CRÍTICA | ‘Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos’ apresenta um universo riquíssimo

Alyson Fonseca

Na era era do caos, duas facções lutam pelo domínio. O próspero reino de Azeroth, onde os humanos que lá vivem tornaram a terra num paraíso, onde os cavaleiros de Stormwinde os clérigos de Northshire Abbey rumavam longe, servindo ao povo do reino com honra e justiça e na qual os bem treinados exércitos do rei mantiveram uma paz duradoura por gerações. Então vieram as hordas de Orcs. Ninguém sabia de onde vinham tais criaturas e ninguém estava preparado para o terror que espalharam. Os seus guerreiros empunhavam machados e lança com uma maestria mortal, enquanto outros montavam lobos negros tão escuros como uma noite sem lua. Inimagináveis eram os poderes destrutivos das suas malignas magias oriundas do fogo do submundo. Com um engenhoso arsenal de armas e magias poderosas, estas forças colidiram numa disputa de astúcia, inteligência e força bruta, em que o vitorioso reclamará o domínio de todo(a) Azeroth.

O texto acima, faz parte da introdução do jogo Warcraft:Orcs & Humans lançado no ano de 1994. Muitos dos conceitos do Universo Warcraft são semelhantes aos existentes nos jogos de tabuleiro como Warhammer e Dungeons & Dragons e servindo-se de inspirações na mitologia européia, história e do mundo de fantasia de J.R.R.Tolkien e sua obra O Senhor dos Anéis, em que Humanos e Elfos lutam contra Orcs e Trolls, contudo nos dias de hoje já existem inúmeras referências retiradas do dia-a-dia moderno. Todo este universo foi adaptado e será apresentado no filme Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos, que estreia nesta quinta-feira (02/06), em circuito nacional.

Em tempo, quem nunca esteve entre as centenas de milhões de jogadores de Warcraft: Orcs & Humans, World of Warcraft ou qualquer outra denominação do game (como no caso deste que vos escreve), vai demorar um pouco para se ambientar e entrar na história. Mas, logo com paciência, você começa a entender toda aquela fantasia. 

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No filme, o reino pacífico de Azeroth está à beira de uma guerra enquanto sua civilização enfrenta uma raça temível de invasores: guerreiros Orcs fugindo de sua casa moribunda para colonizar um novo lugar. Enquanto um portal se abre para conectar os dois mundos, um exército enfrenta destruição e o outro enfrenta a extinção. De lados opostos, dois heróis são colocados em um caminho de colisão que irá decidir o destino de suas famílias, seu povo e seu lar. Então, uma saga espetacular de poder e sacrifício começa, onde a guerra tem muitas faces, e todos lutam por algo.

Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos é dirigido pelo gamer oficial auto-proclamado de Warcraft e filho de David Bowie, cantor falecido em janeiro deste ano,  Duncan Jones (Lunar), é o fruto dessa certeza, a de que os games podem realizar bons frutos cinematográficos de alguém que tem propriedade no assunto, neste contexto, Jones é mestre. O diretor consegue carregar um filme de fantasia, com muitos efeitos especiais e cenas de ação e aventura. 

Nas mãos do diretor e co-roteirista, o filme leva um certo tempo para atingir um impulso dramático e de ação, mas é interrompido por momentos vazios, o que leva o espectador a questionar se aquelas cenas foram colocados apenas para justificar potenciais continuações. Entretanto, o visionário diretor faz sucesso incrível, ao trazer para a tela grande todo o vasto e belíssimo mundo de Azeroth.

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O roteiro  oferece desde o início dois guias competentes para esse mundo. Durotan (Toby Kebbel), chefe de um clã menor, concorda com a necessidade de encontrar uma nova terra para os Orcs, mas não concorda com  os “modus operandi” do feiticeiro Gul’dan (Daniel Wu), que fará o que for necessário para trazer toda a sua horda para Azeroth – recorrendo a uma luz verde-radioativo chamada Vileza, que se alimenta de vidas. Cada vez mais, parece-lhe urgente limitar a influência de Gul’dan. Por seu lado, Lothar (Travis Fimmel), o grande guerreiro de Azeroth, está vendo que a via militar apenas não vai garantir as chances do seu rei Llane (Dominic Cooper). Ele precisa da ajuda do mago Medvih (Ben Foster), o guardião do reino, que a esta altura encontra-se perdido. Como Medvih anda meio, um tanto estranho, Lothar traz para suas fileiras Hadggar (Ben Schnetzer), um aprendiz de feiticeiro muito perspicaz, e Garona (Paula Patton), uma guerreira meio Orc, meio humana que foi feita prisioneira por Llane – e, com a ajuda deles, começa a ensaiar uma negociação com Durotan.

Um problema é o personagem Hadggar (Khadgar, no original), interpretado por Schnetzer. Embora a atuação não foi ruim, o personagem parece deslocado no universo e, ao contrário dos outros personagens, não tem uma motivação definida e explicada no filme. Sua linha de história foi a mais fraca, um problema ampliado pela sua importância para a história maior do universo. Foi um personagem pouco aproveitado, apesar da sua importância para o enredo.

Outro fato é que a própria Blizzard Entertainment meteu o bedelho e assina a coprodução do filme. Com esta notícia, os fãs podem ficar encabulados, já que a interferência das produtoras e/ou autores, geralmente resulta em um trabalho que o público não aprova, porque não segue à risca o cânone. O fato é que a grande maioria do fãs do game vão se sentir em casa. Jones, afinal, foi ao cúmulo de replicar o horizonte retalhado do game, como por exemplo, os terrenos, que são bem aproveitados na ótima fotografia de Simon Duggan (Eu, Robô) para adaptar a sensação de trilhar o mundo de Azeroth que se tem no jogo. Além disso, encomendou da Industrial Light and Magic, com o apoio da própria Blizzard toda uma nova tecnologia de captura de performance, visando dar aos Orcs a mesma empatia que um ator daria aos seus personagens humanos. Até os poros dos modelos em computação gráfica dos Orcs são capturados da pele de seus intérpretes. Nesse ponto, Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos é bastante impressionante.

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Sobre as cenas das batalhas tem um destaque especial no filme e a maioria delas são bem feitas, tendo um valor importante para a evolução da história, porém as mais esperadas tem um desfecho fraco e mal-desenvolvido. O filme ensina desde o começo como os personagens agem, quem é do bem, quem é do mau, porém no final, ignora alguns desses conceitos e deixa muita coisa sem sentido. Alguns eventos dentro do longa culminam para uma batalha que todos esperavam, e seria a oportunidade de trazer o verdadeiro espírito de luta e mostrar de uma vez por todas a rivalidade eterna entre Orcs e Humanos, mas isso, infelizmente, não acontece.

Uma coisa positiva, é que o filme quebrou, finalmente, a maldição das adaptações dos vídeo-games no cinema, trazendo uma adaptação que agradará aos fãs mais pesados da franquia que já conhecem tudo sobre o mundo Warcraft, mas não introduziu o filme de forma explicativa, devendo ter material para explicar ao público formado pelos não fãs ou games. 

A trilha sonora assinada pelo alemão Ramin Djawadi (Game Of Thrones) é formada por uma única composição, do início ao fim e o TAN TAN TAN do batuque vai se fixar no cérebro dos espectadores. 

Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos deixa, no final, os fãs e jogadores bem representados e valorizados, esses não devem ter problemas em aceitar o filme. Mas, o público “leigo” precisará entender alguns contextos para que o universo cinematográfico Warcraft possa se desenvolver bem fora dos games e se faça uma tradução para o grande público, talvez, pensando nesta abrangência e trabalhando os atropelos nesta introdução para o cinema, o público fique mais familiarizado com a trama. Ao poucos o espectador vai sendo guiado pelo caminho do clímax, a história vai ficando interessante e, no fim, o público ficará com um gosto de quero mais. Agora, para os próximos filmes, deve ser feita uma adaptação para o cinema que abranja todos os espectadores, para que eles entendam as origens, do contrário, o público geral (não fãs, nem jogadores)… esses não devem voltar ao mundo de Azeroth no cinema. Enfim, é a grande e esperada estreia da semana, que vale a ida para o cinema e assistir em uma sala 3D, para explorar a tecnologia do filme. 

TRAILER: 

FICHA TÉCNICA:
Título Original: Warcraft
Ano de Produção: 2016
Estreia: 02/06/2016
Gênero: Aventura, Ação, Fantasia
Duração: 124 min.
Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos
Roteiro: Charles Leavitt, Duncan Jones
Direção: Duncan Jones
Elenco: Travis Fimmel, Paula Patton, Ben Foster, Dominic Cooper, Toby Kebbell, Robert Kazinsky, Daniel Wu, Clancy Brown, Ben Schnetzer, Ruth Negga, Callum Keith, Ryan Robbins, Daniel Cudmore, Anna Van Hooft, Patrick Sabongui, Burkely Dufield, Andre Tricoteux, Donnie MacNeil
Distribuição: Universal Pictures do Brasil
Acesse o site oficial do filme, clicando aqui.

© Fotos: Universal Pictures / Divulgação 

Alyson Fonseca

Crítico Cultural e Correspondente do Blah Cultural em Recife / Pernambuco.
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