CRÍTICA #1 | ‘Operação Red Sparrow’ não passa de um suspense de espionagem mediano
Renan Almeida
Filmes sobre espionagem já foram mais simples: um agente elegante e habilidoso precisava impedir um vilão excêntrico de colocar em prática seu plano mirabolante. Atualmente, o realismo é mais valorizado dentro do gênero, o que faz com que os realizadores optem por tramas políticas e psicológicas, dispensando o uso de dispositivos ultrassofisticados com as mais diversas e inusitadas funções. Com o objetivo de manter o espectador engajado, esses filmes constantemente empregam reviravoltas e personagens cujas motivações e verdadeiras intenções permanecem, na maior parte do tempo, ocultas. Operação Red Sparrow (Red Sparrow), novo projeto do cineasta austríaco Francis Lawrence (responsável por filmes razoáveis como Eu Sou a Lenda, Constantine e alguns capítulos da saga Jogos Vorazes), até consegue provocar engajamento, mas o resultado final é, no mínimo, ambíguo.
CRÍTICA #2 | ‘Operação Red Sparrow’ é entretenimento garantido, mas com trama complicada
Baseado no livro homônimo de Jason Matthews, o longa conta a história de Dominika Egorova (Jennifer Lawrence), uma bailarina que, ao ver-se impossibilitada de dançar por conta de uma lesão na perna, passa a trabalhar para o governo russo após seu tio (Matthias Schoenaerts) recrutá-la para uma missão. Contrariada e sem opções, ela vai para uma escola de formação de agentes, a Sparrow, onde deverá aprender habilidades úteis a qualquer espião, como arrombamento de portas e a sedução com o objetivo de manipular e extrair informações.
Após um prólogo eficiente no sentido de apresentar os personagens essenciais à trama e as motivações da protagonista, o filme parece partir rumo a uma direção ousada, deixando o espectador com a impressão de estar vendo um thriller erótico, ainda mais quando um nu frontal masculino surge em cena. No entanto, quando sobem os créditos finais, tal impressão se desvanece, pois, ao longo de toda a projeção, Dominika pouco utiliza as técnicas de manipulação sexual aprendidas, e o referido nu frontal masculino parecer servir como uma mera desculpa para a exploração despreocupada e constante do corpo de Jennifer Lawrence. Não há como não observar, além do mais, a incompetência da protagonista como agente secreta, tendo que contar muitas vezes com a sorte e/ou com a ajuda de terceiros. E por mais que seu tio Vanya insista a todo instante que ela é especial, somos incapazes de compreender exatamente por que. Chega a ser impressionante ver o quanto o governo russo está disposto a perdoá-la pelos seus erros.
O filme, aliás, ainda tenta nos deixar confusos quanto às verdadeiras intenções de Dominika, mas conseguimos facilmente adivinhar quais serão seus próximos passos, uma vez que seus sentimentos por Nate (Joel Edgerton) ficam cada vez mais evidentes ao longo da narrativa. A previsibilidade é o pior dos pecados em uma história sobre agentes duplos, segredos de Estado e planos ultrassecretos. O que não fica muito claro é o que realmente está em jogo naquela missão. É função de Dominika descobrir quem é o informante da CIA, mas quais informações este repassa aos americanos e qual o impacto de tais informações é algo que fica um tanto nebuloso. Nesse aspecto, o longa possui alguma similaridade com Atômica (2017), outro filme recente sobre espionagem que trazia o mesmo problema. Este último, contudo, trazia intensas e empolgantes cenas de ação que, em certa medida, compensavam a fragilidade do roteiro. Com Operação Red Sparrow (que constantemente fico tentado a escrever Red Wheelbarrow, mas isso é outra coisa) é diferente: não há sequências de ação empolgantes para compensar a história morna. O ritmo do filme é outro elemento que pode desagradar a audiência ansiosa por energia e agilidade, embora, é claro, narrativas mais lentas não sejam necessariamente piores (basta tomar como exemplo o também recente – e ótimo – Blade Runner 2049).
Apesar de o elenco contar com nomes de peso, nenhum deles particularmente se destaca. A estrela Jennifer Lawrence, que geralmente é boa, não consegue trazer uma performance intrigante, falhando em fazer sua personagem parecer letal e perigosa, embora certamente seja sexy. Jeremy Irons, por sua vez, não vai além de uma atuação burocrática, bem como Joel Edgerton. No papel da mãe de Dominika, Joely Richardson chega a causar vergonha-alheia, tamanha a preguiça em sua composição. Mary-Louise Parker não fica para trás, beirando a caricatura numa cena em que sua personagem encontra-se bêbada. O ator belga Matthias Schoenaerts está bem, mas nada além disso, enquanto o versátil Ciarán Hinds possui pouquíssimo tempo em cena.
Entretanto, provavelmente o pior defeito do filme é seu maniqueísmo. Não obstante contar com uma protagonista russa, Operação Red Sparrow representa quase um retrocesso na representação dos russos no cinema americano. O contraste fica evidente nos diferentes tipos de interrogatórios empregados pelos estadunidenses e pelos eslavos. Enquanto os primeiros utilizam um polígrafo, os últimos submetem os interrogados a uma rotina de torturas. Embora os dois métodos se mostrem falhos, fica estabelecida a contraposição entre o civilizado e o bárbaro. O filme ainda esboça um comentário sobre a relação dos cidadãos com o Estado em seus respectivos países, sugerindo que em ambos eles só possuem valor quando são úteis aos poderosos, mas os EUA acabam figurando, mais uma vez, como a terra da liberdade, já que o refúgio lá se constitui como aspiração na vida de determinado personagem em certo momento.
Sem embargo, os problemas apontados acima não são suficientes para classificar Operação Red Sparrow como um filme péssimo. Suas qualidades existem e merecem atenção. Em primeiro lugar, há um clima de tensão crescente que consegue prender a concentração do espectador, encontrando seu ápice em uma cena perto do final que envolve o personagem de Joel Edgerton e um aparelho utilizado em procedimentos de enxerto de pele (e isso é o máximo que pode ser dito sem revelar demais). Em segundo, o filme é bem realizado, contando com uma boa fotografia e uma boa direção de arte, que emprega o vermelho do título em diferentes objetos de cena e em diferentes cenários. A trilha sonora também harmoniza bem com a atmosfera da história.
Assim, o longa de Francis Lawrence se mostra um suspense de espionagem mediano, lento e pouco surpreendente. Suas quase duas horas e vinte minutos são um exagero, especialmente quando se constata que algumas sequências são subaproveitadas na narrativa. Com um pouco de disposição e boa vontade, é até possível conseguir se entreter, mas talvez o fato de isso ser necessário conte mais contra do que a favor do projeto.
::: TRAILER
::: FOTOS
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Red Sparrow
Direção: Francis Lawrence
Elenco: Jennifer Lawrence, Joel Edgerton, Matthias Schoenaerts
Distribuição: Fox
Data de estreia: qui, 01/03/18
País: Estados Unidos
Gênero: suspense
Ano de produção: 2017
Classificação: 16 anos