta temporada, criando a plataforma de espaço a Foggy e Karen, esta última, conduz brilhantemente seu arco, que explora também sua empatia e sensibilização para com The Punisher. Foggy (Elder Hanson) é irregular, contrastando momentos altos e outros, esquecíveis. Também na exploração desses elementos no roteiro é onde se analisa a instabilidade contínua da série, que se arrasta em alguns compostos da primeira temporada, como uma performance de afirmamento.

A partir do quarto episódio, onde Matt e Karen iniciavam um romance e com isto, caracterizando a aproximação dos personagens, o que vai contra os ensinamentos prévios de Stick, mestre de Matthew, que também reaparece nesta temporada para explicar o real plot do arco geral, é quando surge o maior contrapeso emotivo do Demolidor: Elektra Natchios: antiga paixão na época da faculdade, também treinada por Stick, mas que se tornou uma assassina.

elektra

No entanto, se vê o desperdício de personagem ao analisar a trama de Elektra dentro da série. Inserida no começo de maneira aleatória e sem exatos motivos e, mesmo que por conta de um fato que é contado ao final da temporada, contabilizam não somente problemas da trama, mas também da construção do personagem. Sem denotação machista, quando criada por Frank Miller, fora designada a entrar no cânone de femme fatalles. No entanto, não há esforço nenhum para não somente estruturar sedução e empatia mas também a questão da feminilidade se perde em meio à escada para a ascensão de Matt e a construção paternal entre ela e Stick.

Elektra conta à Matthew que a Yakuza (artifício inventado por ela) não saiu em definitivo de Hell’s Kitchen. Mas esta organização na verdade, é chamada de “A Mão”. Antiga, sua crença baseia-se em pontos místicos, como a imortalidade e a ressurreição, além de endeusarem o “Céu Negro”, uma divindade que carrega em sua linhagem e sangue, habilidades descritas previamente e também, de liderar a seita asiática. Atualmente, a organização é liderada por Nobu, o ninja assassino que aparentemente fora morto por Demolidor em uma emboscada de Fisk na primeira temporada. Ele retorna à vida e comanda a seita em busca de Elektra.

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Dado os cânones da temporada, encontra-se de imediato as irregularidades. Treze episódios esticam a trama, que poderia ter sido enxugada e contada descritivamente melhor se caso fossem dez. Charlie Cox e Deborah Dan Woll intensificam a química em suas ótimas atuações; Charlie performa um excelente Demolidor, impondo suas questões éticas e morais, além da crença. Jon Bernthal está bem, faz uma interessante e segura atuação, mas não se pode dizer que tenha sido um perfeito Punisher.

Ao início dos rumores da segunda temporada, se cobrava um maior tempo de participação da enfermeira Claire Tempe, interpretada pela ótima Rosario Dawson. Além de se relacionar com quase todos os personagens principais, é um catalisador emotivo de Matt. Sua atuação é mais participativa e é mais relacionada a momentos de ação, além de não comprometer a identidade do Demolidor. Houveram aparições que não trouxeram bons acréscimos, como o próprio Wilson Fisk. Suspeitava que quando ele aparecesse, a série iria adaptar o arco dos quadrinhos “Punisher Max”, que conta a história de Frank atuando como uma espécie de guarda-costas pessoal do Rei do Crime. Pura expectativa.

O saldo final traz características já estabelecidas na primeira temporada, como uma assinatura, especialmente na fotografia escura, saturada e em montagem rápida – desnecessária em alguns momentos, principalmente nas cenas de diálogos – e a manutenção dos personagens. A adição de elementos e personagens novos deram sobrevida ao cenário do universo do Demolidor.

Confira o trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=m5_A0Wx0jU4

Bônus – Luke Cage

Ao final da temporada, a Netflix disponibiliza um teaser sobre a mais nova série da linha Marvel, Luke Cage. Aos poucos, ele era introduzido dentro de todo o universo da séries adaptadas dos quadrinhos. Em quase trinta segundos, há a demonstração de poder e o típico humor sarcástico do humor do herói do Harlem.

Adolfo Molina

Jornalista hiperativo, estranho e que ama falar e escrever. Sou o que sempre busco ser. Comunicar e mudar as pessoas. Levar o bem através de tudo que amo!
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