Entre altos e baixos, ‘Depois do Universo’ cumpre o seu objetivo
Wilson Spiler
Qual é o objetivo de um filme? Essa discussão não tem uma simples resposta ou sequer tem alguma. O cinema é diverso e tende a atender os mais diversos nichos. Assim como a música, a sétima arte é sentida de diferentes formas e cabe a cada um gostar do que bem entende. A análise crítica avalia questões técnicas que a maioria – ou grande parte – do público não se baseia. E isso não é um erro. De novo, é apenas uma questão de gosto.
Depois do Universo, novo filme brasileiro que chegou recentemente ao catálogo da Netflix, pode ser visto de muitas formas. Se o objetivo da obra é emocionar, ele cumpre sua missão. Mas como estamos lidando com uma crítica, vale ressaltar alguns pontos discutíveis.
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Sinopse
Na trama, a pianista Nina (Giulia Be) sofre de lúpus e aguarda um transplante de rim para voltar a ter uma vida normal. No entanto, ela ocupa uma posição muito distante nessa ‘corrida’ pela vida. Enquanto isso, a jovem conhece o médico Gabriel (Henrique Zaga), que, coincidentemente, acaba substituindo a profissional que acompanharia seu tratamento. Os dois, claro, se apaixonam e o destino da protagonista começa a ganhar outros contornos.
O que é lúpus?
Lúpus é uma doença autoimune que pode atacar qualquer parte do corpo – o rim, no caso de Nina. A enfermidade ocorre quando o sistema imunológico do seu corpo ataca seus próprios tecidos e órgãos. Embora não haja cura, os tratamentos mais modernos procuram melhorar a qualidade de vida pelo controle dos sintomas e pela diminuição das crises. Alterações no estilo de vida como dieta e proteção contra o sol, bem como medicamentos como anti-inflamatórios e esteroides, são algumas das opções.
Depois do Universo é uma história real?
Embora não tenha sido confirmado oficialmente, Depois do Universo é inspirado na história da mãe do diretor Diego Freitas, Durvalina, que faleceu logo depois do lançamento do primeiro filme do diretor. Na época, em 2018, o cineasta havia acabado de lançar “O Segredo de Davi”. A própria atriz Giulia Be, que interpreta a personagem Nina, já citou o caso em recente entrevista.
Be afirmou ainda que se reuniu com vários pacientes, principalmente mulheres, para entender seus dramas e tentar incorporar da melhor forma possível o que as pessoas que sofrem da doença passaram.
Vale a pena assistir Depois do Universo?
Falando sobre o filme em si, Depois do Universo é um romance dramático extremamente bem-produzido. Algum desavisado que não sabe que o filme é brasileiro pode até pensar que essa talvez seja a melhor dublagem de todos os tempos. Todos os detalhes técnicos são absurdamente elogiáveis: desde a fotografia, passando pelos efeitos especiais e até o som, muitas vezes um calcanhar de Aquiles do cinema nacional.
É realmente muito bom ver que filmes brasileiros estão chegando a esse nível de profissionalismo e qualidade tão grande. A escolha pelas cores em neon, os efeitos especiais do piano de Nina, a beleza da fotografia e enquadramentos muito bonitos são realmente dignos de aplausos. Vale destacar também o debate que a obra levanta a respeito da doação de órgãos no Brasil. Nina ocupava uma posição acima de 14 mil na fila, que parecia nunca andar. Esse é um drama real para milhares de brasileiros, não só para transplantes, como também cirurgias e até simples atendimentos. O longa também suscita a discussão sobre os “diferentes”, implementando personagens LGBTQIA+, mas peca pela pouca diversidade do elenco.
Pontos negativos
No entanto, se tecnicamente não há o que reclamar, com relação ao roteiro, Depois do Universo usa e abusa de situações clichês que vemos nos mais diversos filmes hollywoodianos, como “A Culpa É das Estrelas” e “Como Eu Era Antes de Você”, para ficarmos apenas em dois exemplos de sucesso. Com direito até a cena de beijo de cinema, chuva caindo no momento de maior dramaticidade e diálogos extremamente rasos. Então, se tecnicamente o longa-metragem brasileiro é digno de orgulho, em termos de texto, é triste ver uma certa falta de identidade da obra.
As atuações também deixam a desejar. Embora se esforcem, os dois protagonistas interpretam de forma burocrática, com raras exceções. No caso da atriz Giulia Be, é até compreensível, já que é sua estreia em um longa-metragem. Mas Henrique Zaga, apesar de jovem, já tem uma certa bagagem, tendo atuado, inclusive, no filme “Os Novos Mutantes”, da Fox/Marvel. Está mais do que na hora de mostrar uma evolução além do rostinho bonito. A discrepância nas interpretações é gigante, principalmente quando atores do quilate de João Miguel, Othon Bastos, Isabel Fillardis e até Viviane Araújo (muito bem) aparecem em tela. Chega a ser constrangedor.
Mesmo diante desses problemas, como dissemos anteriormente, Depois do Universo cumpre o seu objetivo: emocionar. Com um final, digamos, relativamente surpreendente, o romance dramático brasileiro consegue cativar até o espectador de coração mais duro. Afinal, ele é todo projetado para isso, utilizando-se de cenas de câmera lenta e uma trilha sonora romântica moderninha que vai de Ed Sheeran e Alok a brasileiros como Lulu Santos e Cazuza. Portanto, o longa atinge o público-alvo adolescente e afeta os mais velhinhos também. Em suma, a produção vai agradar de acordo com a forma com que você a enxerga. No mais, boa diversão.
Onde assistir ao filme Depois do Universo?
A saber, Depois do Universo estreou nesta quarta-feira, 26 de outubro de 2022, no catálogo da Netflix.
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Trailer do filme Depois do Universo
Depois do Universo: elenco do filme
Henrique Zaga
Giulia Be
João Miguel
Ficha Técnica do filme Depois do Universo
Direção: Diego Freitas
Roteiro: Diego Freitas
Duração: 127 minutos
País: Brasil
Gênero: drama, romance
Ano: 2022
Classificação: 14 anos