CRÍTICA | ‘O Peso do Passado’
Tatiana Trindade
Hollywood parece não dar muito espaço para as mulheres, como dá aos homens, quando estas envelhecem, mas isso tem mudado gradativamente. Nicole Kidman, por conta disso, parecia ter se encontrado em séries como, por exemplo, “Big Little Lies” (2016), em que interpretou uma das protagonistas e foi uma da produtoras. O fato é que ela continua lapidando sua trajetória na indústria, como faz há 35 anos, e está cada vez melhor.
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Em 2017, ela resolveu dar mais uma chance à indústria de verdade, com um dos seus filmes mais impactantes desde “Os Outros” (2001): “O Sacrifício do Cervo Sagrado”. Esta obra é mais um dos socos no estômago que o diretor grego Yorgos Lanthimos adora oferecer aos espectadores de seus longas e traz uma Nicole Kidman em um papel desconfortante, ainda que relativamente dentro de sua zona de conforto, em termos de aparência. Em O Peso do Passado (Destroyer), porém, ela consegue ir mais a fundo, adotando uma psique transtornada, vulnerável e falha; diferente daquela atriz que o público conhece e nem por isso menos admirável.
Erin Bell é uma policial que, 17 anos atrás, sofreu um trauma do qual nunca se recuperou e tem motivos suficientes para acreditar que os “fantasmas” daquela época voltaram assombrá-la e cometer novos crimes. Apesar do espectador não saber como tudo aconteceu detalhadamente, podemos ter uma noção muito previsível do cenário todo e isso frustra, porque deixa a narrativa muitas vezes arrastada. Combinado a decisões pouco criativas e muitas vezes falhas da diretora Karyn Kusama, que tem mais experiência em séries do que em longas, o filme é uma tentativa de saída da zona de conforto por parte da atriz, que vai muito bem, mesmo com muitos clichês e retalhos de longas do mesmo gênero.
A história, em si, não é nova e não traz nada de inédito. A montagem escolhida também deixa a desejar, antecipando momentos que deveriam aparecer depois e vice-versa. O Peso do Passado, então, torna-se uma história de presente e passado mal explorada, com uma tentativa de plot twist que, no fim, não funciona. Essa tentativa poderia ter dado certo se não fosse a quantidade de decisões erradas da montagem.
Ainda assim, qualquer trabalho de Nicole é digno de ser apreciado, mas aqui, em especial, ela traz uma versatilidade pouco vista em suas atuações. Vê-la totalmente desmontada, com uma face envelhecida e cabelos grisalhos, segurando firme o longa inteiro, é diferente do que ela normalmente faz. Sua personagem é muito intensa, visceral e totalmente despojada, já que a economia no figurino foi de 100%. Ela usa apenas um casaco.
Se O Peso do Passado não fosse esse amontoado de falhas, Nicole certamente seria indicada ao Oscar pelo papel. E mesmo que não seja, esta é uma oportunidade de vê-la brilhar sozinha na tela, demonstrando todo o seu potencial dramático.
Outro grande destaque, apesar de tímido e também mal trabalhado, é Tatiana Maslany como Pietra, como o “par” do homem que Erin persegue o filme todo. Ela só vai aparecer melhor da metade para o fim, desperdiçando todo o potencial da personagem.
O Peso do Passado é aquele típico filme que não dá para perder pura e simplesmente por conta da presença de Nicole Kidman, que entrega uma de suas melhores atuações, já que os outros elementos são todos comprometidos em vários momentos.
Como diria um grande amigo, que também escreve para o BLAH!Zinga: desliguem os celulares e boa diversão!
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Destroyer
Direção: Karyn Kusama
Elenco: Nicole Kidman, Toby Kebbell, Tatiana Maslany
Distribuição: Diamond Films
Data de estreia: qui, 17/01/19
País: Estados Unidos
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Duração: 123 minutos
Classificação: 16 anos