Locke & Key

‘Locke & Key’ (Netflix) – 1ª Temporada | CRÍTICA

Jorge Feitosa

“Pra que ter chaves mágicas se não podemos usá-las?”

Quando se fala em adaptações de quadrinhos para cinema e TV, as opiniões são como metralhadoras giratórias que disparam em todas as direções.

Afinal, os aficionados esperam assistir à obra adaptada na íntegra, já que vêem suas queridas revistas como storyboards – as ilustrações em sequência feitas a partir de um roteiro cinematográfico – prontos para serem filmados. Por outro lado, outros, ao perceber filmes e séries não tão fiéis serem recebidos com sucesso pelo pelo público em geral, assumem que mídias diferentes requerem abordagens diferentes para a mesma história.

Locke & Key, adaptação televisiva dos quadrinhos homônimos do escritor Joe Hill (filho de ninguém menos que Stephen King) e do desenhista Gabriel Rodriguez, é um obra cujo esforço de adaptação mostra muito bem que não basta fazer sucesso em um meio para fazer no outro.

Locke & Key

Foto: Netflix / Christos Kalohoridis

A trama original

Lançados originalmente em 2008, os quadrinhos rapidamente alcançaram êxito de público e crítica com um enredo de fantasia e horror ao redor da família Locke. A saber, o pai, Rendell, foi assassinado em decorrência de eventos do passado, levando a viúva, Nina e os filhos, Tyler, Kinsey e Bode a se refugiarem na antiga mansão da família, a Keyhouse.

Lá, os filhos dos Locke encontram uma série de chaves mágicas com os usos mais inusitados para as portas que abrem: de ir para qualquer lugar, entrar em um mundo espelhado, na cabeça dos outros, etc. Um prato cheio para uma história de fantasia que supostamente agradaria a gregos e troianos.

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Sobre ‘Locke & Key’

Mas, como uma obra sugerida para leitores maduros, os quadrinhos também possuem uma violência gráfica extrema. Casos de alcoolismo e uma sujeira no comportamento de alguns personagens coadjuvantes que certamente a tornam cult. Contudo, impõem dificuldades para levá-los às telas. Razão pela qual a história demorou mais de dez anos e dois estúdios diferentes até cair nas mãos da Netflix, ainda que o terceiro piloto tivesse sido apresentado primeiro ao serviço de streaming Hulu.

Na última tentativa, os produtores e showrunners Meredith Averill, de A Maldição da Residência Hill, e Carlton Cuse, de Lost, optaram por não seguir à risca o roteiro e os desenhos de Hill e Rodriguez, mas torná-los mais palatáveis, amenizando o tom sóbrio e dando mais enfoque à Keyhouse, tornando-a tão protagonista quanto os Locke.

Tudo num belo design de produção em que os enquadramentos, a fotografia de tons frios e as cores fortes dão a perspectiva de que, apesar de velha e mofada, a casa dos Locke é um lugar incomum e cheio de surpresas. E onde o visual de diversas situações, como entrar na cabeça de alguém, foi concebido de forma elegante e sem afronta ao material original.

Violência amenizada

A violência e outros tópicos mais pesados são abordados, mas de uma forma bem mais amena e condizente com a proposta de Locke & Key, série de fantasia também voltada para o público infanto-juvenil. Essa postura, a meu ver, foi um acerto tanto dos produtores quanto dos criadores, já que série foi, no geral, bem recebida e já está com a segunda temporada garantida.

Locke & Key crítica

Foto: Netflix / Christos Kalohoridis

Mas, como nem tudo são flores, a história demora a engrenar com seus episódios iniciais tomados por aquele ranço de série teen em que você fica ansioso para que a trama avance logo. O que só acontece realmente a partir de metade da temporada, com o elenco de protagonistas formado por Darby Stanchfiel, Connor Jessup, Emilia Jones e Jackson Robert Scott (respectivamente Nina, Tyler, Kinsey e Bode Loke) evoluindo aos poucos.

Além disso, temos a honrosa exceção da nossa brasileira Laysla de Oliveira, à vontade no seu papel de vilã desde o início.

Por fim, Locke & Key talvez não agrade a todos os fãs das HQs, mas é uma produção consciente de que adaptar não é copiar e mantém o espírito do original. Poderia até ter dois episódios a menos para que a trama fluísse melhor, mas tem até um jorrinho de sangue falso para agradar aos insatisfeitos.

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Locke & Key
Temporada: 1
Número de episódios: 10
Criação: Carlton Cuse, Meredith Averill, Aron Eli Coleite
Elenco: Darby Stanchfield, Connor Jessup, Emilia Jones, Jackson Robert Scott, Petrice Jones, Laysla De Oliveira, Griffin Gluck
Distribuição: Netflix
Data de estreia: sex, 07/02/2020
Gênero: aventura
Ano de produção: 2019
Classificação: 16 anos

Jorge Feitosa

@jorgefeitosalima
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