CRÍTICA | ‘Uma Quase Dupla’, a comédia que mistura suspense, ação e garante boas gargalhadas
Giovanna Landucci
Uma Quase Dupla chega aos cinemas nesta quinta-feira, 19 de julho, prometendo arrancar boas risadas do público, mas não é um filme memorável. Sem novidades em teor estético, esse longa-metragem vai divertir de uma maneira única, pois a construção de personagens foi feita de uma maneira muito rica, repleta de referências pra quem curte esse tipo de filme que mistura comédia, ação e suspense. Toda trama está voltada em seus protagonistas e o objetivo de fazer o espectador rir é certeiro.
Tatá Werneck e Cauã Reymond mostram afinidade total em coletiva de ‘Uma Quase Dupla’
Assim como os trabalhos de Jackie Chan, que são bem caricatos e envolventes, esse traz um diferencial: um serial killer em uma cidade de interior chamada Joinlândia (sim, a referência é ser uma cidade “joia” e essa é uma das brincadeiras que um dos personagens faz quando fala de sua cidade). Dirigido por Marcus Baldini, a narrativa conta a história de Keyla (Tatá Werneck) e Cláudio (Cauã Reymond), uma investigadora que vai desvendar um crime que acontece na cidade onde Claudio é policial e que a única coisa que eles têm em comum é a busca pela perfeição no trabalho, mas que operam de maneiras diferentes.
‘Uma Quase Dupla’, estrelado por Tatá Werneck e Cauã Reymond, divulga cartaz e trailer oficiais
Keyla é conhecida por solucionar casos de homicídio no Rio de Janeiro, e seu jeito arrogante e indelicado faz com que ela não tenha uma vida social muito boa. Já Cláudio, morador dessa pacata cidade, é sonhador e simpático, mas sem experiência como subdelegado. Tudo começa quando ela é chamada para comandar uma investigação devido a um assassinato curioso no tranquilo município. Apesar da falta de química, os dois precisam descobrir quem é o autor do crime sem cometer erros.
O que deixa a história ainda mais cômica é, sem dúvida, Tatá Werneck, que rouba a cena com seus improvisos que parecem fazer parte do script. A escolha da atriz é magnífica, ainda que a dicção dela não seja perfeita. É possível, em vários momentos, ficar sem entender o que ela diz, porém, nunca dá para saber se é de forma proposital para caracterizar ainda mais a personagem que ela mesma desenhou. Mesmo assim, sua expressão facial e jeito cômico se destacam. Keyla é irônica e ranzinza, apesar da seriedade do papel. Já Cláudio, em termos de humor, é um pouco raso. A diversão fica por conta de sua ingenuidade. Ele é pacato, de bem com a vida, totalmente o oposto dela. De forma irônica, os dois acabam ornando, mesmo sendo tão diferentes. O restante do elenco está ótimo na construção de seus personagens. São eles: George Sauma, Ary França, Daniel Furlan e Alejandro Cleveaux, que interpretam muito bem e integram humor e conteúdo positivo a história.
Depois de “Bruna Surfistinha” (2011) e “Os Homens São de Marte… E é pra Lá que Eu Vou!” (2014), filmes de sucesso do diretor Marcus Baldini, ele retorna às telonas em uma obra de humor que lembra muito as comédias do canadense Leslie Nielsen. O filme brinca com esses clichês todos de filmes de investigação, de ação, de assassinatos e serial killers, com um toque de humor de maneira caricata. Segundo o diretor do longa, uma das fontes de inspiração para criar os ambientes foram os trabalhos de David Fincher, como “Seven – Os Sete Crimes Capitais”, e utilizando a linguagem dos seriados das décadas de 70/80, com referência na trilha sonora.
O que surpreende é exatamente a escolha dessa trilha, pois músicas brasileiras conversam com os contextos de cada personagem em Joinlândia, como, por exemplo, “Shimbalaiê” (Maria Gadú), que aparece como mote de Cláudio. Temos o sucesso “Eu Amei Te Ver”, de Tiago Iorc, também. A preocupação com as canções em comédias não é comum, sendo mais fácil encontrar esse diferencial e essa determinação musical em dramas. Porém, não é o que acontece em Uma Quase Dupla, somando pontos positivos à obra.
O humor foi construído pelos próprios atores, para que o contexto da investigação fique em primeiro plano para o diretor e em segundo plano para os espectadores, que acabam se envolvendo com toda a trama e querendo saber quem é o assassino, que, aliás, sem quebrar o suspense, já digo que não é quem vocês estão imaginando. O filme foi todo construído sem marcações para que os atores ficassem livres, e isso é bem positivo, já que não ficou forçado. A narrativa se leva sozinha, o que tem um pouco a ver com os irmãos Coen. A linguagem de câmera ficou clara nas construções do diretor. Algo que contemplasse os improvisos de Tatá Werneck e que pudesse ser mesclado com o tipo de talento de Cauã Reymond, e, dessa forma, nenhum dos dois deixasse o outro em segundo plano, formando, assim, a dupla perfeita, ou Uma Quase Dupla, como é a proposta do longa.
A comédia funciona em alguns momentos. Já em outros, entra no conhecido exagero que enxergamos em inúmeras outras produções nacionais, ano após ano. Ao longo das investigações, a dupla embarca em uma jornada cheia de situações inusitadas em busca do assassino e vai se entrosando cada vez mais. O uso da improvisação é um recurso eficaz em alguns momentos. Entretanto, os exageros deixam a desejar.O roteiro mistura comédia com ação e comédia com suspense. O enredo propositadamente, não é nada original. O diferencial vem dos atores. Tatá é engraçada, competente e usa sua personagem como um impulso para um stand-up comedy, assim como Amy Schumer costuma fazer em seus filmes. Ela comanda as cenas. Cauã, por sua vez, faz um bom contraponto e traz equilíbrio à narrativa. É interessante ver o ator embarcando em outros gêneros e querendo cada vez mais fazer cinema de qualidade.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Direção: Marcus Baldini
Elenco: Tatá Werneck, Cauã Reymond, George Sauma, Ary França, Daniel Furlan, Alejandro Cleveaux
Distribuição: Paris
Data de estreia: qui, 19/07/18
País: Brasil
Gênero: comédia
Ano de produção: 2018
Classificação: 12 anos