CRÍTICA | Parte II de ‘The Get Down’ é ainda mais explosiva do que a primeira

A segunda parte de The Get Down, produção original da Netflix, consegue ser ainda mais explosiva do que a primeira. Os últimos seis episódios liberados em abril pelo streaming contam como os cinco amigos, Zeke (Justice Smith), também chamado de Books, Shaolin Fantastic (Shameik Moore), Ra-Ra (Skylan Brooks), Dizzie (Jaden Smith) e Boo-Boo (Tremaine Brown Jr.), que compõem o The Get Down Brothers, tentam ascender entre os grupos desse estilo musical, sendo esse a gênese do movimento hip-hop e sobreviver ao contexto político e social em que vivem no Bronx nova-iorquino dos anos 80.

CRÍTICA | ‘The Get Down’ é uma ode à música!

A reinserção do espectador ao universo artístico e inebriante de The Get Down é realizada de maneira natural e envolvente, características que já eram marcantes no início da série. A transição narrativa entre a primeira e a segunda parte traz maiores desenvolvimentos das problemáticas apresentadas anteriormente. Um melhor equilíbrio entre os momentos de tensão e entre a combinação de aspectos culturais negros e latinos também torna as cenas e as narrativas mais aproveitáveis e impactantes. A mistura de caraterísticas do hip-hop com o da cultura disco vigente na época na retratação dos diversos elementos políticos e sociais que influenciavam esses dois movimentos, proporciona o tom certo de dramaticidade e diversão.

Nesse ponto, a série faz com que seja necessário falar sobre a sua edição, fotografia e trilha sonora. Não é surpresa que a produção do diretor Baz Luhrmann (Moulin Rouge, O Grande Gatsby) apresente maravilhas no que diz respeito às músicas e imagens, mas é impossível não se deslumbrar com o que esse musical apresenta. A junção entre cenas altamente dramáticas com incríveis performances, seja dos The Get Down Brothers ou de Mylene (Herizen Guardiola), transforma cada episódio em uma experiência artística repleta de originalidade. Além disso, a utilização de animações em estilo de quadrinhos para ilustrar momentos de importância para a trama e para os personagens acrescenta um tom lúdico à uma série que já é extremamente artística, sensível e bela.

O impacto da Parte II também se apoia na forma como temas densos e dramáticos são abordados no roteiro. Desde a busca da liberdade sexual, individual e artística na relação de Dizzie e Thor e entre Mylene e sua família até a realidade de violência e drogas em que todos estão envolvidos e na qual Shaolin é vítima e perpetuador, tudo é tratado de forma igualmente sensível e crua, quando o roteiro assim pede. Um dos principais temas retratado nessa série é a questão racial e inter-racial e esse é um exemplo de como questões como preconceito podem ser abordadas na TV. É na voz e na perspectiva de Zeke, filho de uma porto-riquenha e um negro, que conhecemos um pouco de como é enfrentar uma sociedade tão racista e hostil como a estadunidense dos anos 80.

Personagens que já tinham sido estabelecidos e já eram amados na primeira parte ganharam maior complexidade e continuaram a serem explorados, assim, um dos principais atrativos da série continuou sendo as figuras marcantes e apaixonantes. O desenvolvimento de Mylene e de Cadilac (Yahya Abdul-Mateen II) são exemplos de amadurecimento e aprofundamento na psique dos personagens. E tal desenvolvimento ainda é acompanhado por um roteiro sólido, que ao mesmo tempo em que explora diversas nuances de um universo complexo e muitas vezes injusto apresenta uma história divertida, provocante e emocionante de se assistir.

The Get Down é uma série musical como nenhuma outra. Além do deleite imagético e sonoro, apresenta também um roteiro profundo e bem trabalhado sobre temas que ainda são atuais, como o preconceito racial, o fanatismo religioso, a desigualdade econômica e social e a falta de qualquer tipo de liberdade para todos aqueles que de alguma forma estão à margem da sociedade. O equilíbrio e a combinação entre os elementos artísticos e a realidade é uma das principais características da série e um dos seus maiores atrativos. A experiência audiovisual e as reflexões pessoais e sociais que ‘The Get Down’ proporcionam são marcantes e inebriantes.

TRAILER:
https://youtu.be/bVtGDvEqyZg
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