CRÍTICA | ‘Rita’: desbocada, irreverente e transgressora

Giselle Costa Rosa

Sabe aquela mulher que todos gostam de falar mal porque sentem inveja do modo livre como leva a vida? Rita (Mille Dinesen) é essa mulher, mãe, professora de 42 anos do ensino médio em uma escola pública, protagonista franca, direta e sem papas na língua da série homônima.

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A produção dinamarquesa ‘Rita’ é de 2012 e conta com três temporadas, num total de 24 episódios,  retratando a vida dessa professora, um tantinho louca e PhD em não seguir regras. Mas o faz com muito propósito. E isso é exacerbado em sua relação com os alunos, mostrando ser uma professora extremamente dedicada, nessa série que ousa abordar questões escolares complexas com grande naturalidade, sensibilidade e precisão.

Rita, e sua inseparável camisa xadrez, é uma personagem tremendamente complexa que tem uma maneira diferente de ver e viver a vida. Separada, alérgica ao compromisso e com três filhos, tenta desde sempre conciliar trabalho e vida familiar, resolvendo os problemas à sua própria maneira. A atriz Mille Dinesen desperta empatia e, de alguma forma, faz o espectador compreender os seus sucessos e erros, trabalhando bem as nuances da personalidade de sua personagem.

Rita, seus filhos e futura nora

Seus três filhos estão em diferentes fases: Ricco (Morten Vang Simonsen) vai entrar na idade adulta e torna-se independente com Bitten, sua namorada; Jeppe (Nikolaj Groth) é brilhante na escola e irá gradualmente descobrindo a sua sexualidade; e, finalmente, Molly (Sara Hjort Ditlevsen), com alguma incerteza vital e problemas em estudos, é a mais sensível. A forma de levar a vida de Rita traz problemas junto a seus filhos que acabam se distanciando dela.

Politicamente incorreta, ela é uma menina no corpo de um adulto. E para além disso, uma transgressora de normas e limites estabelecidos, incluindo os preceitos morais, em prol da ruptura do sistema arcaico que a cerca. Com isso, Rita não está simplesmente tentando subverter a ordem, mas trazer uma nova solução para velhos problemas.

Apesar do sistema educacional mostrado em ‘Rita’ ser muito diferente do nosso, ao fazerem um retrato dos problemas do sistema de ensino público na Dinamarca, discutem tópicos comuns a todos como bullying, discriminação racial, pais super protetores, sexualidade, etc.

O roteiro trata os problemas propostos com precisão e grande sensibilidade e se sai muito bem ao se concentrar em questões escolares. Poucas ficções abordam questões e o ambiente escolar com tamanha naturalidade. Os diálogos merecem destaque, trazendo realismo à série.

‘Rita’ é uma mistura perfeita de drama e comédia; além de desfrutar de uma personagem feminina forte. Para quem gosta de ficção de qualidade essa é uma boa pedida.

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Giselle Costa Rosa

Integrante da comunidade queer e adepta da prática da tolerância e respeito a todos. Adoro ler livros e textos sobre psicologia. Aventuro-me, vez em quando, a codar. Mas meu trampo é ser analista de mídias. Filmes e séries fazem parte do meu cotidiano que fica mais bacana quando toco violão.
NAN