CRÍTICA | ‘Meu Amigo, O Dragão’ peca pela pela obviedade, mas tem potencial para agradar crianças

Tem Um Tigre no Cinema

introv3

Meu Amigo, O Dragão é focado exclusivamente na audiência infantil. Analisando por esse lado, funciona no desenvolvimento básico e um tanto óbvio. Há uma segunda camada, que os mais novos provavelmente não perceberam, uma mensagem ecológica e contra a cultura da caça desportiva tão comum em variadas partes dos Estados Unidos. O filme passa mais despercebido nessa onda deremakes que a Disney tem trazido para reapresentar suas obras mais famosas ao novo público. Mas é uma narrativa leve, dinâmica e agradável de ser assistida. Apesar de que, quando nós comparamos com outras investidas recentes, é a mais conservadora até agora.

Por ser uma história para crianças, o diretor David Lowery é bem ágil em fazer as coisas acontecerem. Com poucos minutos de produção já encontramos o dragão Elliot – ou melhor, ele encontra Pete (Fegley) – e logo vão viver suas aventuras. O órfão é como um Tarzan ou um Mogli, e conta com a proteção de um grande amigo que se compadece do pequeno ser. O visual de Elliot não é tão original, mas difere do que estamos vendo, por exemplo, em Game of Thrones. Para ser mais amigável para um Pete ainda muito pequeno, o dragão se preenche de pelos, como um cão, o que lhe dá uma aparência mais amigável. Inclusive as partes mais divertidas são quando Elliot se porta essencialmente como um cão, caçando a própria cauda e tendo problemas para atravessar um par de árvores tendo uma terceira na bocarra.

petes-dragon-11-1200x675

Ainda apontando esse esquema de ser básico ao extremo, os personagens não são desenvolvidos em prol de contar uma aventura para não dispersar a audiência que propõe agradar – diferente do recente e insuportável “O Bom Gigante Amigo”. Então, Grace (Howard) é uma pessoa doce e agradável, defensora das florestas e amigável, em oposição a Gavin (Urban), que trabalha na madeireira da cidade. O figurino dela é marcado pelo verde, cor ligada à floresta e aos pelos de Elliot, enquanto ele usa o vermelho: cores complementares entre si, que acentuam suas diferenças ideológicas. Além disso, a trilha de Daniel Hart pontua personagens com leitmotifs, uma técnica musical que funcionou muito bem até os anos 1970, mas que aqui força os sentimentos.

A produção acerta nas doses de comédia, a maioria envolvendo o jeito desajeitado de Elliot ou como ele lida com o fato de ser um dragão gigante. A solução é explicada por mágica e não há nada de errado nisso, sendo justificado naquele universo. Sabiamente, num misto de homenagem ao original, o diretor coloca o filme, subjetivamente, nos anos 1970. Considerando que o filme original é de 1977, você pode notar na fotografia e no figurino dos personagens uma emulação daquela década. É um tanto sutil, mas nota-se pela falta de aparelhos eletrônicos como celulares ou câmeras – e isso é usado narrativamente, de novo sutilmente, pois seria difícil esconder uma criatura dessas com a tecnologia que temos hoje.

petesdragon_clip_introduce

Ao se posicionar como um filme infantil de aventura, a produção é tão inofensiva que chega a ser extremamente conservadora. Como medo de tomar posições, ou ousar um pouco em questões abordadas como, por exemplo, em “Malévola”, o roteiro não aborda nenhum tipo de relação além da fraternal. Isso é claro quando sabemos que Grace e Jack (Bentley) são um casal apenas por ser dito para nós por meio de diálogo. Durante a história, eles não trocam um beijo, um carinho sequer. É como se o diretor deixasse de lado qualquer tipo de ideia com medo de ser julgado por apresentar ou deixar de apresentar alguma.

Com problemas na fotografia – a cena do pequeno Peter perdido na floresta é tão escura que mal se vê o que está acontecendo, algo piorado na versão 3D – que tem pouco contraste, e com um tom relativamente mais sério que original, Meu Amigo, O Dragão não é a melhor experiência cinematográfica infantil que alguém pode querer. Peca pela simplicidade e pela obviedade, mas tem potencial para agradar crianças, principalmente por ser um filme sem muitos rodeios, com o ponto positivo de não desagradar os mais velhos, pelo menos ao ponto deles não terem vontade desesperada de sair do cinema. Não é marcante e nem decepcionante, o que significa também que não será um novo clássico para ser cultuado no futuro.

*Texto publicado originalmente no site “Tem Um Tigre no Cinema”, parceiro do BLAH CULTURAL

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

3D
Título original: Pete’s Dragon
Direção: David Lowery
Roteiro: David Lowery, Toby Halbrooks
Elenco: Bryce Dallas Howard, Michael C. Hall, Robert Redford
Distribuição: Disney
País: Estados Unidos
Gênero: aventura
Ano de produção: 2016
Duração: 103 minutos
Classificação: a definir por http://culturadigital.br/classind

Tem Um Tigre no Cinema

NAN