Fourteen (4)

CRÍTICA | ‘Fourteen’

Alvaro Tallarico

Fourteen é um filme aparentemente simples e arrastado. O longa-metragem de Dan Sallitt apresenta duas jovens que moram no Brooklyn, amigas desde a adolescência, ao longo de uma década.

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A atriz Tallie Medel é certamente o destaque com uma boa performance, focada em detalhes sutis, como a solidária Mara, a qual não consegue escapar da sombra psicológica da melhor amiga Jo (interpretada por Norma Kuhling).

A trama

Fourteen foca principalmente em quanto tempo Mara, que trabalha duro para ajeitar a própria vida, está disposta a manter o exaustivo papel de amiga de Jo. Mara trabalha como professora auxiliar enquanto faz mestrado. Por outro lado, Jo vive mudando de emprego, namorados e humor.

Em certo momento, Mara observa como a escritora Jo é talentosa. Então, ela diz, suspirando melancolicamente, como daria uma parte do corpo em troca daquele talento. Parece que as coisas são mais fáceis para sua amiga. Magra, alta, inteligente, sempre com namorados bonitos, pelo menos aos olhos de Mara.

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Podemos sentir e perceber as frustrações dela. Além disso, ficamos nos perguntando por quanto tempo conseguirá ficar ao lado da sempre volátil Jo, se vale a pena, e o porquê.

Dinâmica da amizade

A dinâmica da amizade é demonstrada logo no início, quando Sallitt situa as duas uma ao lado da outra em frente a uma parede. Mara fica à esquerda com os ombros curvados, aparentemente um pouco intimidada, usando um casaco com zíper; e temos Jo fumando um cigarro, louca para comer algum doce, meio blasé.

Em uma cena pontual, o namorado de Mara sugere sutilmente a ideia de fazer sexo a três. Ela fica pensando quais amigas poderiam topar e observa que Jo poderia dizer sim, mas provavelmente a faria se sentir “invisível”. Medel é excelente na cena, a qual sugere anos de insegurança com nada mais do que uma nota sutil de dor na voz. Quando seu namorado acaba conhecendo Jo, o mesmo fala sinceramente que ela não é seu tipo, provocando uma reação nova em Mara, como se fosse a primeira vez em que se vê mais atraente do que a amiga.

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Amizade complexa

Fourteen é um mergulho na complexidade de uma amizade, bem como das diferentes perspectivas que existem. Como eu te vejo não é como você me vê ou como me percebo.

Jo tem sérios problemas psicológicos, os quais não entendemos bem, exacerbados pelo álcool e outras drogas. Vários incidentes dramáticos ocorrem. Contudo, Sallitt escolhe manter isso fora da tela. O público experimenta tais eventos através dos olhos de Mara. A inteligente e carismática Jo que vemos não parece a pessoa autodestrutiva e potencialmente violenta que parece existir ali quando as câmeras não estão por perto.

Quando parece que vai ficar chato, somos convidados a ficar atentos à medida em que a história dá alguns saltos no tempo. No mundo de Sallitt, um corte pode significar uma semana… ou muitos anos. Tais saltos dão ao filme um toque legal, semelhante ao que vimos em “Boyhood”, embora sem os efeitos especiais dos processos de envelhecimento dos atores.

O diretor filma tudo em um plano médio rigoroso e sem julgamento, oferecendo espaço e importância iguais para cada situação e personagem. É raro no cinema ver um retrato de amizade tão refinado, particularmente feminino. O estilo pensativo, lento e incisivo do cinema independente de Sallitt busca articular os sentimentos de uma companhia intensa que vai mudando ao longo do tempo, mostrando como essas relações de amizade podem ser extremamente complexas e tempestuosas.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Fourteen
Direção: Dan Sallitt
Elenco: Tallie Medel, Norma Zea Kuhling, Caitlin Mae Burke
Distribuição: Zeta Filmes
Data de estreia: qui, 08/08/19
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2019
Duração: 94 minutos
Classificação: a definir

Alvaro Tallarico

Jornalista vivente andante (não necessariamente nessa ordem), cidadão do mundo, pacifista, divulgador da arte como expressão da busca pela reflexão e transcendência humana. @viventeandante
NAN