Djonga entrega uma noite de pertencimento em show no Circo Voador
Cadu Costa
Dia 20 de novembro de 2021 ficará marcado na história do Circo Voador. Afinal, foi nesta data que presenciamos uma das noites mais necessárias desse icônico lugar. Foi dia de show do Djonga e dia de se sentir pertencido a um tempo, um momento, um espaço, um local, um artista, uma história.
Se apresentando pela primeira vez na lona mais famosa do Rio de Janeiro, o rapper mineiro Djonga esgotou duas datas no local nos primeiros minutos de venda. Não era para menos.
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Djonga promove noite histórica no Circo Voador
Djonga é um dos maiores rappers dessa geração e um artista que lidera um movimento de luta antirracial, de resistência com o dedo na ferida contra o sistema. E isso no momento político atual do Brasil é de uma importância poucas vezes vista.
Djonga não tem medo de falar o que pensa e expõe isso nas suas músicas e atitudes, e, neste final de semana, no Circo Voador, pudemos conferir isso ao vivo em um show de duas horas do mais puro sentimento de pertencimento. Além, é claro, de rap do bom. Seus dois últimos projetos, Histórias da minha Área e NU foram exaltados por uma plateia sedenta por soltar o grito de resistência preta.
O entorno do Circo Voador já indicava a importância da noite. Personalidades pretas de luta foram assistir o show de Djonga, como, por exemplo, o influenciador Júlio de Sá, que ficou famoso esta semana após ser abordado por PMs no Centro do Rio ao sair de uma loja. Feliz com o apoio que recebia, ele só agradecia e tentava explicar que a luta não iria parar e artistas como o rapper eram uma realidade de sucesso pro povo preto.
Sequência matadora de músicas
Mas, falando de música mesmo, a noite ainda precisava começar e tudo se inicia com a dupla Tasha & Tracie. Essas paulistas do Jardim Peri, periferia de São Paulo, são consideradas os nomes femininos do Rap em maior ascensão atualmente. Apesar de parecer ter um probleminha no som, as meninas fizeram um show OK e ajudaram a esquentar uma noite histórica por si só.
A expectativa no Circo Voador só aumentava e então veio ele: Djonga abriu o show com a porrada “O Cara de Óculos” já de cara. O público não precisava de muito para estar ganho, mas era incrível ver a energia no ar. Se podia sentir, era como se pudéssemos tocá-la.
Aí, foi uma sequência matadora atrás da outra. “Leal”, bem como “Easy Money”, “Ó Quem Chega” e “A Música da Mãe”. Isso só pra ficar nos destaques mais óbvios.
Grito entalado
A provocação num show de Djonga acontece o tempo todo, pois o rapper cantava olhando nos olhos de seu público e interagindo com suas expressões e palavras. Vestindo uma camisa da Seleção Brasileira com a cor preta, o artista parecia reivindicar um símbolo tomado por conservadores.
“Eu gostaria que vocês parassem por um momento pra pensar numa pessoa escrota. Pensa. Pode ser qualquer um”, mandou na lata. Era evidente que escutamos o maior coro do Brasil com palavras nada agradáveis ao governante atual do país.
As pessoas estavam aglomeradas, lógico, mas aquele grito precisava sair e veio. Chega a ser difícil explicar o quanto esse momento era necessário. Ao final, com a já clássica “Olho de Tigre”, acredito ser bastante complicado uma pessoa branca ouvir uma multidão em uníssono berrar “Fogo nos racistas”, mas pra nós, pret@s, como a música diz é uma “sensação sensacional”.
Djonga, os fãs, a luta e a celebração
Djonga, no meio de seu público, convida todos a subirem no palco do Circo Voador para uma celebração durante o show. A fim de demonstrar que ele era como seus fãs. E que, por isso, mereciam estar ali. Foi, certamente, um final apoteótico.
Poderíamos presumir fatalmente que nada pode se comparar com aquela noite. Quando tudo termina, um sorriso no rosto de cada um que saía do Circo. Havíamos presenciado História. Havíamos feito História. A luta antirracista vai continuar, claro. Mas no último final de semana, pudemos celebrar. Porque merecemos. Obrigado, Djonga.
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