CRÍTICA | ‘Os Brinquedos Mágicos’
Alvaro Tallarico
Toy Story made in China.
Um caprichoso senhor faz bonecos de porcelana artesanalmente. Até que, enquanto finaliza a boneca Mei, sofre uma perda. Assim começa Os Brinquedos Mágicos (Tea Pets), um tipo de Toy Story genérico chinês, guardadas as devidas proporções.
Leia mais:
– EM COLETIVA DE ‘BACURAU’, ELENCO FALA SOBRE MARIELLE, CENSURA E NORDESTE
– CINÉPOLIS ANUNCIA COMBO “TRIPLO” DE ‘IT: CAPÍTULO 2’!
– ‘YESTERDAY’ | CONHEÇA OUTROS FILMES INSPIRADOS NOS BEATLES
Os personagens
O boneco Nathan é um Woody do Kung Fu, meio falastrão, mas cheio de estilo. Suas coreografias e gestos de artes marciais são bem bacanas. Esse carinha tem uma frustração: quer mudar de cor quando jogam água nele (?), assim como ocorre com todos seus colegas. OK, tento explicar. Ele é um bonequinho de argila feito para a coleção de chá de seu criador. As obras do Mestre dos Bonecos mudam de cor quando o chá quente é derramado sobre elas. É um costume oriental dispensar o primeiro gole em homenagem aos antepassados. Nathan é o único da coleção que não muda de cor, e, por isso, sofre com a falta de respeito dos colegas, inclusive sendo acusado de baixa produtividade por não fazer sucesso com os clientes. Ponto relevante para refletir sobre a atual cultura chinesa.
Aí então surge o Buzz Lightyear da história, um robô tipo bola, que me lembrou o personagem Ball Boy, do seriado tokusatsu Machine Man, de 1984, exibido no Brasil pela Bandeirantes em 1990, pela Record em 1993 e depois também na NGT.
A trama
A saber, Futurobô está em busca de saber quem é, pois, supostamente, veio do futuro; Nathan acha que juntando-se a ele conseguirá descobrir uma forma de mudar de cor. A animação tem muita qualidade técnica, detalhes de textura, por exemplo. Devido às claras diferenças culturais, perdemos muitas piadas e referências. Mas dá para perceber muito de Matrix, Missão Impossível, Wall-E, Ratatouille, e tantos outros. Dentro do cenário tecnológico, muitos ocidentais alegam que a China segue a prática de copiar e melhorar (Confúcio: “Devemos copiar o que admiramos, para depois superá-lo”) ficando no meio do caminho entre inovação e pirataria.
Sendo assim, o filme acaba falando muito mais sobre a China do que aparenta como a busca por equilíbrio entre tradição (Nathan) e tecnologia (Futurobô). E, vejam só, Futurobô é um robô doméstico que não quer receber ordens! Porém, Nathan que ser igual aos outros, adaptar-se. Ficam outros ensinamentos milenares no ar. Como a de que sempre haverão ratos tentando lhe desviar do caminho certo e a importância de viver o presente. O budismo ensina que temos apenas o aqui e agora.
Os Brinquedos Mágicos, sobretudo, é um conto chinês dirigido e escrito por Gary Wang, sobre amizade, com aquela pitada clássica do herói procurando resgatar seu amor. O roteiro não é muito bem amarrado ou tem muita justificativa, mas basicamente serve como pano de fundo para muitas cenas de aventura e ação, que até divertem.
Traços e cultura chinesa como destaques
O mais legal dessa animação para nós, ocidentais, é exatamente poder entrar em contato com traços dessa cultura tão rica e distinta. Claro, poderia ter muito mais profundidade, ser menos raso, explorando melhor os paradoxos apresentados.
A única personagem feminina com um mínimo de destaque é Mei, a dama em perigo. Pouca importância, ainda mais nos dias de hoje. Aliás, mais um claro traço da cultura chinesa.
O longa tem duração de 98 minutos, com distribuição pela PlayArte. A versão brasileira é da Unisom, com um ótimo trabalho de dublagem, o qual eleva a relevância e a qualidade do longa-metragem.
Em suma, Os Brinquedos Mágicos é um Pixar genérico, com um apanhado de referências em cima de várias animações famosas e filmes de sucesso, adicionando muitos traços culturais, filosóficos e religiosos como Confúcio, Tao e Buda, os quais explicam muito sobre os chineses e sua relação com o mundo.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Tea Pets
Direção: Gary Wang
Roteiro: Gary Wang
Distribuição: PlayArte
Data de estreia: qui, 22/08/19
País: China
Gênero: animação
Ano de produção: 2019
Duração: 98 minutos
Classificação: Livre