CRÍTICA | ‘Um Dia Difícil’ não é tão impactante, mas vale o ingresso

Bruno Giacobbo

O cinema asiático é pródigo de histórias policiais repletas de bons e bem conduzidos mistérios que, por vezes, infelizmente, não chegam às salas do Brasil. “Os Infiltrados” (2006), de Martin Scorsese, por exemplo, é uma refilmagem do filme “Mou Gaan Dou” (2002), de Hong Kong, que jamais passou por aqui. Mais sorte tiveram os brasileiros com a trilogia da vingança do diretor Park Chan-wook, onde se destaca o cult “Oldboy” (2003), tido com uma das melhores obras deste sub-gênero (longas sobre vingancas) das últimas décadas. Assim, toda vez que há a chance de ver um longa-metragem destes na telona, no escurinho de uma grande sala, com aquele balde de pipoca, é bom não desperdiçar a oportunidade, pois nunca se sabe quando será a próxima. E é um destes momentos que se apresenta, agora, com a estreia de Um Dia Difícil, do sul-coreano Kim Seong-hun.

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A trama começa no dia do enterro da mãe de Gun-su (Lee Sun-kyun), um detetive da polícia de Seul, capital da Coreia do Sul. E aquela jornada que já tinha tudo para ser bastante difícil, digna do esquecimento ao seu término, ficará ainda mais complicada com um acontecimento inesperado. Distraído, o policial atropelará, sem querer, um homem em uma via deserta. Atordoado, esgotado, o protagonista fará tudo aquilo que, como agente da lei, ele sabe que não deveria fazer: esconder o corpo e  fingir que nada, absolutamente nada, aconteceu. Contudo, mais inusitado do que este comportamento por parte de alguém como Gun-su, será a decisão de escolher como esconderijo o caixão da própria mãe. Um plano aparentemente perfeito. Correto, não? Não mesmo. Uma ligação misteriosa logo revelará que alguém o viu cometendo aquele crime e aí o filme se transformará em uma corrida contra o tempo para consertar esta autêntica e bizarra trapalhada.

Com desdobramentos rocambolescos, palpitantes cenas de ação e tiroteios, o longa de Seong-hum cumpre fielmente a missão de cativar a atenção da público ao longo das suas quase duas horas de duração. Os mistérios, tanto da identidade do atropelado, quanto da pessoa que faz a ligação anônima, são extremamente bem conduzidos e por mais que as revelações sobre ambos aconteçam de forma um pouco precoce, a história guarda, ainda, uma reviravolta para o final. No entanto, não é bom ninguém esperar algo tão surpreendente ou chocante como o desfecho de “Oldboy” (2003). Em uma comparação direta e frontal em relação a este aspecto, a nova película perde de goleada. O que não chega a ser um problema, uma vez que cada obra tem suas particularidades.

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O longa-metragem tem momentos (cenas e detalhes específicos de cenografia) que lembram “Breaking Bad” (2008-2013), a fabulosa série televisiva de Vince Gilliam para o canal norte-americano AMC. Dentro deste contexto, por mais que o personagem principal não tenha um arco dramático tão rico quanto o do professor de química, Walter White (Bryan Cranston), dá para compreendermos e até simpatizarmos com os apertos passados por ele nesta jornada para lá de hardcore. Neste sentido, a atuação de Sun-kyun é um diferencial importante ao conferir veracidade aos diversos instantes de desespero e angústia da película. Por fim, ao analisarmos todos os aspectos possíveis na hora de se julgar uma obra cinematográfica, é fácil constatar que se não é tão impactante como outros filmes asiáticos deste filão, Um Dia Difícil, no mínimo, cumpre o objetivo de cativar e entreter a plateia. Vale o ingresso.

Desliguem os celulares e ótima diversão.

TRAILER:


FICHA TÉCNICA:
Título original: Kkeutkkaji Ganda
Direção: Seong-hoon Kim
Distribuição: Fênix Filmes
Roteiro: Seong-hoon Kim
Elenco: Lee Sun-kyun, Jin-Woong Cho, Jeong Man-Sik
País: Coreia do Sul
Gênero: ação
Ano de produção: 2016
Duração: 111 minutos
Classificação: 16 anos

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN