CRÍTICA | ‘Tempestade: Planeta em Fúria’ é uma oportunidade desperdiçada
Claudio Dorigatti
Particularmente, tenho uma queda pelos filmes de catástrofes globais, acredito que seja pela demonstração real da insignificância dos seres humanos perante a descomunal força da natureza. Na mesma linha, para que o leitor possa se ambientar numa comparação, temos “Impacto Profundo” (1998), “O Dia Depois de Amanhã” (2004) e “2012” (2009), que seriam os filmes mais próximos ao tema de Tempestade: Planeta em Fúria (Geostorm). No entanto, infelizmente, em todas essas produções citadas, é um clichê recorrente a “utópica super capacidade de superação” do ser humano no caos à beira do precipício, o que infelizmente contraria muito a nossa realidade.
Tempestade: Planeta em Fúria nos apresenta a Terra com um complexo sistema de milhares de satélites que atuam pontualmente para controle climático. No início, é explicado que estávamos à beira do caos climático em 2018 por conta do aquecimento global, então uma força-tarefa de 17 países liderados pelos Estados Unidos e China colocam no ar essa rede de satélites, um manto interconectado, controlados pela estação espacial internacional. O sistema foi batizado de “Dutch Boy”, em referência ao menino holandês que coloca o dedo na rachadura da represa e impede o desastre. Sem muitos detalhes, nos é mostrado que os satélites controlam o clima do planeta pontualmente onde é necessário.
Jake Lawson (Gerard Butler) é o controverso cientista chefe responsável pela construção e operação do equipamento, que, poucas semanas antes do controle do sistema ser passado para uma organização mundial (até o momento, ele era controlado pelos Estados Unidos), é deposto do cargo. A coisa fica um pouco chata quando nos é apresentado Max Lawson (Jim Sturgess), que é irmão do cientista Jake Lawson e um importante nome no governo americano. Acredito que seria perfeitamente possível uma boa história sem ser mais um filme “em família” na trama, mas a participação da filha do cientista em diversos momentos do filme é bem aceitável, contudo essa historinha dos irmãos que não se dão muito bem sendo unidos à força pelo trabalho e caos, sendo obrigados “um a engolir o outro”, é cansativo e batido demais.
Alguns acidentes começam a acontecer dentro da estação de controle e também alguns eventos climáticos extremos em lugares específicos no planeta. Acreditando em falhas graves do sistema, o governo ordena que Max Lawson convoque seu irmão, o cientista Jake Lawson, para subir à estação novamente e resolver os problemas. O restante da trama ocorre em torno dos problemas, que como o trailer do longa já apresenta, não são defeitos propriamente, e o Dutch Boy precisa ser desativado temporariamente, algo que só o presidente dos Estados Unidos pode fazer.
Tempestade: Planeta em Fúria é acelerado, típico para o grande público. Completamente desnecessária é a interação na história dos irmãos protagonistas, como já mencionei. Também não havia necessidade do excesso de estereótipo de pessoas de outros países durante os caos climáticos, como no Brasil e – principalmente – na Índia. Aliás, a participação da criança indiana e seu cachorro é um apelo tão bobo que não convence nem os pequenos mais emotivos. É difícil entender os motivos dos roteiristas e do diretor em perder tempo e dinheiro com cenas assim. Certamente o apelo seria muito maior com cenas de caos mais abertas, sem focar em pessoas estereotipadas e animaizinhos. Acredito ainda que seria mais triste e angustiante um plano amplo, afinal de contas, mostra melhor a grandiosidade de uma tempestade global. Ainda dentro do roteiro, há muitos clichês e chavões por toda a obra. Menos seria mais nesse caso igualmente. A atuação do elenco, por sua vez, é satisfatória e certamente seria muito melhor sem os clichês e chavões.
Em linhas gerais, trata-se de um filme relativamente bom em efeitos visuais e sonoros, mas não surpreende. Para quem gosta de muitas explosões e fogo por todos os lados, Tempestade: Planeta em Fúria é um prato cheio. Me causou estranheza a imensa quantidade de pedaços de coisas voando, seja na terra ou no espaço. Ficou aquela sensação de muito poligonal. Não que se vejam imagens poligonais, mas a quantidade de cacos voando é imensa.
Ainda acho que as catástrofes apresentadas em “Impacto Profundo” e “O Dia Depois de Amanhã” (os efeitos visuais, na verdade) são mais impactantes. Talvez tenha faltado aquela cena aérea ou do espaço, não sei. Apesar de ser um cine pipoca, acelerado em boa parte, cheio de coisas explodindo, com cenas de ação e o apelo de “precisamos mudar e mudar o mundo”, no fundo podemos extrair as velhas discussões: o ser humano tem o ego exacerbado demais para conviver com seu semelhante e qualquer oportunidade de poder o seduz facilmente. O planeta é frágil e estamos o desestabilizando, mas nós somos muito mais frágeis. É uma pena que o roteiro fraco com histórias e cenas desnecessárias não consiga dar a força às discussões realmente importantes e impactantes.
A curiosidade para esses tipos de filmes é que sempre os mexicanos passam a serem os caras legais depois do caos, isso no sentido de “você nos ajudou, vocês nos abrigaram”. E a bandeira do Brasil sempre está em uma posição bem evidente, junta das demais, quando não está praticamente centralizada. Será ao acaso?
::: TRAILER
::: FOTOS
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Geostorm
Direção: Dean Devlin
Roteiro: Paul Guyot, Dean Devlin
Elenco: Gerard Butlerr, Jim Sturgess, Abbie Cornish
Distribuição: Warner
Data de estreia: qui, 19/10/17
País: Estados Unidos
Gênero: ação
Ano de produção: 2017
Duração: 109 minutos
Classificação: 12 anos