Crítica de Filme | Jogos Vorazes: A Esperança – O Final

Wilson Spiler

Como todos sabem, Jogos Vorazes – A Esperança” é baseado no best-seller homônimo de Suzanne Collins. No entanto, o livro ao qual o filme é adaptado tem apenas uma parte. Obviamente, como Hollywood não brinca em serviço, resolveram dividir a última obra em duas partes com o intuito de encher os bolsos das produtoras.

Então… essa ganância de criar dois longas diferentes em um filme que deveria ser apenas um talvez seja o principal motivo de Jogos Vorazes: A Esperança – O Final ter tido um desfecho, digamos, frustrante. O longa de Francis Lawrence pode até não ser o pior da franquia, mas está longe de ser o melhor.

Jogos Vorazes: A Esperança – O Final dá prosseguimento aos eventos da Parte 1. Esta nova aventura começa exatamente após o impactante desfecho do filme anterior: Katniss ferida, com hematomas no pescoço e dificuldade em falar.

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O longa deixa o bunker que abrigava seus personagens na primeira parte para transformar a Capital na arena pública que consagrou a franquia. Francis Lawrence aproveita bem essa estrutura em um contexto de guerrilha, rendendo boas cenas de ação. O choque pelo súbito ataque de Peeta é um elemento importante neste novo filme, pela obrigação de conviver lado a lado com o suposto inimigo. Entretanto, a relevância maior do que acontece com o jovem padeiro tem a ver não propriamente com seu relacionamento com a heroína da série, mas com as inevitáveis consequências de uma guerra. E está aí a a grande abordagem deste capítulo final.

Entre a trama de manipulação política e a batalha televisionada, Jogos Vorazes: A Esperança – O Final esbarra no seu triângulo amoroso. Protocolar desde o princípio, a relação entre Katniss (Jennifer Lawrence), Peeta (Josh Hutcherson) e Gale (Liam Hemsworth) deixa os personagens masculinos em segundo plano e não desenvolve bem também outros coadjuvantes interessantes.  Em uma trama que inseria a política de pão e circo romana em um contexto pós-apocalíptico e que abordava temas como desigualdade social, manipulação da mídia, autoritarismo e revoluções, o romance ganha espaço demais aqui.

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Falta ainda emoção ao na parte final da saga. Os personagens, Katniss principalmente, aparentam estar entorpecidos pelo choque da guerra, precisando sempre seguir em frente sem olhar (ou sentir) por quem ficou no meio do caminho. Se por um lado isto até favorece algumas cenas de ação, por evitar o tom sentimental, por outro ameniza muito os elos emocionais construídos ao longo de toda a franquia. Apenas bem no final é que há a inevitável explosão de dor, contida até não ser mais possível suportá-la. A proposta narrativa é até compreensível, mas acaba indo contra a própria série no sentido de minimizar vários fatos marcantes deste último filme, especialmente para quem leu os livros. Em questão de fidelidade à obra literária, este talvez seja o principal pecado que o fã possa reclamar. O longa segue à risca o livro, inclusive nos seus trocadilhos. Uma ou outra morte pode até chocar algum desavisado, mas nada que mexa substancialmente com o desenrolar da trama.

Em relação às atuações, o trio principal Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson e Liam Hemsworth não compromete, principalmente Lawrence (como sempre!). Mas o destaque é o grande Philip Seymour Hoffman. Mesmo não tendo grande destaque neste último episódio, devido ao seu falecimento durante as filmagens, seu Plutarch Heavensbee é um dos personagens mais interessantes da série.

Injustamente comparada à “Saga Crepúsculo”, a franquia “Jogos Vorazes” foi sempre superior à história dos vampiros que brilham. Tanto os livros quanto os filmes se mostraram corajosos pelo seu pessimismo, mas em seu derradeiro capítulo, Jogos Vorazes: A Esperança – O Final não é ruim, muito pelo contrário. Alguns fãs devem sair bem empolgados das salas de cinema, até por conta do vínculo já criado com a série. Mas a película decepciona por desmerecer um dos principais pontos de toda a saga: o sofrimento da sua protagonista. A última parte não joga no lixo a franquia, obviamente, mas poderia – e deveria – ter um encerramento mais digno.

FICHA TÉCNICA:

Título original: The Hunger Games – Mockinjay Part 2

Direção: Francis Lawrence

Elenco:  Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Julianne Moore, Sam Claflin, Jena Malone, Willow Shields, Natalie Dormer, Robert Knepper, Philip Seymour Hoffman, Donald Sutherland

País: Estados Unidos

Ano: 2015

Distribuição: Paris Filmes

Gênero: Aventura

Duração: 136 minutos

Classificação: 14 anos

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
NAN