CRÍTICA | Novo ‘Halloween’ é razoável e deve decepcionar fãs da franquia
Stenlånd Leandro
Marcos do cinema de terror mundial, assim como a maioria dos filmes do Jason e Brinquedo Assassino, ascenderam o nome de seus diretores com o passar do tempo. Quando o assunto é um psicopata em busca de suas vítimas, ninguém foi melhor que John Carpenter com a famosa franquia de Halloween, tendo Michael Myers antagonizando em diversos filmes.
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Sabemos que nem todos (sejam eles críticos ou público) conseguem entender até hoje a real razão pela qual Myers sempre busca amedrontar sua irmã Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) ou aquela garotinha, sobrinha do antagonista.
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O fato é que até mesmo John Carpenter tem seus defeitos. O maior dele foi abandonar a franquia e não dar continuidade ao excelente trabalho que fez no primeiro longa-metragem. Hoje, apenas como supervisor, traz um filme mediano e cheio de falhas. Tudo bem, nada se compara as recentes atrocidades que Rob Zombie cometeu, tentando recriar toda uma história onde jamais conseguirá reviver o eterno Sam Loomis (Donald Pleasence), que tentou ser uma espécie de ‘psicólogo’ de nosso psicopata amado nem encontrar alguém que tivesse a competência da pequena Jamie Lloyd (Danielle Harris).
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O maior erro dos envolvidos com a franquia ‘começou no final’ do Halloween H20 e ao início de Ressurreição. A direção de Rick Rosenthal trouxe consigo falhas sucessivas. A história da carochinha, criada para tentar reviver o vilão, que supostamente foi morto em H20, é de uma mediocridade sem tamanho. Execrável, eu diria. É o tipo de coisa que você assiste e, cinco minutos depois, você nem consegue mais lembrar direito do que acabou de acontecer, tamanha sua insignificância.
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Para explicar tamanha mediocridade no filme pós H20, ou seja, em Ressurreição, Laurie descobre que não havia decapitado Michael e sim um inocente. O questionamento de revolta está em: COMO UM INOCENTE TERIA SOBREVIVIDO AO CAIR DE UMA VAN, LEVANTAR, SER ATROPELADO POR ELA A UMA VELOCIDADE DE UNS 80KM/H, CAIR DE UM PRECIPÍCIO ALTÍSSIMO JUNTO COM A IRMÃ, FICAR ENTRE UMA ÁRVORE E A VAN, E AINDA ESTICAR AS MÃOS COMO SE NADA TIVESSE ACONTECIDO? AH, VAH! Laurie aparentemente enlouquece por saber que o irmão ainda estava vivo, e eu, o seu crítico, mais ainda. O roteirista deveria de ser internado em um sanatório, assim como Laurie acabou sendo.
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Enfim, desistindo de tentar fazer com que qualquer um entenda a razão da continuação da franquia ter sido um fiasco, agora, temos uma continuação ‘direta’ do clássico de 1978 tentando fazer com que tudo que veio em seguida – ou entre o segundo filme e Ressurreição – venha a ser esquecido e, a suposta ressurreição ridícula mencionada acima sequer teria ainda acontecido. Na trama, temos a neta de Laurie Strode, interpretada por Andi Matichak, explicando como sua vida foi impactada por Michael por longos 40 anos. O mesmo está preso, em um sanatório e impossibilitado de fazer qualquer mal à família.
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Aqui temos um Michael Myers aparentemente velho, desolado, com barba e aparentando ter por volta de uns 50 anos ou mais, sem o uso de sua máscara e sempre de um ângulo em que podemos apenas olhá-lo de costas. O suposto vilão esperou longos anos até fosse transferido para tentar se livrar dessa longa pena e ir em busca de sua irmã.
Alguns dos pontos que mais irrita quando revivem um filme é a falta de competência de diretores da atual geração de darem continuidade a grandes clássicos. Myers está rápido e menos tenebroso, e já sabemos que acontecerão diversas mortes, e algumas sem qualquer razão. Mas há alguns problemas que precisamos entender. Aquela garotinha, chamada de Jamie Lloyd (Danielle Harris), sobrinha do vilão, foi intensamente perseguida por ele enquanto Doutor Loomis (Donald Pleasence) estava vivo. O novo Halloween se passa após Loomis ter falecido e fica a dúvida se realmente Jamie Lloyd existiu nesse meio tempo. Complicado de entender o porquê de tentarem reviver a série e desconsiderar tanta coisa feita até então.
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A direção de David Gordon Green começa a construir uma Laurie Strode madura, porém enlouquecida pelo carma que carrega há quatro décadas, ainda que decidida de uma vez por todas matar seu irmão. Talvez um dos reais pontos positivos do longa, que caminha ao lado da trilha sonora (logo falaremos dela), seja essa incessante sede de vingança de ambos os lados que jamais cessa até que um deles venha ao óbito. Também há a adição de que Myers não está imortal como outrora e sofre com seus ferimentos. Houve todo um trabalho para que ao cortar um dedo, ou tomar um tiro, você ouça ele resmungando de ‘dor’.
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Apesar de alguns furos, onde a direção se mostra burocrática, frouxa e, desinteressante, temos também, em certos momentos, um Halloween com um roteiro mediano, que conseguiu encontrar alguns atores certos para seus personagens. Talvez os palpites de Carpenter tenham dado algum fruto para o novo criador desse suspense que existe até hoje. Aparentemente, muitas cenas foram improvisadas, editadas, reescritas no andar da carruagem, com o objetivo de tentar mostrar uma história diferente da que conhecemos.
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Os longas de Carpenter & Cia apostavam muitos mais na criação da atmosfera de terror do que na violência explícita. Quase não havia sangue, mas uma história de suspense que dava a sensação de “cerco”, comum nesse tipo de filme no formato slasher, onde os protagonistas e antagonistas estavam sempre em ambientes cada vez mais fechados (das ruas da vizinhança para uma casa, da casa para o quarto, do quarto para o armário). Isso acontece aqui, mas com menos impacto.
Enquanto isso, o psicopata segue mais uma vez escapando da saraivada de tiros, de atropelamentos, quedas, de um carro cheio de policiais fazendo transferência de presos, e começa a fazer suas vítimas, usando facas, martelos, foice e outros penduricalhos. O cara consegue ter força para dar um pisão na cabeça de uma pessoa e estourar os miolos dela, mas não consegue abrir uma porta de banheiro fechada apenas por um trinco safado.
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E como falar de Halloween sem citar a trilha sonora criada por Carpenter? Ela está lá, impregnada na película, mas brilha menos do que o esperado. Onde há suspense, medo e terror, há outras trilhas de fundo. Focaram em usar no máximo três vezes a famosa música. O impacto do tema para a atmosfera de terror do filme é tremendo e mesmo que exatos 40 anos tenham se passado desde o primeiro longa lançado, a combinação ainda é , de certa forma, perfeita com o estilo soturno da narrativa da nova produção.
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Halloween termina com você querendo dar um tiro na tela do cinema, pois acaba “com pé e cabeça”, mas de uma forma muito brusca, lembrando os famosos filmes de Kung Fu das antigas, ou seja, terminou a luta final, as letrinhas já sobem. Não mostra nada pós uma ‘luta’ árdua contra o irmão. Isso é totalmente ignorado, simplesmente por não ter muito mesmo o que disponibilizar para quem gosta desse tipo de gênero.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Halloween
Direção: David Gordon Green
Elenco: Jamie Lee Curtis, Judy Greer, Andi Matichak
Distribuição: Universal
Data de estreia: qui, 25/10/18
País: Estados Unidos
Gênero: terror
Ano de produção: 2017
Classificação: 14 anos