CRÍTICA | ‘Família Submersa’

Alvaro Tallarico

Uma família submersa em devaneios. Cada um com seus problemas.

Escrito e dirigido por Maria Alché, o filme Família Submersa (Familia Sumergida / A Submerged Family) é muito bom. Tem algumas passagens bizarras, frutos de momentos específicos da protagonista, Marcela, interpretada com maestria por Mercedes Morán. Sua atuação como uma mãe que acaba de perder a irmã e se vê em um momento sofrido e estranho – tendo ainda que lidar com todas as agruras familiares – dá gosto de ver. A morte ocorreu, mas a vida não para. Às vezes, nem dá tempo de viver o luto e o choro rompe nos momentos mais inesperados. O elenco, no geral, é excelente e afinado, dos jovens aos antigos.

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A câmera leva por uma intimidade onde o público é convidado a ver o cotidiano daquela família, com uma belíssima utilização da fotografia, velando e desvelando. Vamos vendo e acompanhando os problemas tradicionais que ocorrem em qualquer família. Segredos, mistérios. E as preocupações normais da rotina como o fim do namoro da filha, os deveres de casa e a infantilidade excessiva do filho mais novo, a outra filha que muitas vezes parece invisível. Marcela acaba encontrando uma válvula de escape quando conhece Nacho (Esteban Bigliardi), rapaz mais jovem que deveria sair em uma viagem profissional, mas acaba sendo pego por mudanças repentinas. A partir da aproximação dos dois, o filme sai um pouco do ambiente claustrofóbico do apartamento.

Família Submersa é recheado de momentos lúdicos e simbologias que brincam usando desde reações químicas até uma cobra trocando de pele. Referências aos momentos vividos por Marcela. O pai (Marcelo Subiotto) canta sua insignificância em meio ao descontrole e ignorância sobre os acontecimentos.

Foto: Esfera Filmes / Divulgação

A linguagem estética segue mais para um naturalismo com toques surreais. Uma mescla que muitas vezes causa certo estranhamento, contudo é algo que, juntamente com a atuação de Mercedes Morán, deixa o longa na mente por um bom tempo. Uma bela estreia na direção de Alché e é mais uma força para o cinema argentino. A cortina que esconde e revela, a fumaça do cigarro que se dissipa e, no final, deixa a sensação de que é melhor dançar conforme a música e seguir o baile.

Família Submersa estreia dia 4 de abril no Brasil e marca a estreia de Maria Alché (protagonista de “La Ninã Santa”, de Lucrecia Martel) na direção de longas-metragens. A Esfera Filmes é a distribuidora. A Pasto (Argentina) assina a produção, em coprodução com Bubbles Project (Brasil), 4 1/2 Films (Noruega) e Pandora Film Production (Alemanha).

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Familia Sumergida / A Submerged Family
Direção: Maria Alché
Elenco: Mercedes Morán, Esteban Bigliardi, Luiz Carlos Vasconcelos
Distribuição: Esfera
Data de estreia: qui, 04/04/19
País: Argentina, Brasil, Alemanha
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 91 minutos
Classificação: 12 anos

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
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