HOME| Filmes

Delírio crítica do filme da Netflix 2021

‘Delírio’ é tenso, e pede empatia e paciência ao espectador

Marcelo Fernandes

Certos tipos de filme precisam de um estado de espírito do espectador condizente com a sua proposta. Portanto, se você pretende assistir Delírio (Iluzja), na Netflix, esteja avisado que o filme não tem muito em comum com os maiores sucessos do streaming, mas caso você se permita, poderá se surpreender com o longa.

A história pede que você se envolva com o drama da protagonista interpretada por Agata Buzek, uma professora primária cuja filha desapareceu, e que desde então passa a viver uma busca. Entender Delírio é praticar a empatia e se ver na posição da professora: não há bandidos para esmurrar, pistas mirabolantes ou investigações inteligentes. Há apenas o vácuo e o isolamento de um caso que parece chegar a um ponto insolúvel, sem direções a seguir

A montagem, cenários e a quase absoluta ausência de diálogos que ultrapassem o monótono, além da opção do silêncio em quase a totalidade das cenas ser a trilha sonora, demonstram como a depressão e a impotência se misturam no cotidiano da professora. Por isso, o aviso lá em cima: para apreciar o filme, é preciso praticar a empatia com a dor alheia, e entender que o sofrimento não é espetacularizado.

Dores da esperança

O filme lembra um pouco o premiado “Três Anúncios para um Crime” no que diz respeito às mães que buscam culpados para preencher um vazio que nunca será preenchido, sobrando apenas o isolamento social e a óbvia necessidade de tratamento psicológico para quem passa por traumas semelhantes. Os sentimentos ficam represados e vão se acumulando a cada direção que não acaba em nada.

Mais do que um suspense, Delírio é um drama que pretende mostrar as dores de quem mantém as esperanças mesmo que todos os fatos apontam o contrário, e como essa mesma esperança na busca por algo corrói todos os outros aspectos da vida – relacionamentos amorosos, profissionais, amizades, um a um vão terminando, em razão da dificuldade de se dedicar qualquer assunto diferente. Mesmo as menores tarefas do cotidiano tornam-se um fardo para quem vive uma vida em suspenso, sempre esperando um telefonema salvador que vá solucionar tudo.

Assim, pode-se dizer que Delírio não parece muito com as estreias espetaculosas da Netflix. É delicado, tenso, contemplativo, e não abre concessões para agradar o grande público. Ao mesmo tempo, busca a aprovação desse mesmo público, que, para isso, precisa entender que na vida real as soluções de crimes nunca são o Coronel Mostarda na cozinha com o candelabro. Entender isso é crescer, saber que o mundo nunca é tão simples, e a tristeza de certas ausências podem acabar com algumas vidas.