CRÍTICA | Embora tenha bons momentos, ‘Polícia Federal: A Lei é para Todos’, por vezes, esquece de ser um filme
Pablo Bazarello
Este ano, dois filmes remexeram o caldeirão ideológico e político no qual se encontra a sociedade brasileira, enfatizando tal discordância. Primeiro, “Real: O Plano por Trás da História”, lançado em maio, e agora este Polícia Federal: A Lei é para Todos. As semelhanças entre os dois, no entanto, terminam nas acusações e boicotes, já que pouco no contido em seus roteiros e sua forma se assemelha. Enquanto Real apresentava os bastidores do plano econômico que salvou o Brasil da falência – muito mais na verve de algo criado por Aaron Sorkin, devido ao falatório afiado por trás dos panos – Polícia Federal é um relato didático e semidocumental que, por vezes, esquece de ser um filme.
O roteiro escrito por Gustavo Lipsztein e Thomas Stavros transcreve os escândalos recentes envolvendo figurões do cenário brasileiro, sejam políticos ou empresários, na maior operação policial contra a corrupção que o país já viu. De fato, o texto não esquece de brincar (seria engraçado se não fosse trágico) sobre o quão entranhada está a veia corrupta em nossa DNA – desde a colonização. Como dito, a história acompanha um grupo de policiais federais, encabeçados por Ivan (Antonio Calloni), que seguindo uma pista sobre tráfico de drogas, chegam até crimes políticos muito mais escabrosos, levando até o ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, vivido no longa de forma imponente pelo grande Ary Fontoura – que só dá as caras no terceiro ato do longa, porém, dono de uma presença marcante.
Quem acompanha as investigações da Lava Jato, nome dado à operação policial, perceberá encenadas algumas das situações que conhece bem, repercutidas incansavelmente através dos noticiários. Essa verossimilhança televisiva é justamente o calcanhar de Aquiles de Polícia Federal, que poderia utilizar de certa romantização (ou utilizar mais) na hora de confeccionar situações ou personagens, dando a eles ares verdadeiramente cinematográficos. É o que ocorre com “Real”, e esta é mais uma diferença entre os longas. O Gustavo Franco de Emílio Orciollo Netto transcende sua contraparte real, se tornando um personagem memorável, permitindo que o público embarque em sua psique, mesmo não concordando com o falho protagonista. Em Polícia Federal, a opção é por um ensemble, onde não há protagonistas definidos e a trama em si, os fatos, são o mais importante.
Apesar dos diálogos em sua maioria apenas cumprirem tabela, movendo a trama adiante sem prejudicar, mas não imprimindo-os em nossa mente, existem alguns momentos memoráveis no longa, que talvez sirvam para justificar sua imparcialidade. Durante um almoço de família, o policial Julio Cesar (Bruce Gomlevsky) precisa explicar para o pai que não existe perseguição partidária. No entanto, o melhor momento do longa, que joga uma luz sobre uma situação que talvez nunca mude, é a cena o bar com Antonio Calloni, quando o líder da operação se questiona sobre seu resultado.
Apesar da montagem eficiente e todos os elementos que compõem uma boa produção cinematográfica estarem no lugar, existe sim uma sensação de que algo está faltando para diferenciá-lo de um telefilme, ou um episódio de estreia de uma série de TV (tirando uma boa cena de ação) – que inclusive já consigo ver adaptado para as telinhas. A direção é de Marcelo Antunez, mais acostumado com comédias, vide “Qualquer Gato Vira-Lata 2” (2015), “Até que a Sorte nos Separe 3” (2015) e o bem duvidoso “Um Suburbano Sortudo” (2016). Este é o pulo do gato em sua carreira, seu trabalho mais arriscado e satisfatório.
Em tempo, na ausência da terceira parte de “Tropa de Elite”, que provavelmente jamais virá, Polícia Federal: A Lei é para Todos e “Real: O Plano por Trás da História” combinados podem suprir um pouco esta necessidade, de um cinema impactante, fervoroso e vendável.
::: TRAILER
::: FOTOS
::: FICHA TÉCNICA
Direção: Marcelo Antunez
Elenco: Marcelo Serrado, Antonio Calloni, Flávia Alessandra
Distribuição: Downtown/Paris
Data de estreia: qui, 07/09/17
País: Brasil
Gênero: policial
Ano de produção: 2016
Duração: 107 min.
Classificação: 12 anos