CRÍTICA | ‘Sing – Quem Canta Seus Males Espanta’ é uma divertida animação

Rafael Melo

Além de entreter, animações assumiram em seu DNA a característica de não apenas divertir como também a de convidar seu público para refletir sobre questões reais através do tecido lúdico e sutil de suas analogias, geralmente cercadas de elementos fantásticos para não soar de forma tão didática.

Sing – Quem Canta Seus Males Espanta, animação que chega às telonas estrategicamente dia 22 de Dezembro, aproveitando o combo  hype natalino + férias escolares, tem uma missão e tanto: nos falar sobre sonhos e frustrações.

A animação dirigida por Garth Jennings e produzida pela Illumination Entertainment – mesmo estúdio de “Meu Malvado Favorito” – nos conta a história de Buster Moon, um simpático coala proprietário de um antigo teatro que imerso em dívidas, decide realizar um concurso de canto como solução de seu pesadelo orçamentário.

Até aqui, o mais curioso é a forma como Buster Moon percorre o seu caminho até o momento dos acontecimentos narrados no longa: sempre guiado por seus sonhos, abusando do otimismo e não medindo consequências de suas ações.

Quando criança, Moon se apaixona pelas produções teatrais ao assistir pela primeira vez um espetáculo, e então promete a si mesmo que será um grande produtor teatral.

Ver que o personagem chegou onde queria, mas jamais imaginou ter de lidar com os vieses naturais de qualquer empreendimento nos faz ponderar sobre a carga romântica que permeiam nossos planos, afinal, quem nunca se imaginou astronauta, médico ou advogado, sem sequer considerar os anos de estudo e dedicação que estas profissões exigem.  

Ter de lidar com o ônus de suas conquistas é o plot principal desta produção de Chris Meledandri, que se mostra cada vez mais eficiente em satisfazer o mercado infantil (e adulto também, oras), trazendo à tona sentimentos profundos sob a alegoria de mamíferos fofinhos e irresistivelmente cativantes – vide o sucesso Pets.

Mas Sing não conta apenas à jornada de Buster Moon, cuja voz é originalmente cedida por Matthew McConaughey. Espalhados pela cidade dos bichos, personagens como Rosita (Reese Witherspoon), uma entediada porquinha mãe de vinte filhos (a sequência dela “despachando” seus pequenos para a escola é hilária), o gorila adolescente Johnny (Taron Egerton) que auxilia a gangue de seu pai durante os crimes, Ash (Scarlett Johansson), uma estridente porco-espinho rockeira, Meena (Tori Kelly), uma tímida elefante dona de uma vozeirão e Mike(Seth MacFarlane) um aspirante a Frank Sinatra, são alguns dos calouros que atraídos pelo prêmio de U$ 100.000,00 depositam em suas vozes a esperança de realizar seus sonhos: ser um(a) cantor(a) famoso(a).

Sem grande originalidade, as canções, releituras de clássicos e hits modernos ganham roupagem própria, maquiadas por performances exageradas a lá X-Factor e The Voice, que não cumprem a missão de reforçar as emoções da trama, mas que soam interessantes como âncora para a personalidade de seus interpretes.

Um dos pontos altos da narrativa é seu poder de síntese bastante eficiente, afunilando todas as tramas e estreitando os objetivos das personagens, tornando tarefa fácil se encantar e torcer por cada um deles.

Esteticamente, Sing é um colírio, carinhosamente concebido, dos detalhes premeditados, às linhas arredondas para ressaltar a fofurice das personagens, saltando aos olhos as texturas e dimensões.

Quanto ao roteiro, além dos clichês típicos das animações, como reviravoltas previsíveis e soluções apressadas, Sing é um filme com uma mensagem coletiva bastante forte e necessária para os dias de hoje, nos mostrando que para buscar nossos sonhos precisamos antes de tudo nos libertar deles e ter coragem de enfrentar tudo o que vier por acréscimo.


FICHA TÉCNICA

Título original: Sing
Distribuição: Universal
Data de estreia: qui, 22/12/16
País: Estados Unidos
Gênero: animação
Ano de produção: 2015
Direção: Garth Jennings
Roteiro: Garth Jennings

Rafael Melo

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