CRÍTICA | ‘Feito na América’ tem Tom Cruise gaiato e aura pop oitentista

Bruno Giacobbo

Em tempos de “Narcos”, existe um filme, com estreia marcada para esta quinta-feira (14/09), que tem tudo para fazer a alegria dos fãs que assistiram à terceira temporada da série da Netflix de uma tacada só e, agora, estão se sentindo órfãos. Eu estou falando de Feito na América (American Made), a nova produção estrelada por Tom Cruise e dirigida pelo competente Doug Liman, que tem no currículo preciosidades como “Identidade Bourne” (2002) e “Sr. & Sra. Smith” (2005). OK, depois do fracasso que foi o recente lançamento de “A Múmia”, imagino que muitas pessoas estejam ressabiadas e em dúvida se deveriam conferir outro longa do astro hollywoodiano tão cedo. O receio é pertinente e compreensível, porém, se há um trabalho dele que todos vocês deveriam prestigiar este ano, é esta nova película. Ficaram curiosos? Então, vou provocá-los ainda mais: tem Pablo Escobar na trama!

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O protagonista desta história é Barry Seal (Cruise), um talentoso piloto de aviões. Com apenas 16 anos ele já tinha tirado seu brevê. Bastante jovem, entrou para TWA, uma das maiores companhias aéreas dos Estados Unidos, e logo sobrevoou o país de costa a costa, de ponta a ponta. Só que enquanto alguns nascem para ser Sully, o comandante retratado no filme homônimo de Clint Eastwood, outros não são capazes de permanecer muito tempo despenhando a mesma função, em uma carreira burocrática. Um dia, ao receber uma proposta do misterioso Monty Schafer (Domhnall Gleeson) para transportar armas, clandestinamente, para CIA, ele decide jogar para o alto toda a estabilidade do seu emprego e entrar de cabeça nesta aventura. Isto, claro, sem avisar a esposa, Lucy (Sarah Wright), que, à princípio, não sabe nada sobre as peripécias do marido.

O armamento a ser transportado era para os CONTRAS, uma guerrilha popular da Nicarágua, que contava com o apoio dos americanos para combater o governo revolucionário de Daniel Ortega. O problema é que, naquela época, nada acontecia na América Central sem o conhecimento da CIA ou do Cartel de Medellín. É aí que entram Pablo Escobar (Mauricio Mejia), Jorge Ochoa (Alejandro Edda) e aquele povo todo que vocês viram em “Narcos” . Aquelas armas eram tão importantes para os traficantes quanto arranjar uma maneira eficiente de transportar cocaína para a América do Norte. Juntando a fome com a vontade de fumar, ou melhor, de comer, Barry Seal era o homem certo para aquela missão. E como o piloto ianque estava naquela jogada muito mais pelo dinheiro do que por patriotismo, ele aceitou. Com um simples desvio de rota, o arsenal passou a ser despejado na Colômbia e a droga no Tio Sam.

Vendido comercialmente como mais um biographical crime filmFeito na América tem elementos do gênero, mas não se deixa escravizar por eles. A produção se aproveitou do fato da trama se passar entre 1979 e o fim da década seguinte, para explorar a vibe dos loucos anos 80 e conferir ao longa uma aura pop oitentista. Logo no começo, ficamos com a impressão de estarmos assistindo à uma daquelas velhas fitas VHS que, de tanto ser rebobinada, já apresenta desgastes naturais. E este efeito não é mera recurso estilístico, pois a história é contada através de duas linhas temporais distintas: uma no presente, onde testemunhamos o protagonista gravando vídeos sobre as aventuras que viveu continente afora; e outra no passado, em que temos a chance de ver as tais aventuras. Em total consonância com esta estética visual, direção de arte e figurino ajudam a reforçar o clima oitentista. Já a trilha sonora, não. Ela é mais plural, utilizando até música clássica em uma cena chave.

Primo próximo do bom “Conexão Escobar”, estrelado por Bryan Cranston e lançado por aqui em 2016, o filme de Liman também possui um protagonista forte. Nos dois casos, tanto Cranston como Tom Cruise deram conta do recado. Só que o primeiro longa-metragem é bem mais sisudo. A diferença está na personalidade dos personagens e no ar gaiato que Cruise deu ao seu Barry Seal. Não existe um único momento, seja contando dinheiro ou flertando com o perigo, que ele não pareça estar se divertindo. E esta alegria se prolifera por toda a obra. Mesmo em cenas de tensão ou violência, podem apostar, há o risco de vocês acabarem rindo. E não será de algum eventual defeito, pois a produção é caprichadíssima.

Desliguem os celulares e ótima diversão.

::: TRAILER

https://youtu.be/dxoYx5RanoQ

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: American made
Direção: Doug Liman
Elenco: Tom Cruise, Domhnall Gleeson, Jesse Plemons
Distribuição: Universal
Data de estreia: qui, 14/09/17
País: Estados Unidos
Gênero: policial
Ano de produção: 2016
Duração: 115 minutos
Classificação: 14 anos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN