Deftones retoma seus melhores dias com novo álbum ‘Ohms’
Guilherme Farizeli
O novo álbum do Deftones, ‘Ohms’, não poderia ter chegado em um momento melhor. Afinal, o período de isolamento social é perfeito para apreciar a obra com a qual a banda da Califórnia nos presenteia. Primeiramente, é preciso lembrar que o último álbum da banda, Gore (2016), foi muito bem sucedido comercialmente.
Entretanto, os fãs mais antigos (e mais hardcore) não curtiram muito a sonoridade, na ocasião. Ao contrário do último álbum, no entanto, ‘Ohms‘ é uma retomada em grande estilo à sonoridade que sedimentou a banda como uma das mais relevantes dos últimos 20 anos.
A volta de um velho amigo na produção do disco
A verdade é que Chino Moreno (vocais e guitarra), Stephen Carpenter (guitarra), Abe Cunningham (bateria), Sergio Vega (baixo) e Frank Delgado (turntable e teclados) acertaram e muito a mão. As dez faixas de ‘Ohms‘ são um convite a reflexão e realmente prendem o ouvinte até o fim do álbum.
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Porém, um dos grandes acertos da banda foi trazer de volta o produtor Terry Date, que já trabalhou com Soundgarden, Slipknot, Incubus, Pantera, Smashing Pumpkins, entre outros. Date produziu os quatro primeiros álbuns da banda: Adrenaline (1995), Around the Fur (1997), White Pony (2000) e Deftones (2003). Ou seja, ele ajudou a formatar a sonoridade mais clássica do quinteto.
Banda comanda iniciativa para ajudar profissionais da música
A imagem da capa de ‘Ohms‘ utiliza o pontilhismo. São 12.995 pontos formando uma imagem que, segundo uma teoria dos fãs, lembram uma foto do falecido baixista da banda, Chi Ching, morto em 2013 após ficar anos em coma por conta de um acidente de carro. Apesar disso, o responsável pela obra, Frank Maddocks, não confirmação a relação.
O mais legal de tudo é a campanha “Adopt a Dot“, lançada pela banda. Por meio dela, os fãs podem adquirir cada um dos pontos que formam a capa do álbum, por US$ 20. Em contrapartida, todo o valor arrecadado será destinado ao UC Davis Children’s Hospital e a Crew Nation, entidade que ajuda aqueles que trabalham no backstage da indústria da música.
‘Ohms’ oferece experiência que vai além da audição
A banda também está empenhada em aprimorar a experiência visual dos fãs durante a audição do novo trabalho. No site dos caras, encontramos uma playlist em forma de uma espécie de baralho, onde as canções são rebatizadas com nomes em espanhol. Ao clicarmos nas cartas, somos levados a vídeos feitos sob medida para cada uma das canções.
Balanço entre temas que reflete o próprio equilíbrio na sonoridade da banda
O álbum equilibra perfeitamente um vibe pós-apocalíptica, de terra arrasada mesmo, com uma ideia de união e otimismo. Nas primeiras linhas de “Genesis”, faixa que abre o disco, Moreno fala sobre a dicotomia que toma conta dos mais variados debates mundo afora (I reject both sides of what I’m being told / I’ve seen right through / Now I watch how wild it gets).
Em “Ceremony”, a incrível linha de baixo de Sergio Vega ajuda a expandir o groove da canção, enquanto Moreno desacredita a própria percepção (It’s an illusion / It’s all an illusion). Do mesmo modo, a deliciosa mistura de peso e groove segue nas faixas “Urantia”, “Error” e “The Spell of Mathematics”.
Assim como em “Radiant City”, onde baixo distorcido dá o tom da faixa, acomodando perfeitamente as tradicionais camadas de voz de Moreno nos versos.
Faixa que dá nome ao álbum é uma das melhores da história da banda
Por último, a faixa que melhor resume o sentimento geral em torno do trabalho é justamente aquela que dá nome ao álbum. “Ohms” é uma das melhores faixas da discografia inteira do Deftones e tem tudo aquilo que a gente adora ouvir.
Riff incrível de Stephen Carpenter assim como uma levada incrível de batera, com aquele timbre de caixa que a gente ama, marca registrada do Abe Cunningham.
Os versos são os mais bonitos do disco inteiro.
Ao mesmo tempo em nos situa em meio ao caos (we’re surrounded by debris of the past / and it’s too late to cause a change in the tides), Moreno nos oferece uma perspectiva otimista (It’s promise made / time won’t change this / It’s how we’ll stay), ou seja, de resistência.
Isolamento social também influenciou letras do álbum
Em conversa com o LA Times, o vocalista do Deftones relatou o impacto da pandemia de Covid 19 na produção do álbum. Embora todos os instrumentos tivessem sido gravados antes da quarentena, a gravação das vozes, assim como a mixagem e a masterização do disco foram realizadas durante o lockdown.
Segundo Moreno, apesar da variedade de temas, a solidão imposta pelo isolamento social se fez presente em vários momentos do novo trabalho. Ou seja, a força desse trabalho também está na forma como ele é atual.
Conclusão
O Deftones é uma das bandas mais importantes de sua geração e se mantém relevante mesmo depois de tantos anos. O fato de não se encaixar em nenhum dos estilos aos quais é normalmente associada, é um dos motivos. Assim como a versatilidade de seus trabalhos, apesar disso, mantendo-se firme como uma banda de rock.
Dessa forma, ‘Ohms‘ é um álbum muito bem construído, que evoca a sonoridade dos álbuns mais clássicos sem deixar de referenciar tudo que a banda apresentou ao longo dos últimos anos. Vale demais a audição, querido leitor!