CRÍTICA | ‘Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha’ vai disputar algumas estatuetas no Oscar

Bruno Giacobbo

Quando morreu, em 1901, a Rainha Vitória era a pessoa que por mais tempo governara os britânicos: longos 63 anos. Hoje, esta marca já foi superada por sua tataraneta, Elizabeth II, há seis décadas e meia no poder. No entanto, a “herdeira” não batizou sua época. O tempo transcorrido durante o reinado da “vovó” ficou conhecido como “Era Vitoriana”. As explicações são muitas, mas, de forma resumida, dá para dizer que aquele foi um período de grandes mudanças no mundo, quase todas impulsionadas pela Grã-Bretanha, a maior potência global. Com tantas coisas a serem exploradoras em relação ao poder que esta singular personagem exerceu, chega a ser engraçado que, ao levar um pouco de sua vida para as telonas, tenham escolhido um aspecto de sua intimidade (e olha que não é a primeira vez, vide o filme “Sua Majestade, Mrs. Brown”, de 1997): a amizade com o indiano Abdul.

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Em Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha (Victoria & Abdul) acompanhamos como a mulher mais poderosa do planeta conheceu e se encantou por um homem que trabalhava como escrevente em uma penitenciária, a ponto de transformá-lo em seu professor de urdu (uma das línguas da Índia). Devido a sua altura, Abdul (Ali Fazal) foi escolhido, junto com outro indiano, para entregar uma medalha comemorativa à Rainha Vitória (Judi Dench). A missão era simples: de maneira protocolar, fariam a entrega durante um jantar, dariam meia volta e embarcariam no primeiro navio para casa. Só que, ao quebrar o protocolo, olhando a monarca nos olhos e beijando seus pés em sinal de respeito, ele conquistou a atenção dela que, imediatamente, requisitou os dois para o seu séquito pessoal. O que deveria ser uma curta relação profissional, estendeu-se por 15 anos e deixou marcas profundas.

Grandes líderes já disseram que o poder é uma fortaleza solitária que aprisiona quem o detém. Traduzindo: é muito difícil saber quem está com a gente por interesse ou porque aprecia nossa companhia. Cercada por bajuladores, a protagonista não sente prazer com nada. Sua rotina é acordar, comer, participar de eventos oficiais, comer e dormir. Tudo feito no piloto automático. O diretor Stephen Frears foi bastante feliz ao enfatizar esta sensação, logo no início, com cenas que parecem idênticas. A interpretação de Dench, que já foi indicada ao Oscar por este mesmo papel, na obra supracitada no final do primeiro parágrafo, confere veracidade a este estado de espírito. Seus olhos são opacos e eles só voltam a brilhar quando ela começa a se relacionar com o personagem de Fazal. Tudo muda, a relação dos dois é o fio condutor por onde passa uma corrente elétrica de alegria que contagia esta ótima comédia dramática.

Amado por uns e odiado por outros, Frears é um daqueles diretores que fazem filmes com cara de Oscar. De “Ligações Perigosas” (1988) a “Florence: Quem é Esta Mulher?” (2016), seus trabalhos fizeram a cabeça da Academia e conquistaram muitas indicações. A grande razão por trás deste sucesso é que eles costumam agradar, também, ao público. Os últimos longas, principalmente, são histórias cativantes, emocionantes e que fazem as pessoas sorrirem. Não é um cinema para pensar e, sim, para sentir, o que alguns chamam de feel good movies. Daí a razão dele ter tantos fãs e detratores. Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha possui todas estas características e por ser uma película de época tem, ainda, uma direção de arte requintada. Não vai agradar a todos, mas fez a alegria dos espectadores da sessão do Festival do Rio e vai disputar algumas estatuetas em março de 2018.

Desliguem seus celulares e ótima diversão.

*Filme visto no 19º Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro

::: TRAILER

::: FOTOS

::: FICHA TÉCNICA

Título original: Victoria and Abdul
Direção: Stephen Frears
Elenco: Michael Gambon, Olivia Williams, Judi Dench
Distribuição: Universal
Data de estreia: qui, 16/11/17
País: Estados Unidos, Reino Unido
Gênero: drama
Ano de produção: 2016
Classificação: a definir

Bruno Giacobbo

Um dos últimos românticos, vivo à procura de um lugar chamado Notting Hill, mas começo a desconfiar que ele só existe mesmo nos filmes e na imaginação dos grandes roteiristas. Acredito que o cinema brasileiro é o melhor do mundo e defendo que a Boca do Lixo foi a nossa Nova Hollywood. Apesar das agruras da vida, sou feliz como um italiano quando sabe que terá amor e vinho.
NAN