CRÍTICA | ‘Diamantino’ é uma comédia inteligente e tem os efeitos visuais mais fofos do ano <3

Bruno Giacobbo

Vencedor do Grande Prêmio da Semana da Crítica do último Festival de Cannes, Diamantino, dirigido pela dupla de realizadores lusitanos Gabriel Arantes e Daniel Schmidt, é um longa-metragem arriscado porque atira para diversos lados. Ele é, simultaneamente, uma crítica a jogadores de futebol e aos seus empresários; um manifesto contra a xenofobia europeia tão em voga por causa da questão dos refugiados; e uma obra que trata do empoderamento feminino ao ter um elenco basicamente composto por mulheres fortes. Filmes assim, que se pretendem bastante amplos, invariavelmente, só tem dois caminhos a seguir: ou são um sucesso; ou são um fracasso. Munido de uma grande curiosidade, que foi me despertada tanto pelo comentário de alguns amigos, quanto pela láurea recebida, fui ver esta película peculiar e voltei para casa certo de que ela é tudo aquilo que dizem e mais um pouco.

Diamantino (Carloto Cotta) é o maior jogador de futebol do planeta. Craque de Portugal, ele vive a melhor fase da carreira e está prestes a conquistar a Copa do Mundo. O palco desta possível conquista é a Rússia e os portugueses acabaram de avançar para a grande decisão, com um gol do craque, na vitória sobre o Chile. No entanto, o filme começa com uma narração em off, em que o protagonista fala de seu pai e do amor deste pela arte sacra. Na falta de um novo Michelangelo e de uma Capela Sistina a ser pintada, ele é levado a acreditar que os estádios de futebol são os novos templos e que os jogadores são os novos artistas. E é assim que o gênio se vê: como um pintor renascentista que faz magia com a bola. E é desta maneira que descobrimos que ele é um homem solitário, apesar de morar com o pai, suas irmãs Sonia (Anabela Moreira) e Natacha (Margarida Moreira); e o seu gato Pirruças.

Tudo vai bem até o craque luso descobrir que nem todo mundo goza dos mesmos privilégios que ele. Entre a semifinal e a final do Mundial, Diamantino entra em contato com refugiados africanos e isto toca o seu coração. E aí, do nada, o jogador, que está sendo investigado por suspeita de sonegação fiscal pelas policiais Aisha (Cleo Tavares) e Lucia (Maria Leite), perde os seus superpoderes. Sim, superpoderes. Dentro de campo, sempre que está inspirado, ele vê lindos cachorrinhos felpudos em meio a uma névoa cor de rosa. O surgimento desta visão (e o filme não nos deixa só na imaginação, os animaizinhos aparecem na telona, fruto de um dos melhores e mais fofos efeitos visuais do ano) é garantia de sucesso, de gol e, consequentemente, de vitória. Acontece que subitamente ele para de ter estas visões, sem estas, os triunfos somem e a sua vida, fora da cancha, desmorona por completo.

Diamantino, Pirruças e Aisha.


Apesar de ter em seu escopo temas tão importantes, Diamantino é uma comédia escrachada e das mais inteligentes. Esta inteligência vem do fato de conseguir fazer graça com as situações abordadas por suas pautas. Carloto, que está a cara do Cristiano Ronaldo, dá vida a um jogador bobão e com alma de criança. O oposto do estereótipo de craques marrentos que conhecemos. Paralelamente, Aisha é crítica, dona de opiniões fortes, mas não se furta em questionar suas convicções se confrontada por fatos. Ou seja: ela entende que as pessoas vão além dos rótulos. A compreensão desta verdade, algo que falta a tantos militantes da atualidade, fica ainda mais cristalina quando o filme não se exime de polêmica ao retratar suas inúmeras mulheres como boas e más, porém, antes de tudo, falhas. É errando que se acerta. Contudo, é sem erros que o roteiro costura tudo e nos presenteia com um inusitado romance.

Desliguem os celulares e excepcional diversão.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Diamantino
Direção: Gabriel Arantes e Daniel Schmidt
Elenco: Carloto Cotta, Cleo Tavares, Maria Leite, Anabela Moreira e Margarida Moreira
Distribuição: Vitrine Filmes
Data de estreia: qui, 20/12/18
País: Portugal, Brasil e França
Gênero: comédia
Ano de produção: 2018
Duração: 92 minutos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN