Dolittle

‘Dolittle’ (2020) | CRÍTICA

Mayara Ferreira

Para quem pensa em ir aos cinemas influenciado pelos filmes lançados nos anos 90, um aviso: a única semelhança entre essas histórias é o título. Na verdade, o Dolittle da franquia protagonizada por Eddie Murphy está muito distante do personagem da série de livros criada pelo escritor inglês Hugh Lofting no começo do século XX, do qual apenas herdou o nome e a capacidade de falar com animais.

O novo lançamento mais se assemelha ao musical “O fabuloso Doutor Dolittle”, lançado em 1967. O longa foi protagonizado por Rex Harrison, que também estrelou o sucesso “My Fair Lady” com Audrey Hepburn.

De certo, esperávamos uma aventura épica e grandiosa com o trailer. Mas, infelizmente, o ótimo design de produção do longa não foi suficiente para dar credibilidade a um roteiro que deixa bastante a desejar. Além disso, com o fracasso de bilheteria nos Estados Unidos, o remake da Universal Pictures não convence e perde seu potencial com uma narrativa pouco empolgante.

A Trama

Basicamente, temos uma história assim: o Dr Dolittle se encontra recluso em seu santuário de animais exóticos após da morte da sua esposa. Assim, ele é convocado pela rainha da Inglaterra, que se encontra severamente doente. A sua missão: sair à procura de uma ilha fantástica onde existe um fruto que pode ser a única cura para sua misteriosa doença.

A partir daí, o excêntrico doutor “entra em apuros” constantemente, e consegue sempre sair são e salvo  das “enrascadas” com a ajuda de seus amigos animais, com quem, aliás, ele conversa.

É com essa trama medíocre que acompanhamos um filme que pode ser um dos piores lançamentos do cinema infantil da década. Com um roteiro recheado de “deus ex machina” que parece desafiar nossa inteligência e cenas tolas como uma gaita de fole sendo retirada do ânus de um dragão constipado, temos uma história com desfecho previsível, que se perde em seus atos e não atende à expectativa de uma verdadeira narrativa épica.

Elenco não sustenta narrativa de Dr. Dolittle

Robert Downey Jr. parece se encaixar perfeitamente em papéis de personagens excêntricos, que ganham o carisma do público justamente pelos seus erros e confusões. No entanto, o carisma do ator não foi capaz de salvar sua atuação com um Dr. Dolittle forçado, que falhou terrivelmente no sotaque britânico, em cenas que formavam um protagonista raso e nada cativante.

A diversão do roteiro, nos raros momentos que soava convincente, é atribuída aos animais que, com um grande elenco de dubladores, como Marion Cotillard, Rami Malek, Emma Thompson e Octavia Spencer, conseguiram tornar a história menos enfadonha, mas, ainda assim, não salvaram o longa.

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Tudo forçado

Até os desenvolvimentos psicológicos dos personagens, como o empoderamento do Gorila Chee-Chee, bem como a própria superação do médico sobre a morte de sua esposa, soam forçados, quando temos uma narrativa fraca e nada convincente.

Em suma, Dolittle acabou decepcionando às expectativas. Não à toa, foi massacrado pela crítica internacional e tem seu prejuízo praticamente decretado. Ainda assim, fica o questionamento: o que Robert Downey Jr. tinha na cabeça quando resolveu participar dessa empreitada?

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Dolittle
Direção: Stephen Gaghan
Produção: Susan Downey, Jeff Kirschenbaum, Joe Roth
Produção executiva: Robert Downey Jr., Jon Mone, Sarah Bradshaw
Elenco: Robert Downey Jr., Antonio Banderas, Michael Sheen, Jim Broadbent, Tom Holland, Selena Gomez, John Cena, Kumail Nanjiani, Rami Malek, Craig Robinson, Carmen Ejogo, Marion Cotillard, Ralph Fiennes, Octavia Spencer, Emma Thompson
Distribuição: Universal Pictures
Data de estreia: qui, 20/02/20
País: EUA
Duração: 101 minutos
Gênero: comédia, fantasia, aventura
Ano de produção: 2019
Classificação: 10 anos

Mayara Ferreira

Publicitária, amante de cinema e conversas filosóficas de bar. Ama a epifania gerada pela 7ª arte e, por isso, resolveu começar a escrever sobre. Como boa cinéfila, não assiste filmes dublados e perturba os amigos até conferirem suas indicações. Mas, no fundo, é uma pessoa legal.
NAN