CRÍTICA | ‘La Misma Sangre’ (Netflix)
Jorge Feitosa
“O Senhor é longânime e grande em misericórdia, que perdoa a iniqüidade e a transgressão; ao culpado não tem por inocente, mas visita a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e a quarta geração.”
A família, como se sabe, é a base da sociedade. Por meio dela, aprendemos a conviver com outros grupos e somos ensinados a valorizar a cadeia que une pais, filhos, netos, bisnetos. Isso porque a própria sobrevivência depende dos laços que formamos pela vida. Mesmo com a diversidade e o crescimento do individualismo, a humanidade ainda luta para ensinar o respeito aos mais velhos, pois todos assim ficaremos.
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A trama
Em La Misma Sangre, filme argentino dirigido por Miguel Cohan e roteirizado com sua irmã, Ana, Elis (Oscar Martínez) é o relutante patriarca de uma família à primeira vista perfeita, mas em frangalhos. Obrigado a assumir a fazenda do pai, ele envereda por projetos mirabolantes e se atola em dívidas, afastando-se de sua esposa Adriana (Paulina Garcia), a não ser quando se trata de dinheiro.
A morte, aparentemente acidental, de Adriana une Elias, sua filha Carla (Dolores Fonzi), o genro Sebastián (Diego Velazquez) e o neto Jonás (Emilio Vodanovich) em um roteiro que delineia de forma competente todos acontecimentos, bem como põe diálogos na medida em cada personagem e usa a câmara para passear entre os cômodos do local do crime. Tudo numa fotografia e design de produção em cores frias. Essa característica evidencia o distanciamento dos familiares. Um trabalho muito competente de Julián Apezteguia e Mariela Rípodas.
Rigor técnico
Mas o maior destaque vai para a montagem de Soledad Salfate. Afinal, a editora seleciona e ordena os planos de filmagem de forma tão sutil que não se percebe imediatamente se estamos diante de um momento passado ou presente. Entretanto, isso, de forma alguma, compromete o desenrolar e o entendimento da história. Nem o papel de cada membro da família na trama.
E em se falando de membro familiar e do ator que o interpreta, Martínez dá ao seu Elis um retrato perfeito da solidão e da angústia que vive alguém perdido em meio aos seus. Por mais que tente acertar na vida, mete os pés pelas mãos em uma sucessão de infortúnios e chega a demonstrar perfeitamente o nojo que sente de si mesmo.
Com todo o seu rigor técnico e sua trama vigorosa, La Misma Sangre é uma obra que demanda atenção aos detalhes da história de uma família amaldiçoada.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: La Misma Sangre
Direção: Miguel Cohan
Roteiro: Ana Cohan, Miguel Cohan
Elenco: Oscar Martínez, Paulina García, Dolores Fonzi
Distribuição: Netflix
País: Argentina
Gênero: drama, suspense
Ano de produção: 2019
Duração: 113 minutos
Classificação: 16 anos