CRÍTICA | Boas atuações e carisma de Portman não salvam ‘Planetarium’ da desgraça

Bruno Giacobbo

Filmes que abordam o espiritismo, religião criada pelo pedagogo francês Hippolyte Denizard Rivail (também conhecido como Allan Kardeck), no século XIX, não são recentes. Muito pelo contrario e constituem um filão bastante lucrativo. Entre os longas estrangeiros mais famosos estão “Ghost – Do Outro Lado da Vida” (1990), “Amor Além da Vida” (1998) e “Um Olhar do Paraíso” (2009). Por aqui, no Brasil, as obras de maior destaque até hoje foram “Nosso Lar” (2010) e “E a Vida Continua” (2012). O problema em relação a este subgênero cinematográfico é que, diversas vezes, as produções são feitas de forma canhestra ou dão uma visão superficial sobre o tema. Planetarium, dirigido e roteirizado por Rebecca Zlotowski, tinha a chance de romper com estas duas barreiras, porém falhou e entrou para o time de películas esquecíveis.

mv5bzdu5m2rjotetntczmc00odm2ltgxngmtmjq1njq5ngrhyzi1xkeyxkfqcgdeqxvymjcynjezndk-_v1_As protagonistas desta história são as Irmãs Barlow, Laura (Natalie Portman) e Kate (Lily-Rose Depp). Elas viajam o mundo realizando apresentações onde invocam e conversam com espíritos. Na verdade, apenas Kate, a caçula, tem poderes mediúnicos. É através dela que os mortos fazem contato. Já Laura atua como maestrina de cerimônias, negocia contratos e gerencia a carreira delas. O uso da expressão “maestrina de cerimônias” não foi aleatório, uma vez que as apresentações estão mais para shows, totalmente desprovidos de conotação científica ou religiosa. A prova disto é que eles são realizados, por exemplo, em cabarés e outros estabelecimentos reputação duvidosa. Nesta toada, elas vão vivendo.

Um dia, durante uma apresentação em Paris, as Barlow conhecem André Korben (Emmanuel Salinger), um milionário que fica impressionado com o show e resolve contratá-las para uma sessão particular, na sua mansão. De novo, ele não se decepciona e após revelar que trabalha como produtor cinematográfico para um importante estúdio, faz uma proposta irrecusável: rodar um filme que dará notoriedade internacional as irmãs. Sem pensar muito, Laura aceita. De fato, é uma oportunidade única. Só pode dar certo. Kate tem poderes e ela possui carisma. Proposta aceita, produção iniciada e, claro, aos poucos, tudo começa a dar errado para elas e para o filme de Zlotowski.

Planetarium é uma obra pretensiosa. Sua abertura, repleta de cores que mais parecem um letreiro de neon e estrelas no firmamento, é estilosa. Naquele breve instante, vende ao público a sensação de que algo bom vem pela frente. Contudo, fica apenas na intenção. A história é tão confusa quanto pretensiosa. Inicialmente, parece focar no trabalho das irmãs e na doutrina espírita. Em uma primeira guinada, a trama se desloca para os bastidores da indústria do cinema. Depois, versa com a mesma superficialidade sobre temas como antissemitismo, pederastia e pedofilia (este último nas entrelinhas). Assim, o filme não diz nada e não vai a lugar nenhum. É uma transamazônica feita de frames, numa referência àquela rodovia sem utilidade que foi construída na floresta. Em meio a este caos, a boa atuação de Salinger e o carisma de Portman são insuficientes para salvar todo o resto da desgraça.

Desliguem os celulares.

*(Filme visto no 18º Festival do Rio)

TRAILER:

FICHA TÉCNICA:
Direção: Rebecca Zlotowski
Roteiro: Rebecca Zlotowski, Robin Campillo
Produção: Frédéric Jouve
Elenco: Natalie Portman, Lily-Rose Depp, Emmanuel Salinger
Edição: Julien Lacheray
Música: Robin Coudert
Duração: 106 minutes
País: França, Bélgica

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN