Crítica de Série | The White Queen
Stenlånd Leandro
A série histórica deste nosso amado inverno vem sem dúvida realçar a importância que as produções europeias têm sido no quesito de ser autenticidade aos fiéis do molde épico. The White Queen traz de novo à televisão as intrigas da corte real inglesa – neste caso do século XV – e o tempo que precedeu a ascensão ao trono de Henry VII (pai do rei Henry VIII, cuja vida foi retratada em The Tudors). Desenvolvida apenas para ser uma minissérie, com apenas 10 capítulos (INFELIZMENTE, tudo que é bom acaba rápido. Foi assim com Stargate Universe, The Tudors, Borgias, etc etc), posso afirmar que valeu a pena cada episódio (apesar do primeiro ter sido o mais chato de todos, mas com final épico).
Escrita por Emma Frost e produzida pela Company Pictures, numa colaboração entre os canais BBC1(Reino Unido) e Starz (E.U.A), a série é inspirada na obra literária homônima de Philippa Gregory. É o primeiro título da saga literária The Cousin’s War que retrata as batalhas realizadas no seio de uma família pela luta pelo trono de Inglaterra, durante a época que ficou conhecida como The Wars of the Roses. As ações de Edward da casa York (Max Irons), que reclamava o trono do Inglaterra para si próprio, iniciaram um período conturbado, acabando por tirar Henry VI (David Shelley) do seu lugar e tornando-o o rei Edward IV. Contudo, muitos foram o que se opuseram a esta tomada do poder. A situação do rei piorou quando decidiu, de livre e espontânea vontade, casar com Elizabeth Woodville (Rebecca Ferguson), mais tarde conhecida como The White Queen, uma mulher de escalão social mais baixo. Richard Neville, conhecido como Lord Warwick (James Frain) e primo de Edward, é o primeiro a revoltar-se com a atitude do rei e a traí-lo. Por outro lado, os apoiantes do antigo rei aproveitam esta instabilidade para trazê-lo, junto com a sua família, de volta ao trono. A história vai nos sendo apresentada por meio de três protagonistas femininas:Elizabeth Woodville, Anne Neville (Faye Marsay), filha mais nova de Lord Warrick, e Margaret Regina Beaufort (Amanda Hale), católica fervorosa, apoiante de Henry VI e mãe de Henry Tudor, futuro Henry VII (pai do rei que ficou conhecido pelos seus numerosos casamentos e divórcios), algo retratado no seriado The Tudors.
The White Queen começa já com os Yorks no poder, no ano de 1464, que já era o nono ano da guerra, quando Edward IV (Max Irons) é coroado o rei da Inglaterra. Ele é o rei, mas, como mencionado, segue à risca as ordens do seu primo Lord Warwick (James Frain), que o manipula. Logo de início Edward se apaixona pela jovem viúva Elizabeth Woodville e, antes de partir novamente pra guerra, se casa secretamente com ela. Ao fazer isso, ele começa a perder seus apoiadores, incluindo seu primo Warwick.
De encontro à série, ter um Kingmaker (Criador de Reis) ao seu lado nem sempre é algo bom, afinal Lord Warwick (James Frain) simplesmente é uma espécie de Coringa… Sempre articulador fazendo com que traições aconteçam para beneficiar sempre o seu “nariz” no fim de tudo, levando inclusive ao trono uma de suas filhas. Enquanto isso, Elizabeth Woodville (Rebecca Ferguson), Margaret Regina e Anne Neville se matam para manter o reinado em cada família, sendo algumas da casa Lancaster e outras da York. Sinceramente é uma confusão tamanha que roteirista, diretor e produtor não se preocupam em manter tudo para o finalzinho do episódio, criando uma avassaladora avalanche assombrosa a cada momento passado pelo capítulo. E se “Game of Thrones” já foi um real jogo entre interesses entre os protagonistas da série, aqui o ”buraco é mais embaixo”!!!
Enredos temáticos sobressaem a todo instante. Quando se pensa que um é rei, no mesmo episódio houve no minimo umas três reviravoltas para que o poder mudasse de mão ou que a rainha viesse a ser outra. Se hoje confiar na família é complicado (vide Felix tentando tomar a fortuna do Pai Soberano na novela das 9 com seus contratos superfaturados), ou até mesmo em filmes e séries do gênero, antigamente ser gato escaldado era um mero acaso das consequências do dia-a-dia. Afinal, dormir Rei e acordar sendo trancafiado na masmorra perdendo o trono parece algo totalmente cômico.
Os fatos apresentados tanto na obra como na série são o mais real possível. Todas as intrigas e personagens não são inventados, o que dá algum suporte à história do programa. Apresentada de uma forma mais romantizada, é normal que alguns historiadores possam discordar da maneira como os fatos são apresentados, mas não nos podemos esquecer que são obras de ficção. E neste aspeto tenho que vangloriar o trabalho de quem escreveu o roteiro, afinal, conseguiu captar na íntegra os aspectos mais importantes da época. É de longe o que “Game of Thrones” nunca dará à minha pessoa: uma noção de realidade, por mais ficção que venha a ser. Apresentar a história do ponto de vista de mulheres, que naquela altura eram subjugadas ao poder dos pais e maridos, é muito interessante. Mostra como as rainhas desempenharam um papel muito importante no comando do reino.
Em relação ao elenco, ele foi escolhido a dedo. Um cast perfeito. Se a caracterização poderia ter sido melhor neste parâmetro? Poderia sim, mas nos dias de hoje o “fator” beleza é desvalorizado, uma vez que na sua maioria, os atores são pessoas que têm muito cuidado com a sua aparência. E uma vez que seria devemos avaliar as performances, penso desnecessário esse tipo de crítica. As atuações, de um modo geral, são todas excelentes, independente de beleza ou não. O elenco foi realmente muito bem escolhido e apresentam todos uma forte componente emocional que transcendem para os seus personagens. Todos conseguem ser únicos e dar destaque a sua personagem sem recorrerer à excentricidade, o que acho bastante agradável.
Uma das características de The White Queen que me agrada imensamente é a utilização de cenários físicos ao invés de criações feitas por computador, diferente do que vimos em “Merlin”, que era algo bem mais surreal. Torna a experiência de visualização muito mais agradável e dá um sentido mais verossímil à ação. O que mais me satisfez nesta série é o fator de optar por não usar cenas demasiadamente rústicas e despudoradas. Sim sim, o uso de cenas de sexo são contidas até um certo ponto, há nudez, mas há sentimento nas cenas e não somente o sexo explicitamente exibido.
Posso afirmar que as mulheres comandaram o seriado, que o tornou mais interessante ainda. Mesmo sabendo que as o sexo feminino antigamente influenciava por demais muitos homens no poder, o ponto de vista delas na TV sempre foi pouco explorado. Ter ter visto em The White Queen a articulação usada pela protagonista e as demais coadjuvantes fez desta série uma grande narrativa repleta de amor, perdas, sedução, traição e morte, contada através da perspectiva de APENAS três mulheres. Mas essas não serão somente as mulheres que terão destaque. Outra que rouba a cena é a filha do Lord Warwick, que casa como irmão mais jovem do rei, Richard, o Duque de Gloucester (Aneurin Bernard) e vira uma peça no jogo de poder de seu pai. Envolto desta loucura, afirma-se que Anne Neville seria uma espécie de Ana Bolena…Eu duvido muito que seja parecido, pois ela se dá ao respeito e é estéril.
Outro aspecto que me fez amar ainda mais esta série foram os diálogos: simplesmente soberbos. Imagine ouvir de Lord Warwick “That is what you get when you put the devil on the throne”, ou seja “Isso é o que você ganha quando põe o demônio no trono”. Ou quem sabe uma sábia frase da ex-rainha Elizabeth Woodville dizendo a seu filho “A vingança atrai mais vingança e a batalha traz a morte” (frases adicionadas no último episódio da série). Simplesmente fora do comum, certo?
Portanto, o que posso resumir deste épico seriado é que um real jogo de tronos acontece aqui em apenas 10 episódios, de forma conturbada, real, leal para amantes do gênero. Estou feliz e triste ao mesmo tempo. Alegre por terem feito algo muito bom e desconte pois, infelizmente, The White Queen não atingiu os números desejados pelas emissoras BBC / STARZ e não terá continuidade. Por fim, recomendo
Stenlånd Leandro
Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!NAN