CRÍTICA | ‘Sofia’ retrata a consequência de polêmica lei no Marrocos

Giovanna Landucci

Sofia, uma garota jovem de 20 anos, ainda mora com seus pais no Marrocos, em um bairro de elite. Sua mãe tem uma irmã que se casou bem, com um empresário e que mantém relações profissionais com um homem chamado Hamed, que é rico e auxilia a família toda a se estruturar e alavancar seus negócios. Durante um jantar em família, onde Hamed também estava presente, Sofia auxiliando a tirar a mesa se sente mal, sente dores “estomacais” e sua prima oncologista, ao olhar sua barriga, a vê rígida e propõe que fossem a um hospital. Porém, é tarde demais, Sofia sua muito e logo sente uma água escorrer por suas pernas. Era sua bolsa estourando! Negando sua gravidez, a jovem acaba infringindo as leis do país ao dar a luz sendo solteira. O hospital onde sua prima a levou determina um prazo de 24 horas para que ela providencie a documentação do pai antes de informar as autoridades. Correndo o risco de ser presa com uma criança no colo, ela se vê atordoada e arruma um pai assim que lhe perguntam quem é: um ex-colega de trabalho.

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Vencedor do prêmio de Melhor Roteiro na seção Um Certo Olhar, no Festival de Cannes, Sofia tem direção e texto de Meryem Benm Barek  e fotografia de Son Doan, que retratam muito bem a dualidade que o país vive. O pai da criança é de um bairro pobre, diferente da jovem, que vive em área nobre. A contraposição das cores, luz e sombra, e as roupas utilizadas auxiliam a entender o que se passa na narrativa. Dois mundos opostos que se cruzam por um acaso, já que ela e seus pais estão pressionando para conseguir que ele assuma a criança e propondo que seja dito às autoridades que ele a violou. Eles entram em um acordo e há um casamento. A partir daí, muitas coisas serão reveladas, com conflitos familiares, dramas pessoais, traumas e porque ela, por tanto tempo, negou a si mesma que estava grávida. Seu subconsciente simplesmente não registrou a informação e tudo foi descoberto às pressas e da maneira mais absurda possível.

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A história é repleta de tensão familiar, que demonstra toda uma cultura local. Seus princípios falam mais alto, mas já é tarde demais e o consenso que a família chega é prejudicial para muitas pessoas, mas qualquer outra decisão também seria. O dinheiro sempre é o principal tema da história, a honra da família se faz mais importante do que qualquer verdade. Mas quando você toma uma decisão, pode prejudicar a vida de pessoas que não tinham nada a ver com a história.

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Foto: Memento Films Distribution / Divulgação

Os planos fechados, que intercalam entre câmeras em movimento e fixas, fazem com que a história de Sofia se torne cada vez mais interessante e o espectador queira desvendar o que realmente está acontecendo, muitas vezes se sentindo ofegante junto com a garota e seus dramas. Uma jovem que perde o rumo por um momento em que se sente pressionada e que acaba por mudar a vida de um outro jovem por completo.

*Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Sofia
Direção: Meryem Benm’Barek
Elenco: Maha Alemi, Sarah Perles, Hamza Khafif
Distribuição: Mostra de SP
Data de estreia: em breve
País: França, Catar
Gênero: drama
Ano de produção: 2018
Classificação: 16 anos

Giovanna Landucci

Publicitaria de formação, sempre gostei de escrever. Apaixonada por filmes e séries, sim, posso ser considerada seriemaníaca, pois o que eu mais gosto de fazer é maratonar! Sou geek principalmente quando falamos de Marvel e DC. Ariana incontestável, acho que essa citação de Clarice Lispector me define "Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa, ou forte como uma ventania. Depende de quando e como você me vê passar." Ah, como é de se notar pela citação, gosto de livros e poesia também.
NAN