CRÍTICA | Prazer é a palavra-chave em ‘Power Rangers’

Bruno Giacobbo

A famosa série de televisão, que durante alguns anos povoou a imaginação da garotada que acordava para ver os heróis multicoloridos na tela da Globo, está de volta em grande estilo. Desde o anúncio de que uma nova película dos Power Rangers (idem) seria feita, muito foi especulado. Mais uma obra genérica ou um produto com personalidade própria? Tendo em vista a pretensão dos produtores de gerarem uma franquia de até sete longas, a opção era óbvia. Com um elenco de jovens atores e cantores, liderados por nomes mais experientes como Bryan Cranston e Elizabeth Banks, a missão foi cumprida com êxito. O resultado final é repleto de personalidade e referências que farão a alegria dos fãs, sem excluir quem cair de paraquedas em umas das ruas da bucólica e fictícia Alameda dos Anjos, cidade onde toda a ação transcorre.

O filme começa 65 milhões de anos atrás. Muito antes dos humanos governarem o planeta Terra. É a era dos dinossauros. Este preâmbulo serve para o público se situar no quem é quem da luta do bem contra o mal. Uma batalha, ação desenfreada e nenhum vencedor. Este início agitado pode criar a falsa expectativa de que esta será a velocidade da trama. Um ledo engano. A história se desloca para os dias de hoje e somos apresentados aos protagonistas: Jason Scott (Dacre Montgomery), o craque e capitão do time de futebol americano, Kimberly Hart (Naomi Scott), uma das meninas populares, e Billy Cranston (RJ Cyler), o nerd genial e antissocial. Adolescentes como qualquer outros de uma escola secundarista, eles se conhecem na biblioteca, de castigo, num sábado de sol, em uma referência bastante explícita ao clássico teen “Clube dos Cinco” (1984), de John Hughes.

Este não é apenas um longa de super-heróis que Zack Snyder ou Matthew Vaughn, em seus melhores dias, assinariam com prazer. Aliás, prazer aqui é a palavra-chave. Tudo foi feito com imenso prazer. Devido a boa parte de sua história acontecer nos bastidores de um colégio, pegando, assim, características das obras de Hughes, este é um filme divertidíssimo, nascido do inusitado encontro entre estes dois subgêneros, algo que não ocorre no exitoso “Círculo de Fogo” (2013), de Guillermo Del Toro. O longa de Del Toro possui o ritmo que o preâmbulo deste promete, enquanto, aqui, há uma cuidadosa construção de personagens e ela acontece justamente nestes momentos de diversão. Por falar em personagens, existem mais dois que eu ainda não citei (grupos ou equipes como os Power Rangers, os chamados “super sentai”, são formados, quase sempre, por cinco integrantes): Zack Taylor (Ludi Lin) e Trini Kwan (Becky G).

Se estes cinco personagens formam o time de heróis em si, outros remanescentes da série de TV também estão de volta. O ótimo Bryan Cranston empresta seu vozeirão (e corpo) para o misterioso Zordon, o mentor dos jovens guerreiros. Já Elizabeth Banks é a temível Rita Repulsa, a arquirrival dos rangers. Como este filme é um reboot da trama original, se preparem para as surpresas. O roteirista John Gatins teve uma dose razoável de liberdade criativa na hora de aprofundar a história pregressa da dupla. A qualidade do trabalho do autor se faz notar, ainda, nos diálogos afiados e nas referências pops a franquias como, por exemplo, “Transformers”. Uma curiosidade: ao contrário do que algumas pessoas podem vir a dizer ou a escrever, não foi uma espécie de piada interna Billy e Bryan terem o mesmo sobrenome. Este sempre foi o nome completo do personagem. Basta consultar o IMDB.

E as cenas de luta e ação são boas? Vocês devem estar se perguntando. Sim, elas são. Tanto as iniciais, como aquelas que envolvem os protagonistas. Talvez, não possuam a pujança que Del Toro imprimiu no seu já supracitado filme, mas isto é facilmente explicado pela pouquíssima experiência de Dean Israelite à frente de obras com orçamentos vultosos (US$ 105 milhões, a maior parte investida em ótimos efeitos especiais e robôs de combate). Apesar disto, o diretor conseguiu conduzir Power Rangers com segurança. Para dar continuidade ao planejamento da franquia envolvendo sete longas, pode ser que um cineasta mais rodado seja necessário. Contudo, este não é um assunto para ser discutido neste momento. A hora é de comemorar o sucesso da empreitada inicial.

Desliguem os celulares e ótima diversão.

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FICHA TÉCNICA:
Título original: Power Rangers
Direção: Dean Israelite
Elenco: Naomi Scott, Dacre Montgomery, Ludi Lin, RJ Cyler, Becky G., Elizabeth Banks, Bryan Cranston
Distribuição: Paris Filmes
Gênero: ação
País: Estados Unidos
Ano: 2015
Classificação: 10 anos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN