‘O Menino que Fazia Rir’ | CRÍTICA
Alvaro Tallarico
‘O Menino que Fazia Rir‘ também pode fazer chorar. Trocadilho piegas? Não, só real e direto. Nada como poder assistir um filme alemão, um cinema diferente, com outro tempo e cultura. Está aí uma das graças dessa arte. A enxurrada de filmes estadunidenses não para, é uma forma como eles dominam o resto do mundo. Quantos sabem mais sobre a Guerra do Vietnã do que sobre a de Canudos?
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O CAVALGAR DO CORCEL NEGRO
Porém, esse início de texto é só para plantar algum mínimo de reflexão. Ademais, filme alemão não chega todo dia por essas bandas. Esse aqui é bem divertido. Aliás, é possível ver um pouco da vida urbana na Alemanha dos anos 70, mas o foco não é esse, e sim no espirituoso Hans-Peter Kerkeling. Eita, garoto especial. Sensível e alegre, sempre busca levar o sorriso a todos que estão ao redor. Além disso, com sua inteligência e percepção vê que pode utilizar situações embaraçosas para divertir.
O Menino que Fazia Rir (quero ver você falar o título original ‘Der Junge muss an die frische Luft’) é um filme biográfico desse artista alemão, mostrando sua infância e suas perdas. Temos o pai ausente, uma mãe carinhosa, avós cuidadosos. Há uma cena em que vemos a fachada de um prédio suburbano, com Hans-Peter sentado à esquerda, isolado, solitário, fora do ponto focal principal, tristonho, até que a ajuda chega. É o tipo de cena em que percebemos com clareza o olhar da diretora, que preza pela delicadeza.
A saber, a diretora Caroline Link utiliza muitos planos abertos e belos com um pouco de natureza esplendorosa, o escape e o respiro nos momentos árduos. São bonitas as sequências do cavalgar do cavalo negro e um pequeno cowboy em busca de si mesmo. Inclusive, devo dizer que a diretora exagera um poucos nessas cenas, que acabam ficando um pouco repetitivas, mas as mudanças de ângulos (como quando escolhe mostrar o olho do cavalo) auxiliam a não cansar.
O MENINO QUE FAZIA RIR OLHA PARA TRÁS E VÊ O FUTURO
A trilha com o avô é outra sequência singela onde a diretora brinca com tempo, usando a elipse (salto temporal usado nos filmes) com eficiência. Contudo, da janela, Hans vê o inevitável acontecer, e algumas coisas importantes saem do foco de sua visão deixando sua vida um pouco mais cinzenta. Seu talento para fazer rir não pode ajudar sempre. Infelizmente. O poetinha Vinícius de Moraes já dizia “Tristeza não tem fim, felicidade sim”. Talvez não seja para tanto. Ambas tem começo, meio e fim, quer você queira ou não. A cabine de imprensa foi no CineStar Laura Alvim, em Ipanema, reduto de filmes de arte e fora do circuito blockbuster e, ao meu lado, uma colega chorou algumas vezes, e riu tantas outras.
Julius Weckauf traz a vitalidade e o carisma que o personagem principal precisa para funcionar, com o auxílio inestimável de Ursula Werner, que faz uma das avós, Oma Bertha. Afinal, a distribuidora Pandora Filmes abre sua caixa e traz um filme que nos permite entrar na casa – e na vida – de Hans-Peter. Caroline Link não perde tempo e nos conecta com o narrador-protagonista desde o princípio, até o derradeiro desfecho filosófico-poético, onde o olhar para trás é ver o futuro, entendendo que somos um misto de tudo e todos que nos rodeiam.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Der Junge muss an die frische Luft
Direção: Caroline Link
Roteiro: Ruth Toma
Elenco: Julius Weckauf, Luise Heyer, Joachim Król
Distribuição: Pandora Filmes
Data de estreia: 26/09/19
País: Alemanha
Gênero: Biografia, Comédia , Drama
Ano de produção: 2018
Duração: 100 min