CRÍTICA | ‘Tarde Para Morrer Jovem’ perde conteúdo e empatia pela sua superficialidade

Cadu Costa

Chile. Verão de 1990. Fim do governo do ditador Augusto Pinochet. Um pequeno grupo vive em uma comunidade isolada aos pés da Cordilheira dos Andes na tentativa de construir um novo mundo longe da loucura urbana. Nesse local, Sofía (Demian Hernández), Lucas (Antar Machado) e Clara (Magdalena Tótoro) vivem a adolescência com seus primeiros amores, desejos e medos a espera da festa de Ano Novo.

Encerramento do Festival do Rio é marcado por discursos de resistência e consagra ‘Tinta Bruta’

Esse é o enredo de Tarde Para Morrer Jovem (Tarde Para Morir Joven), de Dominga Sotomayor. A jovem diretora chilena foi a primeira mulher a receber o prêmio de Melhor Direção no Festival de Locarno, na Suíça, em 2018, e também escreveu o roteiro, inspirada em fatos da sua infância.

Repescagem do Festival do Rio começa hoje: confira a programação

De fato, vemos uma história galgada na simplicidade e a adaptação à nova realidade política. Com essa estética naturalista proposta, o longa traz uma visão seca e sem aprofundamentos sobre o grupo de famílias. E mesmo com fotografias belíssimas, é justamente na falta de conhecimento do porquê dos personagens que reside a crítica. Uma temática adolescente é sempre um exemplo de pluralidade. Mas precisa de contexto e sagacidade para funcionar. Basta vermos todos os sucessos recentes de filmes e séries como Stranger Things (2016), IT (2017) ou ‘Verão de 84’ (2018). OK, esses são filmes de gênero? Tudo bem, falemos dos filmes brasileiros Meu Tio Matou um Cara (2004), Podecrêr! (2007) ou As Melhores Coisas do Mundo (2010). São todas películas com diferentes realidades usando a adolescência com inteligência, conhecimento e (i)maturidade. Sem isso, qualquer obra do tipo se perde no lugar comum da idade.

Festival do Rio: CRÍTICA | ‘Se a Rua Beale Pudesse Falar’ consolida Jenkins como o porta-voz da América excluída

Foto: Pandora Filmes / Divulgação

E é o que ocorre com Tarde Para Morrer Jovem, quando em nenhum momento mergulha no drama da comunidade, onde nada é explicado de como foram parar num lugar sem nenhuma estrutura para acolhê-los, ou na personalidade de Sofia que é abandonada pela mãe e assume a responsabilidade de cuidar do restante da família quando tudo mais necessário em sua vida era ser simplesmente adolescente.

Festival do Rio: CRÍTICA | ‘Um Amor Inesperado’ é uma carta de amor em todas as suas formas

O elenco segura a onda, o filme em si é bem filmado mas, Tarde Para Morrer Jovem perde muito em conteúdo e empatia. Fatores determinantes para sucesso com o público. O filme esteve em cartaz no 20º Festival do Rio e na 42ª Mostra Internacional de São Paulo.

*Filme visto no 20º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro

::: TRAILER

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Tarde Para Morir Joven
Direção: Dominga Sotomayor
Elenco: Demian Hernández, Antar Machado, Matías Oviedo
Distribuição: Pandora Filmes
Data de estreia: ter, 06/11/18
País: Chile
Gênero: Drama
Ano de produção: 2017
Duração: 110 minutos
Classificação: 12 anos

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
NAN