‘Disforia’ | CRÍTICA
Jorge Feitosa
“É como se eu tivesse saído de mim por uns instantes.”
Em seu significado literal, a disforia é um estado psicopatológico caracterizado pela mudança repentina de humor para a tristeza, o pesar, a angústia. É, em suma, o contrário da euforia, que causa sentimentos de otimismo e bem estar.
E Disforia, no caso, o primeiro filme em longa-metragem do diretor e roteirista Lucas Cassales, é uma narrativa que justifica seu título ao usar de uma abordagem não apenas psicológica, mas também onírica (referente a sonhos) do drama de seu personagem principal, Dário (Rafael Sieg); da pequena coadjuvante Sofia (Isabella Lima); e da influência desta na jornada do protagonista.
A trama
Atormentado por uma aparente perda pessoal que culminou com a internação de sua esposa (Juliana Wolkmer) em um estado quase catatônico, Dário é um psicólogo que volta à ativa para o tratar de Sofia, que vive enclausurada em uma casa soturna por imposição do pai, Paolo (Vinícius Ferreira), o que o leva a um mistério envolvendo a garotinha e sua família.
O mote do filme Disforia é mostrar a relação entre os dramas do protagonista e dos coadjuvantes e a incomunicabilidade que nos faz negar e rejeitar os problemas a ponto de vivermos em nosso próprio mundo, tornando-nos dispersos e até mesmo perdidos em meio à multidão.
Para isso, o diretor e sua equipe fazem uso de tomadas longas, uma fotografia cinzenta durante o dia e de um amarelo mais saturado à noite para mostrar ambientes que contribuem para o distanciamento de Rafael do mundo real. Com estaque para uma cena em uma festa onde as vozes distorcidas e uma jovem dançando entorpecida compõem um clima de pesadelo.
Além disso, há também um interessante uso da cor vermelha para mostrar que há algo mais doentio e visceral do que apenas a depressão dos personagens.
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Fora do lugar-comum
E, no meio de tudo isso, está a pequena Sofia, cujo nome literalmente significa sabedoria. É uma personagem que, ao invés de ser ajudada pelo protagonista, está ali para ajuda-lo a se encontrar. De fato, uma interpretação bem executada de Isabella e que merecia mais destaque, senão no roteiro, ao menos com mais enquadramentos da atriz na montagem.
Disforia, enfim, é um filme que deve ser visto sem esperar por aquele didatismo nos diálogos tão comuns nas produções do gênero. Mas também poderia ter uma edição mais dinâmica para dar algum destaque ao elenco coadjuvante sem que perdesse o ar experimental. Contudo, é uma produção muito bem-vinda e fora do lugar-comum.
::: TRAILER
::: FICHA TÉCNICA
Título original: Disforia
Distribuição: Lança Filmes
Direção: Lucas Cassales
Elenco: Isabela Lima, Rafael Sieg, Vinícius Ferreira
Data de estreia: qui, 12/03/20
País: Brasil
Gênero: suspense
Ano de produção: 2020
Duração: 97 minutos
Classificação: 14 anos