CRÍTICA | Divertido e despretensioso, ‘Jovens Loucos e Mais Rebeldes!!’ traz Richard Linklater de volta às origens

Bruno Giacobbo

Antes de qualquer coisa, é preciso deixar claro que esta não é uma sequência oficial do clássico “Jovens, Loucos e Rebeldes” (1993), de Richard Linklater. A prova concreta desta afirmação é que o nome dos respectivos filmes, em inglês, são bem diferentes. Enquanto o primeiro chama-se “Dazed and Confused”, em homenagem a uma música da banda Led Zeppelin, Jovens Loucos e Mais Rebeldes!!, no original “Evereboy Wants Some!!”, faz referência aos anseios e a animação de seus principais personagens. Oportunismo tupiniquim na hora de rebatiza-lo para surfar na fama do anterior? Sim, provavelmente. Contudo, em defesa dos distribuidores locais, vale dizer que o novo trabalho do cineasta norte-americano capta totalmente o espírito da obra anterior.  Assim, a associação entre os dois soará como inequívoca para a maior parte do público que cresceu curtindo as aventuras de Ben Affleck, Matthew McConaughey e companhia.

O ano é 1980. Estamos de volta ao Texas, no sul dos Estados Unidos. No entanto, o cenário não é o mesmo. Em vez de uma escola secundária em seu último dia de aula antes das férias de verão; uma universidade prestes a iniciar mais um ano letivo. Jake (Blake Jenner) é um calouro recém chegado. Com talento para jogar baseball, ele vai morar numa república composta somente por jogadores do time universitário. Lá, é recebido por Jay (Juston Street), McReynolds (Tyler Hoechlin), Dale (J. Quinton Johnson) e outros veteranos. Há também o técnico Gordan (Jonathan Breck), que faz uma recomendação: nada de álcool e mulheres dentro da casa. Porém, as aulas só começarão na segunda-feira e eles têm um final de semana inteiro para se entrosar e, quem sabe, criar o tal espírito de equipe. E aí, uma interrogação: como alcançar este objetivo sem fazer as coisas que o jovens desta idade mais gostam, que é beber e paquerar? Impossível.

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Um dos maiores trunfos de Linklater é utilizar, novamente, rostos desconhecidos para grande parte do público. Em 1993, Ben Affleck, Matthew McConaughey e Milla Jovovich eram aspirantes ao estrelato. De certa forma, pelo menos estes três chegaram lá. No casting atual, Tyler Hoechlin dá os primeiros passos neste sentido ao interpretar ninguém menos do que o Superman, em “Supergirl”, série televisiva exibida pela CBS e pelo Warner Channel. A vantagem de usar atores desprovidos de fama é o grau de autenticidade e veracidade dado aos fatos mostrados na telona. Sabemos que tudo não passa de encenação. Não há ilusão quanto a isto, mas a sensação de que poderia ser qualquer um de nós, dos nossos amigos ou dos nossos filhos vivendo aquelas aventuras, persiste. Extrair boas atuações de um elenco assim, também, realça o talento do cineasta como diretor de atores.

Jovens, Loucos e Mais Rebeldes!! é uma obra despretensiosa, leve, extremamente divertida e que conta com uma trilha sonora que, ao término da sessão, corre o risco de fazer o público, literalmente, dançar dentro da sala de cinema. Depois de passar doze anos filmando sua masterpiece, “Boyhood: Da Infância à Juventude” (2014), Richard Linklater decidiu voltar às suas origens. Fazer este filme foi quase como um passeio de férias acompanhado dos melhores amigos. Algo relaxante e com o objetivo de recarregar as baterias visando empreitadas mais audaciosas. E funcionou. Não dá para acusá-lo, por exemplo, de falta de ambição. Afinal, a proposta nunca foi mais do que nos entreter, arrancar boas risadas e reabastecer a energia para enfrentarmos os problemas que deixamos aqui fora. Exatamente, o que o diretor fez enquanto filmava. Tim-tim!

Desliguem os celulares e excelente diversão!

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:
Título original: Everybody wants some!!
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Richard Linklater
Elenco: Zoey Deutch, Glen Powell, Tyler Hoechlin
Distribuição: California Filmes
País: Estados Unidos
Gênero: comédia
Ano de produção: 2015
Duração: 117 minutos
Classificação: a definir

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN