CRÍTICA | ‘Millenium: A Garota na Teia de Aranha’ investe na ação, mas é apenas um bom filme
Bruno Giacobbo
Depois de três filmes suecos, todos rodados de uma vez só, e um longa-metragem americano, dirigido pelo genial David Fincher e que, inexplicavelmente, não arrecadou o esperado, Lisbeth Salander está de volta em uma nova aventura. Sob o comando do diretor uruguaio Fede Álvarez, a adaptação, agora, é do quarto livro, Millenium: A Garota na Teia de Aranha (The Girl in the Spider’s Web: A New Dragon Tatoo Story), escrito por David Lagercrantz, um romancista escolhido pela família de Stieg Larsson, após a morte deste. Com a protagonista, vivida pela atriz britânica Claire Foy, estão de volta outros personagens das sagas originais, entre eles o jornalista Mikael Blomkvist, interpretado por Sverrir Gudnason, e Praga (Cameron Britton), o hacker que atua como fiel escudeiro da mocinha da história.
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Três anos após os acontecimentos do terceiro livro, no qual Salander, com a ajuda de Blomkvist, desmantelou a quadrilha liderada pelo seu pai, o psicopata e ex-espião russo Zalachenko, a heroína está desaparecida. Ninguém consegue encontrá-la. A única coisa que assegura que nada aconteceu a ela é que, de tempos em tempos, os jornais suecos noticiam histórias de agressões e castigos infligidos contra homens que não amam as mulheres. Neste ínterim, Lisbeth é procurada por Frans Balder (Stephen Merchant), um analista da NSA, a principal agência de segurança dos Estados Unidos. Ele precisa da ajuda dela para recuperar um programa que dá acesso (e controle) a todos os arsenais nucleares do mundo e ela precisará do auxílio do seu velho amigo e amante jornalista.
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De todas as coisas que vemos na telona, a melhor, com certeza, é a direção de Fede. Cineasta em ascensão em Hollywood, com dois bons filmes de terror, o remake “Evil Dead” (2013) e “O Homem nas Trevas” (2016), o jovem realizador impressiona pela forma como retrata Estocolmo. Em uma bela pareceria com o fotógrafo conterrâneo Pedro Luque, algumas tomadas são lindíssimas. Destaque para alguns planos abertos como, por exemplo, o de uma explosão no píer. Em compensação, o roteiro, que também tem o dedo do diretor, peca pela ânsia de contar a história com uma agilidade que acaba atrapalhando o entendimento de determinados acontecimentos. No livro, estes fatos são bem detalhados. Como o filme nem é tão longo assim (1h45), era possível ter se alongado mais um pouquinho.
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Em tempos de empoderamento feminino, Lisbeth Salander é, sem dúvida alguma, uma das personagens mais carismáticas do cinema ou da literatura. Suas intérpretes anteriores, a sueca Naomi Rapace e a americana Rooney Mara deixaram grande impressão. A segunda, então, foi indicada ao Oscar pelo papel. Logo, havia grande expectativa quanto a Foy. E ela vai muito bem, sendo a melhor atuação desta nova versão. A mesma sorte não teve Sverrir Gudnason na pele do carismático Mikael Blomkvist. Além de não ter a idade adequada, tem pouquíssimo tempo de tela. É um mero coadjuvante que quase nada faz, ao contrário da versão literária. O mesmo ocorre com a luxemburguesa Vicky Krieps como Erica Berger, sócia da revista Millenium, após uma excelente participação em “Trama Fantasma“ (2017).
No fim das contas, Millenium: A Garota na Teia de Aranha é um longa-metragem que investe pesado na ação. Na esteira do ótimo trabalho de direção de Fede Álvarez, esta é, de fato, muito bem orquestrada, com perseguições em alta velocidade, boas lutas corporais e fogo para todos os lados. Contudo, há também uma leve sensação de que falta alguma coisinha que sobrava nas outras versões cinematográficas. O elã que torna tudo mais interessante, que prende o público na cadeira sem vontade de se mexer ou sem conseguir piscar. Neste sentido, este é um filme como outro qualquer, igual aos que costumamos ver na “Sessão da Tarde”.
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Desliguem os celulares e boa diversão.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Distribuição: Sony