CRÍTICA | ‘O Olho e a Faca’
Karinna Adad
O Olho e a Faca é o tipo de filme que acerta no mais difícil e erra no mais básico. A partir da história de Roberto (Rodrigo Lombardi), acompanhamos o progressivo desmoronamento de sua vida profissional e pessoal quando este recebe uma promoção. A premissa é simples e tal simplicidade, ao invés de permitir um aprofundamento de um tema mais complexo, confunde o espectador ao tentar dar conta de várias questões que ficam perdidas pelo caminho. O trabalho longe da família, bem como o afastamento afetivo dos familiares; a corrupção no ambiente de trabalho; a promoção não merecida; a relação com os colegas de profissão, com o pai e com o filho; a relação extraconjugal… Todos esses são temas que aparecem no filme, mas não acrescentam ou pelo menos não dizem a que veio, já que tudo é tratado de forma muito superficial e fugidia.
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Personagens sem empatia
A decisão de filmar em uma plataforma de petróleo rende uma fotografia ímpar, assim como momentos de tensão que são em grande parte gerados mais pela trilha sonora do que pelo enredo. No entanto, essas são as únicas contribuições para a história. Enquanto ambiente conturbado e marcado pelo perigo e pela tensão, vemos o diretor Paulo Sacramento utilizar-se muito pouco dessas qualidades naturais da locação para garantir dramaticidade e conseguir gerar sentimentos no telespectador. Tanto é que mesmo a plataforma tendo sido palco de um acidente grave de trabalho e de uma briga feia entre os amigos Roberto e Wagner (Roberto Birindelli) não conseguimos sentir empatia por nenhum dos personagens.
Além da locação privilegiada, mas mal explorada, existe outro elemento na mesma situação que merece destaque. Um deles é a presença feminina, que, de forma mais chamativa, se dá através da esposa (Maria Luísa Mendonça) e da amante (Débora Nascimento). Paralelo à vida de casado em São Paulo, Roberto mantém um caso extraconjugal no Rio de Janeiro. O que não fica claro, entretanto, é a necessidade dessa segunda relação para o desenvolvimento da história se não for para garantir uma cena de sexo e de nudez gratuita. Tanto Maria Luísa quanto Débora têm papeis extremamente sem graça e subaproveitados.
Fala de tudo, mas é incompressível
Outro erro de direção, mas que dessa vez tem a ver com excesso, é a miscelânea estética empregada no filme. Na tentativa de assinalar as situações de mal presságio e que precedem momentos de tensão, o diretor coloca corvos em cena. De forma alguma, essa saída convence, uma vez que esses animais não fazem parte da cultura brasileira. Em outra situação, a história – que é dividida em ações que acontecem ora na terra e ora no mar – é então entremeada por momentos de alucinação. Em certos momentos, Roberto observa e interage com colegas de trabalho que já não fazem parte da sua vida. Tudo muito confuso e despropositado. A sensação que fica é a de que O Olho e a Faca pretende falar de tudo e, no fim, não fala nada. Ou, se consegue falar algo, não é bem ouvido e muito menos compreendido.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: O Olho e a Faca
Direção: Paulo Sacramento
Elenco: Rodrigo Lombardi, Maria Luisa Mendonça, Luís Melo, Débora Nascimento, Roberto Birindelli
Distribuição: California Filmes
Data de estreia: qui, 27/06/19
País: Brasil
Gênero: drama
Ano de produção: 2016
Duração: 99 minutos
Classificação: 16 anos