CRÍTICA | ‘O Vale do Amor’ tem qualidades, mas está longe dos melhores trabalhos da dupla Depardieu-Huppert

Wilson Spiler

Isabelle (Isabelle Huppert) e Gérard (Gérard Depardieu) perderam o filho há seis meses, por suicídio. Ainda em fase de luto, eles recebem uma curiosa carta do falecido pedindo para encontrá-los no Vale da Morte, nos Estados Unidos, e, intrigados, aceitam deixar as diferenças de lado e fazer a viagem. Essa é a – boa – premissa de O Vale do Amor, novo filme da famosa dupla francesa que já encantou o mundo em “Corações Loucos” (1974) e que não trabalhava junta desde de “Loulou” (1980), ou seja há 35 anos.

O longa, que estreia nesta quinta-feira (22/09), é irregular, mas tem suas qualidades. A começar pelos protagonistas, que, curiosamente, interpretam eles mesmos, gerando boas piadas durante o filme. A atuação dos dois, aliás, é a melhor coisa de O Vale do Amor. Vale destacar também a bela fotografia. Dirigido e escrito por Guillaume Nicloux, o longa mostra-se um drama bem construído, com uma temática pesada e profunda, onde trata a questão do suicídio na visão de quem ficou: os pais. No entanto, a produção começa a se perder quando começa a enveredar para o lado sobrenatural da história, ainda que possamos entender esses momentos como metáforas para simbolizar as mentes transtornadas de quem perdeu o primogênito de forma tão trágica. No entanto, em momento algum, a película deixa claro do que se trata.

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Guillaume Nicloux, responsável pelo interessante “A Religiosa” (2013), mostra novamente talento ao criar um clima de tensão e angústia no decorrer da obra. Cenas como a do suposto ataque sofrido por Isabelle Huppert e a da aparição de um “mensageiro” para Gérard Depardieu, além do desespero da dupla já perto do fim, são impecáveis, mas o desfecho é pífio, sem criatividade. A ideia de deixar em aberto a conclusão é bacana – embora nada original -, mas foi feita de forma abrupta e pareceu mais uma falta de solução para o problema enfrentado pelo roteiro do que pensada mesmo.

Salvo principalmente pelas atuações, O Vale do Amor não é uma falta de tempo, mas está longe dos melhores trabalhos da dupla Depardieu-Huppert. Apesar disso, deixa uma mensagem interessante de respeito e perseverança. Para quem está acostumado com o cinema francês, o ritmo lento e os inúmeros –  e alguns longos diálogos – não vão incomodar (há até uma espécie de monólogo nas leituras das cartas). Já quem não é adepto dessa “terapia”, há outras produções mais indicadas para isso.

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:

Título original: The Valley of Love
Direção: Guillaume Nicloux
Roteiro: Guillaume Nicloux
Elenco: Isabelle Huppert, Gérard Depardieu, Dan Warner
Distribuição: Imovision
País: França
Gênero: drama
Ano de produção: 2016
Duração: 93 minutos
Classificação: 12 anos

Wilson Spiler

Will, para os íntimos, é jornalista, fotógrafo (ou ao menos pensa que é) e brinca na seara do marketing. Diz que toca guitarra, mas sabe mesmo é levar um Legião Urbana no violão. Gosta de filmes “cult”, mas não dispensa um bom blockbuster de super-heróis. Finge que não é nerd.. só finge… Resumindo: um charlatão.
NAN