CRÍTICA | ‘Legalize Já: Amizade Nunca Morre’ é, acima de tudo, um filme otimista
Tatiana Aponte
No último dia 18 chegou aos cinemas de todo o país o filme Legalize Já: Amizade Nunca Morre. O longa, que conta a história do início do Planet Hemp, foi uma grata surpresa. Quando eu soube que um filme sobre a banda seria feito, fiquei muito desconfiada, afinal, como seria um filme de um dos grupos mais populares e mais polêmicos do cenário nacional? O resultado foi um longa que prende atenção do começo ao fim, sem qualquer postura panfletária ou polêmica.
“Legalize Já” – A lucidez de Skunk
Diferente do que a primeira parte do título sugere – Legalize Já – o filme não aborda, em nenhum momento sequer, o assunto da legalização da maconha ou outras drogas durante a sua narrativa. Há cenas em que os protagonistas estão fumando, mas não há qualquer menção explícita sobre a substância. Tampouco qualquer glamurização sobre o consumo.
O filme tem a ver, na realidade, com a segunda parte do título – “A Amizade Nunca Morre” – pois conta a história dos amigos Skunk (Ícaro Dias) e Marcelo D2 (Renato Góes). O primeiro tem a clara percepção do lugar que ocupa em uma sociedade tão injusta como a brasileira. Negro, periférico e soropositivo, Skunk sabe que suas possibilidades de ter uma vida mais digna não surgirão pela “via comum”.
Apaixonado por (BOA) música e absorvido pelo estilo dos cantores de rap norte americanos, Skunk sonha com uma carreira musical, mas seu potencial criativo desenvolve-se em parceria com D2. É Marcelo quem dará forma aos sonhos de Skunk. D2 era um camelô que vendia blusas de banda de rock no centro do Rio de Janeiro, e após um episódio particular, conhece Skunk e tornam-se amigos. Estimulado pelo seu amigo, Marcelo é convencido a seguir pelo caminho da música.
Falta de esperança, conflitos, inseguranças, brigas… O filme pontua, de maneira espetacular, as aflições deste dois jovens que queriam cantar e não sucumbir ao “sistema”, que eles tanto detestavam. O longa vai bem, mas o final deixa a desejar. O choro na chuva passou um pouco do ponto na dramatização. Por não abordarem o sucesso da banda, o excesso de melodrama não cresce a ponto de estragar todo o longa. Legalize Já: Amizade Nunca Morre continua sendo uma boa película!
Trilha sonora e ausência de cores em “Legalize Já”
A trilha sonora do filme é um caso à parte. De todas as críticas feitas durante a narrativa, a mais intensa é sobre a produção musical dos anos 90. Não poderia ser diferente, né? Um longa que fala de banda…
Pagode, axé e dançarinas em programas de auditório fazem parte de Legalize Já: Amizade Nunca Morre, mas como crítica sobre pobreza cultural vendida pela mídia da época. Skunk e Marcelo não ouviam aquela música, e sentiam que poderiam falar e serem ouvidos.
Outro ponto interessante é a paleta de cores utilizada na produção. Quase não há cores no filme, e esta situação foi proposital. Um trabalho sem cores seria tal como a vida dos protagonistas: sem graça e perspectiva.
Por fim, a história, que se passa no Rio de Janeiro, mas não é ambientada nas praias da Zona Sul nem em morros, vielas ou comunidades. O filme se passa em bairros periféricos e invisíveis da grande mídia, mas que possuem a sua própria identidade e cultura.
Vale a pena assistir?
Sim, vale! Ícaro e Renato dão um show de interpretação, e foram muito bem conduzidos pelo diretor Jonny Araújo. Ainda que o final seja melodramático, o filme conta com um bom roteiro, faz críticas pertinentes ao mercado de música, mostra um Rio quase nunca filmado, além de mostrar que verdadeiras amizades podem modificar vidas. Legalize Já: Amizade Nunca Morre é, acima de tudo, um filme otimista!
*Crítica publicada anteriormente no blog Tati Aponte, parceiro do BLAH!
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Direção: Johnny Araujo, Gustavo Bonafé
Elenco: Renato Góes, Ícaro Silva, Ernesto Alterio
Distribuição: Imagem
Data de estreia: qui, 18/10/18
País: Brasil
Gênero: biografia
Ano de produção: 2017
Duração: 90 minutos
Classificação: 16 anos