Crítica de Filme | Orgulho e Preconceito e Zumbis
Alyson Fonseca
Em 1747, antes de completar seus 21 anos, Jane Austen terminou de escrever a última página do livro Orgulho e Preconceito. Mas, só foi no ano 1813 que a obra foi publicada pela primeira vez, nascia um dos seus maiores clássicos. Originalmente denominado First Impressions, nunca foi publicado sob aquele título. Ao fazer a revisão dos escritos, Jane intitulou a obra e a publicou como Pride and Prejudice. Há possibilidade de Austen ter tido em mente o capítulo final do romance de Fanny Burney, Cecilia, chamado “Pride and Prejudice”.
O escritor, diretor e produtor Seth Grahame-Smith, é um cara de muitos talentos que transformou um presidente americano em um caçador de vampiros, o que mais tarde foi adaptado para o cinema e virou Abraham Lincoln – Caçador de Vampiros, criou uma história para personagens icônicos da Bíblia e trabalhou como produtor e roteirista ao lado de Tim Burton e na série Flash. Ele ousou mexer em um dos maiores clássicos da literatura. O que, à época, pareceu algo absurdo se mostrou uma decisão acertada: bem-humorado e estranho na medida certa, apesar de ter colocado o nome de Jane Austen como coautora, na realidade, a coitada não teve nada a ver com isso e deve ter se revirado no túmulo, trata-se de a adaptação de Orgulho e preconceito e zumbis, que estreia nesta quinta-feira (25/02), em circuito nacional.
Baseado no romance homônico, Pride and Prejudice and Zombies (,no filme, um surto de zumbis se abateu sobre a Terra nesta releitura do conto clássico de Jane Austen que trata das relações e enlaces amorosos entre amantes de diferentes classes sociais na Inglaterra do século XIX. A resoluta heroína Elizabeth Bennet (Lily James) é mestre em armas e artes marciais; e o belo Mr. Darcy (Sam Riley) é um feroz assassino de zumbis e símbolo máximo do preconceito inerente às classes superiores. Mas à medida que o surto zumbi se intensifica, os dois devem deixar o orgulho de lado e unir forças no campo de batalha encharcado de sangue, a fim de acabar com o exército morto-vivo de uma vez por todas.
Eis que surge a exuberante Elizabeth Bennet vivida pela linda e delicada Lily James (Cinderela), mestre em artes marciais e no manejo de armas, uma jovem independente, objetiva e voluntariosa. Mas que não perde, em nenhum momento sua beleza. Ela é uma garota determinada que mora com os pais e com as irmãs. Elizabeth precisa enfrentar a sua própria mãe (Sally Phillips) que sonha em casar as filhas com bons partidos da região. As circunstâncias mortais do momento a obrigam a uma aliança com o sr. Darcy, aqui interpretado Sam Riley (Malévola) ele faz um cavalheiro charmoso, porém arrogante, de quem ela desgosta profundamente, mas cujas habilidades prodigiosas como matador de zumbis ela aprecia com grande relutância. Deixando de lado os preconceitos pessoais e sociais, Elizabeth e o sr. Darcy se unem no sangrento campo de batalha para livrar o país da ameaça zumbi.
A diferença entre Jane Austen e Seth Grahame-Smith, todos os personagens estão em um ambiente hostil, cheio de zumbis. Darcy é basicamente um caçador de mortos-vivos e as garotas estão muito longe de serem indefesas. Neste sentido, o filme tem seu valor ao oferecer personagens femininas independentes e fortes, o que vai alegrar e muito as feministas de plantão.
Entre um famoso chá das cinco e uma dança em um baile, as moças matam zumbis – transformados por uma pandemia que assola a Inglaterra. O fato de as irmãs Bennet terem treinado artes marciais na China – ao invés de no Japão, como toda moça elegante de sua época – é motivo de preconceitos na alta sociedade. Mas, o fato é que elas são as melhores quando o assunto é decapitar a cabeça de um morto-vivo.
Se o problema está entre os amantes de Austen em não aceitar este mashup é bom esquecer tudo isso e ir ao cinema já na estreia para que o espectador possa testemunhar o quão a intertextualidade presente nesta obra lhe caiu tão bem. O roteiro, escrito pelo próprio diretor do filme encaixa com sucesso zumbis na trama de Austen. Causam graça pelo estranhamento inicial mas logo se perdem na repetição das cabeças rolando e nas idas e vindas dos casais apaixonados ou não tão apaixonados assim.
Em um filme que por pouco não foi dirigido por O elenco conta ainda com as presenças de Matt Smith (Doctor Who), Charles Dance (O Jogo da Imitação), Lena Headey (300) e Jack Huston (Uma Longa Jornada). Este último interpreta George Wickham e talvez seja o ponto mais fraco da produção. O ator entrega uma performance caricata e desinteressante. A necessidade de se criar um antagonista principal também soa forçada, afinal não existem antagonistas melhores que os próprios zumbis.
O filme, que quase foi dirigido por David O. Russell (Joy: O Nome do Sucesso) e estrelado por Natalie Portman(Cisne Negro) que limitou-se trabalhar na função de produtora e Lily Collins (Simplesmente Acontece), acabou nas mãos do desconhecido Burr Steers (17 Outra Vez), que desempenha com êxito a sua função de diretor. Os destaques estão também na ótima maquiagem, figurino de época e dos impressionantes efeitos visuais.
Steers chega a introduzir o tema política no filme tocando em questões sociais, quando os ricos conseguem proteger suas casas e os pobres são abandonados.
Orgulho e Preconceito e Zumbis é muito divertido, o elenco ajuda muito com o excelente Charles Dance, na pele do Mr. Bennet. E conta com zumbis bem diferentes daqueles com os quais os espectadores estão mais que acostumados e isso garante alguns momentos interessantes ao longo de toda narrativa, apesar dos sustos serem raros. No final das contas, vale a pena a galera e curtir essa inusitada aventura apocalíptica na tela gigante.
Trailer:
FICHA TÉCNICA:
Título Original: Pride and Prejudice and Zombies
Ano: 2016
Estreia: 25/02/2016
Gênero: Comédia, Romance, Terror
Duração: 107 min.
Classificação: 12 anos
Roteiro: Burr Steers
Direção: Burr Steers
Elenco: Lily James, Sam Riley, Matt Smith, Douglas Booth, Lena Headey, Bella Heathcote, Jack Huston, Charles Dance, Suki Waterhouse, Emma Greenwell, Sally Phillips
Distribuição: Sony Pictures do Brasil
Acesse o site oficial do filme, clicando aqui.