CRÍTICA | ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ é uma obra de qualidade inegável, mas um pouco longa

Bruno Giacobbo

Uma das principais atrações do Festival do Rio e coqueluche absoluta entre os cinéfilos cariocas, Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me by Your Name), dirigido por Luca Guadagnino, conta a história de uma paixão proibida no verão de 1983. Elio (Timothee Chalamet) é um adolescente de 17 anos que vive com os pais, interpretados por Michael Stuhlbarg e Amira Casar, em uma vila paradisíaca da Itália. Professores universitários e intelectuais renomados, os Perlman tem o hábito de hospedar algum acadêmico que precise de ajuda ou somente de um lugar sossegado para estudar. O escolhido da vez é Oliver (Armie Hammer), um linguista norte-americano. Bonitão, atlético, ele logo faz sucesso entre as mulheres da região. No entanto, não são apenas os olhos delas que estão a observá-lo. A empatia entre os rapazes é visível, ainda que o primeiro contato não tenha sido nada amistoso.

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O filme, uma adaptação do romance homônimo do escritor André Aciman, feita pelo veterano James Ivory, de 89 anos, tem sido festejado, por muita gente, por causa das bandeiras que em tese levanta e por retratar uma história de amor entre dois homens. Entretanto, ater-se exclusivamente a esta questão é minimizar e subestimar detalhes muito mais importantes na hora de analisar se esta é ou não uma obra de qualidade inegável. Para começo de conversa, sim, o relacionamento entre Elio e Oliver é de uma delicadeza ímpar e de um bom gosto imenso. Porém, não é a única relação amorosa mostrada. Antes de se envolver com o acadêmico americano, o protagonista flerta com a bela Marzia (Esther Garrel). E se pensarmos ainda na cumplicidade existente entre os membros da Família Perlman, veremos que, acima de tudo, este é um longa-metragem sobre diversas formas de amor.

O amor e a educação são as palavras chaves para entender todo o ambiente que permeia os meandros e as nuances deste filme. Relutei um pouco ao escrever, lá no parágrafo inicial, a palavra proibida e associá-la ao vocábulo paixão. Proibida para quem? Certamente, para os moradores da cidade mais próxima da vila, tanto é que, em uma determinada cena, Elio e Oliver evitam se beijar. Mas não para os Perlman. Ao longo de todo o desabrochar desta relação, por mais que os personagens de Stuhlbarg e Casar não teçam nenhum comentário direto sobre o filho e o hóspede, fica absolutamente claro que eles estão cientes. E, de certa forma, mesmo que veladamente, aprovam. O que os faz diferentes dos cidadãos locais ou de milhares de outras pessoas no início daqueles anos 80? O amor que sentem por Elio? Sim, mas também a educação que os permite manter a mente sempre aberta.

Cineasta de grande apreço pelo poder da estética, Guadagnino fez uma obra que, em muitos momentos, mais parece um quadro do pintor Claude Monet ou um livro de belas e coloridas fotografias. Cada frame, cada enquadramento do fotógrafo Sayombhu Mukdeeprom, é um deleite para os olhos dos espectadores e um convite implícito para um dia conhecermos aquela região. Para combinar com estas imagens, o elenco, imagino eu, foi escolhido a dedo. Não se levou em conta unicamente o talento dos intérpretes. Com certeza, foram considerados aspectos como a beleza e se eles desempenhariam bem papéis classudos. Tal combinação pode levar o filme a ser taxado de artificial e descolado da vida real. Argumento inválido, pois seria o mesmo que supor que não existem pessoas e lugares assim; ou que o cinema deva ser apenas um espelho das mazelas sociais.

Além desta imagética pulsante e gritante que emana de tudo na tela, outro aspecto que chamou a minha atenção foi o modo como tanto Chalamet e Hammer parecem à vontade em seus papéis. Atores ainda sem um grande desempenho na carreira, pela primeira vez, eles aparecem como reais candidatos à um lugar no Oscar. Muito tem-se falado deste longa em relação à temporada de prêmios, mas é nesta categoria que ele é mais forte. Os dois atores principais são a alma, o sopro que injeta vida em tanta beleza e refuta qualquer possibilidade de que esta soe artificial e irreal. Os dois estão, definitivamente, ótimos. Todavia, se tivesse que escolher um só destaque, este seria o adolescente. Em diversos instantes, ele consegue dizer o que tem que ser dito apenas com um olhar de esguelha e expressões faciais.

Dotado ainda de uma direção de arte caprichada e uma trilha sonora em perfeita sintonia com o clima da época, Me Chame Pelo Seu Nome é uma obra de qualidade inegável, porém, com um problema incômodo: sua duração. Um filme de duas horas e dez minutos que, pelo ritmo e fluidez da trama, parece maior. Algumas das cenas de passeios ao ar livre deveriam ter sido podadas na ilha de edição e o desfecho também poderia ser mais enxuto. Guadagnino desperdiçou pelo menos uma chance de encerrar a história. Se tivesse terminado ali, seria ótimo. Contudo, nada que atrapalhe o resultado final.

Desliguem os celulares e excelente diversão.

*Filme visto no 19º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Call Me by Your Name
Direção: Luca Guadagnino
Elenco: Armie Hammer, Timothée Chalamet, Michael Stuhlbarg
Distribuição: Sony
Data de estreia: qui, 18/01/18
País: Itália, França, Brasil, Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2017
Duração: 130 minutos
Classificação: a definir

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN