CRÍTICA | Estranho e belo, ‘Exilados do Vulcão’ peca apenas por sua longa duração
Wilson Spiler
Um homem deitado, exausto, sem fôlego sequer para se levantar. Uma mulher assiste a um casebre sendo tomado pelo fogo e chora. O início de Exilados do Vulcão já dá uma premissa do que o filme será: luta e dor. O drama dirigido por Paula Gaitán, que estreia na ficção e foi o grande vencedor do 46° Festival de Brasília, é uma produção bem diferente do que vemos atualmente no cinema brasileiro.
Gaitán foi a última esposa do grande Glauber Rocha (“Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Terra em Transe”) e traz referências ao seu ex-marido no filme. Mas o longa, que estreia nesta quinta-feira (28/04), bebe direto da fonte de nomes como Michelangelo Antonioni e – principalmente – Terrence Malick. A influência do diretor norte-americano, então, é vista em diversos momentos como em takes para paisagens mórbidas e supostamente aleatórias. A presença da natureza é notada a todo instante, o que torna a fotografia do longa uma das mais belas já vistas em produções nacionais. Aliás, tecnicamente, Exilados do Vulcão é um filme praticamente perfeito. Se ficamos encantados com o visual de “O Regresso”, podemos dizer sem exageros que este filme brasileiro não faz feio perante à produção hollywoodiana (guardadas as devidas proporções). Outros momentos que remetem a Malick são os longos períodos de silêncio. A película tem pouquíssimos diálogos, sendo pontuada pela excelente trilha sonora e, por vezes, pela narrativa do ponto de vista da protagonista feminina.
Não, Exilados do Vulcão não é cinema mudo. Longe disso. Mas é experimental, poético, intimista, tenso e angustiante. O caminho percorrido pela mulher atrás do amado deixa dúvidas se haverá um novo encontro, se um dia seus corpos se unirão novamente (o final responde isso – ou não), sobre quem foi e se há um “culpado” pela separação. É um filme de memórias, de busca por respostas do passado e definição do presente. Mas o longa não traz soluções, ou seja, tudo que concluímos é baseado em interpretações.
Com atuações excelentes, que exigem mais da expressão corporal do que apenas de uma fala bem postada, o longa peca apenas por sua duração. Com 125 minutos de projeção, Exilados do Vulcão acaba ficando um pouco maçante. A procura pelo amado é demasiadamente longa e há cenas desnecessárias. O final é bem resolvido, mas poderia ter sido antecipado. Assim como o brilhante “A Árvore da Vida”, da referência Terrence Malick, há risco de muitos cinéfilos abandonarem a sessão no meio por excesso de cenas.
Exilados do Vulcão é um filme estranho, diferente, mas belo, do tipo ame ou odeie. É para professores e estudantes de Cinema discutirem em sala de aula e usarem como referência. É um suspiro profundo que traz esperança para o cinema brasileiro. Há espaço para novos rumos na trajetória tupiniquim e um público ansioso por atrações diferentes. Embora estreie na semana do esperado “Capitão América: Guerra Civil”, reserve um espaço na sua agenda para essa produção nacional.
TRAILER:
FICHA TÉCNICA:
Gênero: Drama
Direção: Paula Gaitán
Roteiro: Paula Gaitán, Rodrigo de Oliveira
Elenco: Ava Rocha, Bel Garcia, Bruno Cesário, Clara Choveaux, Daniel Passi, Lorena Lobato, Maíra Senise, Simone Spoladore, Vincenzo Amato
Fotografia: Inti Briones
Montador: Paula Gaitán
Trilha Sonora: Edson Secco
Duração: 125 min.
Ano: 2013
País: Brasil
Cor: Colorido
Estreia: 28/04/2016 (Brasil)
Distribuidora: Livres Filmes
Estúdio: Franco Filmes