Alice Cooper Detroit Stories crítica (1)

‘Detroit Stories’ traz um Alice Cooper mais “excitante”

Cadu Costa

Vincent Damon Furnier mais conhecido como Alice Cooper é sua própria imagem e semelhança para qualquer trabalho em que se envolva. Seja na década de 70, seja algo criado por ele como o Hollywood Vampires – que já se apresentou no Rock In Rio com Johnny Depp nas guitarras – ou uma participação no disco de um amigo músico como Paul McCartney ou Guns N’ Roses. Sua presença sempre deixa marcas.
Parte do apelo duradouro de Alice Cooper tem sido o fato de que, ao contrário de muitos de seus colegas da rádio FM dos anos 70, ele sempre rejeitou a noção de que o Rock ‘n’Roll deveria ser arte séria. “School’s Out” é apenas um primo distante de “School Days”, de Chuck Berry; assim como “I’m Eighteen” é inerentemente engraçado, já que Cooper tinha 23 anos quando se tornou um sucesso, e ele não parou de cantá-lo nos últimos 50 anos .

Amor genuíno

E por isso que seus grandes álbuns, como Love It to Death e Killer, ambos de 1971, e School’s Out, de 1972, foram ótimos em primeiro lugar. Porque você pode estar envolvido na piada (ou não) e ainda sentir uma conexão genuína com o rock corajoso de Detroit, sua cidade natal. Aliás, não à toa, a “Tia” Alice Cooper apresenta seu genuíno amor em Detroit Stories, seu novo trabalho.
Esse espírito de abandono do Rock ‘n’Roll ainda existe na música de Cooper meio século depois, e o mestre do Rock Horror Show mostra o motivo pelo qual as pessoas ainda lotam seus shows para ver sua apresentação na guilhotina. É também por isso que seus discos ainda são divertidos de ouvir: você nunca sabe para onde ele está indo.
Em Detroit Stories, Alice Cooper traz 15 músicas cheias de vida e de graça. Em toda sua carreira ele sempre focou em mexer com fantasias e ao mesmo tempo em que tratou de assuntos sérios, buscava trazer sadismo no humor do discurso, nunca falava 100% sério. E, no seu 21º álbum, vários tons de rock de garagem, soul e blues ganham ainda mais força.

Músicas engraçadas

Apesar do disco abrir com “Rock & Roll”, um cover do Velvet Underground – maravilhoso -, não é nenhuma surpresa também que as melhores músicas sejam as mais engraçadas.
“Go Man Go” é uma mensagem de masculinidade tóxica definida por um riff de guitarra no estilo “I Don’t Know”, do Replacements (co-escrito por Wayne Kramer do MC5), no qual Cooper canta: “[Minha namorada] sabe que eu sou um homem / Ela sabe que sou um idiota, mas tudo bem ”.
“Our Love Will Change the World” é um cover alegre de uma canção irônica do grupo power-pop de Michigan, Outrageous Cherry. “Você pode não gostar [do mundo] agora mas vai se acostumar com isso de algum modo”, canta ele, com um sorriso malicioso que só “Tia Alice” sabe fazer.
Em seguida, há “I Hate You”, em que ele e os outros membros sobreviventes de sua banda original acrescentam coletivamente que odeiam o falecido guitarrista Glen Buxton por ter a coragem de estar morto há 24 anos.
Cooper até mesmo critica artistas que se levam muito a sério no rock otimista, “Shut Up and Rock”. “Não quero ouvir sobre sua política”, diz ele por um lado. Por outro lado exclama “Não quero ouvir sobre seu passado doloroso, eu não me importo de qualquer maneira”. Sua mensagem, claro, é “Cale a boca e balance”. Talvez por isso, Larry Mullen Jr., do U2, toque bateria nessa música como um ato irônico de protesto.
E seu “Wonderful World” não tem nada a ver com as árvores de rosas verdes e vermelhas de Louis Armstrong, mas sim com “Seria um mundo maravilhoso se todos fossem como eu”.

Celebração ruidosa do hard rock de Detroit

O álbum literalmente é uma celebração ruidosa do cenário de hard rock de Detroit, também chamada pelo Kiss de “Cidade do Rock”. O disco soa como The Stooges, The MC5, Mitch Ryder e The Detroit Wheels, The Rationals, Bob Seger e, claro, Alice Cooper.
Não à toa, junto a Cooper estão os guitarristas Wayne Kramer, do MC5; e Mark Farner, do influente grupo Flint e Grand Funk Railroad de Michigan; bem como o lendário baterista do Detroit Wheels, Johnny “Bee” Badanjek. Sem contar o baixista de Jazz e R&B Paul Randolph, o Motor City Horns; e o virtuoso e influente guitarrista de blues-rock Joe Bonamassa. Além, claro, do produtor Bob Ezrin, que trabalhou com Alice Cooper há 50 anos.
Por isso mesmo, Detroit Stories é um álbum típico de Alice Cooper. Mas, ao mesmo tempo, muito mais excitante. Você não pode querer mais do que isso. E é exatamente o que precisamos no momento em que vivemos. Experimente ouvi-lo após uma certa “CPI” e se sinta melhor.
Aliás, vai comprar algo na Amazon? Então apoie o ULTRAVERSO comprando pelo nosso link: https://amzn.to/3mj4gJa.

Ouça agora ‘Detroit Stories’, de Alice Cooper

Cadu Costa

Cadu Costa era um camisa 10 campeão do Vasco da Gama nos anos 80 até ser picado por uma aranha radioativa e assumir o manto do Homem-Aranha. Pra manter sua identidade secreta, resolveu ser um astro do rock e rodar o mundo. Hoje prefere ser somente um jornalista bêbado amante de animais que ouve Paulinho da Viola e chora pelos amores vividos. Até porque está ficando velho e esse mundo nem merece mais ser salvo.
NAN