CRÍTICA | ‘O Estrangeiro’ não é o melhor filme de Jackie Chan, mas vale cada centavo do ingresso
Stenlånd Leandro
Há muito tempo atrás, eu iniciava minha trajetória em busca de filmes que pudessem me agradar. Depois de muito procurar, fiquei atento aos filmes de terror e de Kung Fu. Apesar de serem gêneros completamente diferentes, havia uma certa procura por essas produções que poucos cultuavam no passado.
Jackie Chan, astro dos filmes de artes marciais, traçou inicialmente sua filmografia ainda com Bruce Lee, lá por volta dos anos 70. Fanático por longas antigos, como “Os Sete Dragões Do Kung Fu”, que era somente uma película de artes marciais, e “Shaolin Popeye 2”, que misturava esse disferimento de golpes com pitadas cômicas, simplesmente ainda achava que não estaria satisfeito com esse formato. Foi aí que conheci os primeiros filmes de Jackie. Um dos meus favoritos daquela época é “Detonando em Barcelona”, que já tinha o ator como um certo astro das telonas.
Claro que a maioria recorda de Jackie Chan principalmente pelos títulos “A Hora do Rush” e “Bater ou Correr”. Eram películas divertidas, mas ainda que tivéssemos essa quantia enorme de filmes hilários e em outros golpes para todos os lados, Chan nunca se sentiu pleno. Em diversas entrevistas, o ator era enfático em mencionar que estaria cansado das pessoas olharem para ele e, consequentemente, assimilarem-no à produções de luta e comédia. Seu maior sonho era fazer trabalhos diferentes, inclusive em ter uma esposa que pudesse beijar, quem sabe ser um galã de Hollywood, ainda que a idade não o permitisse. O astro já havia dito que não faria mais grandes filmes de ação, visto que sua idade não permite mais tais acrobacias como outrora, então, nesse momento o ator tenta trazer para o público algo diferente.
Estamos diante de O Estrangeiro, dirigido por Martin Campbell, o mesmo responsável por “Lanterna Verde”. Tenso, né? Esta película traz em sua trama Quan, um homem de negócios que tem um restaurante chinês em pleno solo britânico. Ele é feliz e tem uma linda filha que está para ir a um baile de formatura com seu suposto namorado. Interpretando um pai de família, Chan está na sua possível nova zona de conforto, fazendo justamente o que sempre quis ao atuar. Uma pena que para um pai de família, seu tempo é encurtado por um atentado terrorista e sua filha acaba falecendo. Desolado e numa agonia incessante, Quan decide tentar achar os culpados pelo assassinato de seu tesouro mais precioso.
É aí que o filme começa a fugir um pouco do que o ator já estava acostumado a fazer. De início, vemos um Jackie Chan bem próximo do apresentado em “Massacre no Bairro Chinês”. Temos o astro com uma feição triste e melancólica por quase 80% do filme. A partir daí, a película começa a engatar um formato 007 e Missão Impossível. Quan começa fazer coisas que até Deus duvida e que começamos a nos questionar como ele sendo pai de família, uma pessoa aparentemente normal, estaria conseguindo fazer tais peripécias.
No começo, há apenas o questionamento, fazendo com que Jackie vá à polícia a cada segundo perguntar se já possuem uma pista sobre o atentado. Sem ter ideia de quem fez isso com sua pobre filha, sua única opção é ir de encontro ao ator Pierce Brosnan, que interpreta o primeiro-ministro Hennessey. Para começo de conversa, a atuação de Brosnan é bem ruim, talvez uma das piores de sua carreira. Tudo que ouvimos de sua boca é ‘Jesus Crist’ , ‘By God’ ou ‘Fucking’ isso, ‘Fucking’ aquilo. Claro que não é sua culpa, visto que isso é uma questão de roteiro, mas, ainda assim, sua interpretação ficou bem aquém daquilo que se espera de um ator que já viveu o papel de James Bond no passado.
A trama tem pé e cabeça e não te deixa flutuar sem ao menos imaginar o que acontece aqui e ali. O desfecho do filme me fez entender que o que Quan dizia era uma mentira. Aliás, ele forjou algo para manter sua família intacta. Há de certa forma um ritmo ágil e alta dose de drama por parte do chinês. O Estrangeiro cria tomadas para chocar aquele que assiste dia após dia o que acontece no mundo do terrorismo e que, por muitas vezes, é uma questão mais pessoal do que política, mostrando na verdade a limitação de estar por trás de tanta trama traiçoeira. É fácil mostrar a outros companheiros a busca pelo poder e isso inclui manipular certas peças do xadrez. Estas ênfases sugerem experiências compartilháveis por qualquer pessoa nas mesmas circunstâncias e tornam este formato um caso isolado de cárcere irracional, levando a pessoa até a beira da loucura em busca de, no mínimo, justiça. Até onde poderíamos chegar para obter vingança e ao mesmo tempo justiça por aqueles que levaram sua filha ao óbito?
No ímpeto da alma e do sofrimento de Quan, precisamos entender seus motivos, ao se jogar de cabeça no submundo da política e correr seus riscos. O ator tentou alimentar o texto poético que não se centra no mundo exterior, dando corda para a expressão de sentimentos, a realidade mais pútrida, com cânones indicando cenas de violência que lembrarão o estado islâmico e suas vertentes. Pode acreditar que, apesar de não ser a melhor atuação de Chan, o ator acaba engrandecendo o drama, vivendo um ex-combatente das Forças Especiais do Exército. O que diferencia esta película de outras é a maneira como ressalta essa dor que muitos vivenciam por causa de balas perdidas no Rio de Janeiro, ou até mesmo homem-bomba no Oriente Médio, onde a confiança é abalada pela própria sombra.
Para um público mais voltado para o suspense policial e que também gostaria de ver atores como Jackie Chan e Jet Li tentando algo diferenciado, O Estrangeiro tem um resultado bem satisfatório para quem busca um bom entretenimento em altas doses e um belo suspense policial que valerá o ingresso.
::: TRAILER
::: FOTOS
::: FICHA TÉCNICA
Título original: The Foreigner
Direção: Martin Campbell
Elenco: Jackie Chan, Pierce Brosnan, Katie Leung
Distribuição: Diamond Films
Data de estreia: qui, 11/01/18
País: Reino Unido, China
Gênero: ação
Ano de produção: 2017
Duração: 114 minutos
Classificação: 14 anos