CRÍTICA | ‘Doutor Estranho’ é um dos melhores filmes de heróis já feitos

Stenlånd Leandro

É uma alegria e tanto saber que o cinema voltado para os blockbusters de heróis não está tão saturado quanto se imaginava. Se por um lado há diversos fiascos como “Lanterna Verde” e “Superman – O Retorno”, é neste longa que tudo que você conseguiu ver até agora (neste gênero) não deixa de ser uma mera ilusão de ótica. Aliás, fica difícil saber o que é real ou não no mundo do Doutor Estranho.

ATENÇÃO: SÃO DUAS CENAS PÓS-CREDITOS

Poucos sabem até hoje como ele apareceu nos quadrinhos. Foi de forma secundária em Strange Tales #110, de julho de 1963 que o ‘mestre dos magos’ veio dar as caras. Foi neste gibi também que ele dividiu a publicação #114 com o Tocha Humana até a edição #135, quando passou a dividi-la com Nick Fury. Assim como temos o caso de outros heróis serem secundários nos Vingadores (Máquina de Guerra, Visão, Feiticeira Escarlate), Doutor Estranho também, por muito tempo, foi um personagem secundário. Somente em junho de 1968, no número 169, que a Strange Tales teve seu título alterado para seu respectivo nome.

Partindo desta introdução e indo diretamente ao filme, podemos mencionar que a trama de origem retrata muito bem o herói. De cara, sua história é chocante, tem um drama bem balanceado, sua ironia com os demais é praticamente a mesma dos gibis, assim como sua prepotência. A menção ao multiverso é extremamente positiva e destaca o visual do longa-metragem, com sequências elaboradas e alucinantes de efeitos visuais, ótimas interpretações lideradas por Benedict Cumberbatch e um inesperado tom de humor lindamente anti-corrosivo.

Elementos já vistos em “A Origem”, de Christopher Nolan, e a trilogia “Matrix” são inseridos na imaginação daquele que for ao cinema se maravilhar com este filme. O uso de efeitos especiais é mais do que necessário para que possamos imergir no universo do mago supremo da Marvel. Pensava-se que com a adição do vilão Mandarim em “Homem de Ferro 3”, poderíamos ver por lá o lado místico do estúdio com a possível chegada do dragão Fing Fang Foom. Entretanto – como todos sabemos -, não foi o que aconteceu. O misticismo adotado na película é uma adição fascinante. Esse conceito das artes místicas e esse tipo de realidade multidimensional que não foram vistos em nenhum dos outros filmes faz deste longa uma obra-prima sem precedentes.

Enquanto é possível viajar neste universo mágico que remete a Harry Potter, outro fator importantíssimo para o sucesso do longa foi a escalação de alguns atores. O potencial de Cumberbatch não somente em “Star Trek” foi exemplar, mas também em ótimas atuações provindas da série do maior detetive de todos os tempos: “Sherlock Holmes”. Como se não bastasse o protagonista, temos também a presença de Benedict Wong, que passa de criado a guardião do conhecimento de Kamar-Taj, vivendo um personagem que leva seu sobrenome como nome principal (Wong). A atuação de Wong como ator continua me surpreendendo. Ele teve uma aparição curta em “Perdido em Marte”, mas marcante. Foi breve também a sua atuação em “O Retorno de Johnny English”, mas foi em “Marco Polo”, série da Netflix, vivendo Kublai Khan (neto de Gengis Khan) que conquistou total respeito. Chiwetel Ejiofor, indicado ao Oscar por sua atuação em “12 Anos de Escravidão” tem uma atuação rasa, mas eficaz para aquilo que o é determinado a fazer. Em Doutor Estranho, o ator interpreta Mordo, um dos personagens que sofreu alterações entre os dois meios. Já o personagem do Ancião, um ser místico que assume o papel de mentor de Strange e é retratado nos quadrinhos como um homem asiático, aqui é vivido por ninguém menos que Tilda Swinton. Fica claro que a atuação dela também não chega ser lá grandes coisas, mas não deixa a desejar.

O longa tem uma retratação implacável sobre as dimensões paralelas que são desbravadas durante as ‘duas horas e um pouquinho’ de filme. É uma verdade que o público não aguenta mais histórias de origem, mas por mais que esse seja o filme #1 do mago, não há como dizer que já está enjoado da obra por ter um famoso início, meio e fim. O mundo de Strange é por demais bizarro – MESMO – e seus feixes interdimensionais, anéis, a Capa da Levitação e efeitos da Dimensão Escura (que não tem nada de escura) fazem com que você fique se perguntando: MAS QUE PORRA É ESSA? Para quem for assistir ao filme nos cinemas, é preciso ter em mente que, se muitos por aí questionaram os entendimentos de “A Origem”, a insanidade provinda da imaginação em “Sucker Punch”, de Zack Snyder, e a intensa adição de efeitos especiais provindos do gênero “Matrix”, é em Doutor Estranho que seu cérebro dá um bug e você fica assim: ”CARALHO, QUERO VER ESSA CENA DE NOVO, NÃO ACREDITO QUE ISSO ACONTECEU!”. Isso por que FINALMENTE o 3D funciona (EBA!).

A direção de Scott Derrickson é boa, muito boa mesmo, mas o roteiro deixa a desejar em sua trama um tanto fraca. As razões pelas quais ele começa a questionar sua mentora acabam, de certa forma, tornando Estranho em um vilão indireto. Com tantos questionamentos, Mordo – que era seu aliado – torna-se alguém tão complexo quanto Kaecilius é durante o filme. Na verdade, tanta pergunta sobre a imortalidade da Anciã acaba levando-os a um terrível e irreparável destino.

– Porra to puto! Apesar de ser um filme ‘praticamente’ impecável, há de se mencionar aquilo que não costumo gostar tanto em filmes de heróis: as batalhas finais. Enquanto em “O Homem de Aço” e “Batman vs Superman” temos aquele vilão exagerado espatifando praticamente toda uma cidade (SIM, ELES TÊM PODER PRA ISSO E ISSO PRECISA SER EXPLORADO), é o vilão fracote chamado de (Kaecilius) vivido pelo dinamarquês Mads Mikkelsen em Doutor Estranho que me irritou profundamente. Esse vilão sequer é conhecido no mundo da Marvel. Kaecilius foi um poderoso mago que lutava ao lado de Wong e dos outros mestres das artes místicas. Ele se separa dos companheiros quando, ao investigar um roubo, consegue ficar ainda mais poderoso. O personagem usa duas adagas como arma principal. Não o vi tão poderoso assim, sequer é uma ameaça que um simples Homem de Ferro não pudesse dar jeito. Aliás, fica difícil saber qual o pior vilão da Marvel (de ser uma péssima escolha e não ser imponente): Blackheart, do “Motoqueiro Fantasma”, Mandarim, de “Homem de Ferro 3”, ou Ronan, de “Guardiões da Galáxia”. Dormammu também aparece no longa e é um ser místico superpoderoso que vive nas profundezas de um mundo de pesadelos de outra dimensão, mas não é tão bem usado. O dotes grandiosos do maior arqui-inimigo do Doutor Estranho (assim como Lex para Superman e Coringa para Batman) rendem grandes batalhas. O vilão tem a cabeça flamejante e vermelha, parecida com a do Motoqueiro Fantasma, mas seus efeitos não foram tão bem usados neste filme e acaba sendo uma figura caricata, fraca (apesar de grande), não sendo aquela ameaça imponente como você imagina no início. Confessemos que vilão bom mesmo da Marvel foi, talvez, o Soldado Invernal de “Capitão América”. Particularmente, sempre quis que as lutas finais contra os vilões demorassem o tempo que durou a luta Zod vs Superman, ou até mesmo a luta do Bane com o Batman. Não consigo entender um filme que possui vilões com características tão absurdas e dimensionais como Kaecilius e Dormammu e, no fim, a luta final com eles sequer existir, não dar tanto trabalho e não mostrarem ter tantos poderes assim pra destruirem um mundo inteiro. É um ponto negativo o mau uso dos vilões em plena fase 3 do MCU.

E assim, com um personagem protagonista meio que largado às traças no passado das HQ’s, apesar de breves defeitos -praticamente imperceptíveis -, Doutor Estranho é mais um grandioso filme de herói do estúdio, ficando atrás apenas (e ainda) de “Capitão América: Soldado Invernal”. Pelo lado ‘místico da força’, é – sem sombra de dúvidas – uma obra de arte.

Desliguem seus celulares, não esqueçam da pipoca, do refrigerante, do amendoim, dos óculos 3D e deixem a imaginação fluir, pois o filme é bem louco!

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

Título original: Doctor Strange
Direção: Scott Derrickson
Roteiro: Jon Spaihts, Thomas Dean Donnelly, Joshua Oppenheimer
Elenco: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams
3D
Distribuição: Disney
Data de estreia: qui, 03/11/16
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2016

Stenlånd Leandro

Leandro não é jornalista, não é formado em nada disso, aliás em nada! Seu conhecimento é breve e de forma autodidata. Sim, é complicado entender essa forma abismal e nada formal de se viver. Talvez seja esse estilo BYRON de ser, sem ter medo de ser feliz da forma mais romântica possível! Ser libriano com ascendente em peixes não é nada fácil meus amigos! Nunca foi...nunca será!
NAN