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CRÍTICA | ‘Duas Rainhas’

Fernando Coutinho

Século XVI:

“Mary Rainha da Escócia nasceu Católica. Como os Protestantes lutavam pelo controle da Escócia, a infante Mary foi enviada para a França católica. Aos 15, ela se casou com o herdeiro do trono francês.
Aos 18, Mary ficou viúva e voltou pra casa. A Escócia era agora dominada pelos protestantes, e governada pelo seu meio-irmão.
Elizabeth é a Rainha Protestante da Inglaterra. Por nascimento, Mary tem um forte direito ao trono da Inglaterra. Sua simples existência ameaça o poder de Elizabeth.”

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Essa é a introdução de Duas Rainhas (Mary – Queen of Scots). Baseado em fatos reais, o filme narra, a princípio, o embate político-religioso entre duas figuras históricas: Mary Stuart (Saoirse Ronan), rainha da Escócia e Elizabeth I (Margot Robbie), rainha da Inglaterra em meados do século XVI. Torna-se bem claro, logo nas primeiras cenas de cada uma das rainhas, os seus perfis: uma idealista – e ao mesmo tempo romântica – e emocionalmente movida Mary, e a racional e política – e um tanto atormentada emocionalmente por suas escolhas – Elizabeth.

Os figurinos e detalhes da produção que nos remetem diretamente aquela época num apuro visual impressionante. Belas locações são usadas e mostradas ocasionalmente, de uma forma complementar e não apenas como preenchimento de tela. Mas vai além: uma parte significativa do enredo é apresentada visualmente.  Situações-temas como estupro marital, agressão contra mulher, relacionamentos homossexuais são apresentados em cenas de poucas ou nenhuma palavra, ao mesmo tempo de certa forma sutil mas ainda assim, impactante.

Foto: Universal Pictures / Divulgação

Algo que chama atenção, no entanto, é que apesar do apuro visual vemos um elenco secundário multi-étnico que não condiz com o que se sabe da história (ao menos oficialmente), por opção da diretora Josie Rourke. A tendência da representativa é atual e mais que correta, mas fica inverossímil a Inglaterra ter um negro numa posição de alto destaque como um embaixador nos idos de 1500. Mas uma vez que Hollywood “embranqueceu” tantos personagens históricos ao longo dos anos, também não se pode condenar tal escolha.

Sem entrar em maiores detalhes sobre Duas Rainhas para evitar os temidos spoilers – se é que se pode falar nisso em um filme sobre fatos históricos de quase 500 anos – não se pode deixar de comentar a interpretação da protagonista Saoirse Ronan e da coadjuvante (que talvez devesse ser chamada de coprotagonista) Margot Robbie. Embora não cheguem a ser interpretações magistrais, transmitiram de forma bastante tocante e verdadeira as facetas de suas personagens. E destacaram sem muito esforço ou alarde a faceta comum a ambas as rainhas: o princípio feminista cultivado por elas, cada uma à sua maneira.

E é a partir das atitudes e consequências do posicionamento de cada rainha quanto aos seus princípios perante a corte e sociedade patriarcal, machista e misógina, vemos que, ao menos no filme, não havia exatamente uma rivalidade entre as Duas Rainhas. Eram duas peças – algumas vezes ativas, outras vezes passivas, e todas as vezes vítimas – das intrigas das nobrezas misóginas de cada reino, temperada com uma boa pitada de intolerância religiosa (isso soa familiar a alguém?). Uma vencida por não se dobrar e perdendo a vida, a outra vencendo por ser flexível, mas perdendo a alma. E expressando isso em uma única frase: “Agora sou mais homem que mulher”.

::: TRAILER

::: FICA TÉCNICA

Título original: Mary – Queen of Scots
Direção: Josie Rourke
Elenco: Saoirse Ronan, Margot Robbie, David Tennant
Distribuição: Universal
Data de estreia: qui, 04/04/19
País: Estados Unidos, Reino Unido
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 124 minutos
Classificação: 16 anos

Fernando Coutinho

Profissional e professor de TI, é nerd desde antes do termo virar moda e da Internet ganhar o mundo. Antenado em tecnologia, literatura, filosofia, quadrinhos, filmes, séries, fotografia e boa música. Acredita que A Verdade Está Lá Fora e ao mesmo tempo dentro de cada um.
NAN