CRÍTICA DE SÉRIE | Em sua 1ª temporada, ‘O Exorcista’ garante boas atuações, surpresas pelo caminho e um excelente clima de terror
Bruno Cavalcante
Foi ao ar na última sexta-feira (16), o episódio final da primeira temporada da série O Exorcista, nos Estados Unidos. A produção que considerou retomar todo aquele clima sombrio do filme de 1973, começou muito bem, mas aos poucos foi perdendo a audiência, chegando a apenas 1,84 milhões de telespectadores em seu episódio final, e uma audiência de apenas 0.6 na TV americana. Se considerarmos apenas os números, podemos dizer que a série foi um fracasso total, porém se pegarmos pelo conteúdo, talvez a coisa seja diferente.
Este texto possui SPOILER
Baseada na obra de William Peter Blatty, O Exorcista nos trouxe um adorável revival, um clima bastante favorável para os amantes do gênero de terror e os fãs do longa. Em seu primeiro episódio somos apresentados ao novo roteiro, com a introdução do Padre Tomas, vivido pelo ex-RBD Alfonso Herrera, a mãe de família Angela Dance (Geena Davis) e o controverso Padre Marcus (Ben Daniels). Os grandes protagonistas da trama.
Já neste início temos uma cena de exorcismo muito bem trabalhada, com Padre Marcus tendo de lidar com uma poderosa entidade que havia possuído o corpo de um menino. Vemos então razão da série existir, com uma excelente maquiagem, produção, além de atuações que colaboraram para que esse tipo de cena realmente chegasse a ser um plus dentro da trama. No entanto, o drama central não se concentrava ali, mas sim na família de Angela Dance, com a suspeita de possessão de uma de suas filhas. No começo as suspeitas se concentravam em Katherine (Brianne Howey), no entanto, a partir de uma sequência completamente aterrorizante, quando Padre Marcus decide investigar barulhos estranhos vindos do sótão, é que temos a certeza de que quem está possuída não é Kathy, mas sim Casey (Hannah Kasulka). Admito que este final de episódio me deixou todo arrepiado.
A partir do momento em que a dúvida da possessão deixa de ser um mistério, a série começa a se tornar pouco atraente para os telespectadores, e passar a cair em um marasmo sem fim, com apenas poucas cenas realmente convidativas. Mas tudo começa a mudar a partir do quinto episódio, com a chocante revelação de que Angela é na verdade Regan MacNeil, a menina possuída do filme da década de 70. Esta verdade trouxe um novo ânimo para a série, incluindo a presença da mãe de Regan, Chris MacNeil, vivida pela experiente atriz Sharon Gless.
A ligação direta com o filme original, o que também poderia ser algo perigoso – afinal, um clássico é sempre um clássico – não decepcionou e verdadeiramente reanimou toda a trama. A ideia de trazer de volta Pazuzu, o demônio que havia possuído Regan no passado, foi certamente o ponto chave. Daí conseguimos entender o real motivo de todo aquele alvoroço como sendo a própria Regan, a obsessão de Pazuzu desde que o mesmo havia sido retirado do corpo da protagonista ainda criança. Pazuzu na verdade decidiu usar Casey para pode atingir Regan, e no final das contas podemos dizer que ele conseguiu.
Acredito que a ideia de retratar o demônio como um ser humano comum (vivido por Robert Emmet), ao invés de colocá-lo com uma aparência mais assustadora, pode ter sido uma atitude cheia de prós e contras. Afinal, uma caricatura menos apresentável talvez tivesse atraído um pouco mais a audiência, mas no fim, também não chegou a prejudicar a série, e talvez tenha até agregado no sentido mais particular da trama, com uma melhor interação entre os personagens.
Falando nisso, uma das cenas mais primorosas de O Exorcista acontece quando Regan é confrontada por Pazuzu em sua mente, recordando o momento em que deixou-se ser suscetível à possessão quando mais jovem, enquanto brincava com um tabuleiro de Ouija. Ali entendemos que a escolha de Regan não teria sido porque ela é especial, mas simplesmente devido a mesma estar no lugar errado, fazendo a coisa errada, o que proporcionou que ele a escolhesse. Uma falta de sorte se assim podemos dizer.
A série chegou a ensaiar uma trama paralela com a aparição do clero como sendo um tipo de segundo vilão, corruptível e assossiado à uma seita satânica. No entanto, o núcleo não chegou a ser trabalhado com a devida importância e apenas deixou uma brecha para talvez uma segunda temporada. Tivemos também uma cena na qual Marcus é mostrado trocando olhares com um outro homem dentro de um bar, o que daria a entender que ele seria gay. Mas isso foi simplesmente abafado desde então. Já a relação extraconjugal de Tomas serviu apenas para estabelecer um caos na convicção religiosa do mesmo. Sem tanto drama talvez.
No quesito atuação, O Exorcita praticamente não teve do que reclamar. Destaques para os trabalhos de Geena Davis, que apesar de um pouco prejudicada após tantas cirurgias plásticas, conseguiu manter o nível dramático de sua personagem. Já Ben Daniels e Hannah Kasulka foram verdadeiramente os melhores. As cenas de possessão de Kasulka eram completamente intensas e quase verídicas, e em um momento no qual se pedia uma maior entrega por parte da moça, a jovem atriz conseguiu elevar as expectativas até o seu limite. Alfonso Herrera apesar de não ter ido mal, só não conseguiu brilhar como o protagonista central da história como deveria ter acontecido. Seu Padre Tomas acabou definhando com o passar do tempo, perdendo espaço para outros personagens até menos relevantes.
Já o ápice de O Exorcista com a possessão de Regan pela segunda vez, o que não foi uma novidade até, serviu para nos introduzir a um final completamente bem articulado, cheio de efeitos especiais, boas atuações e um ótimo clima de terror. Uma pena a série ter ido tão mal na audiência, pois acredito que ainda tenha bastante coisa a ser explorada dentro dela. Todavia, torcemos pelo seu retorno. E que venha uma segunda temporada!
Trailer: