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‘Druk (Another Round)’: filme dinamarquês mostra vida e insegurança

Victor Lages

Viver é um negócio muito estranho. Como aprendemos na escola, a pessoa nasce, cresce, reproduz-se e morre. Se as ciências biológicas abordam isso, a psicologia se acerca do que vai acontecer entre o berço e o túmulo. E esse é o segredo para apreciar o filme Druk (sem título traduzido ainda), da mesma forma com que o pensamento humano vai se modificando com o diminuir do conteúdo de uma garrafa de vinho.

Repetindo a química do excelente A Caça, com os flertes entre o diretor Thomas Vinterberg e o ator dinamarquês Mads Mikkelsen, Druk não é só um experimento louco entre amigos. Esse filme, consagrados amigos de bares, é um estudo da frustração.

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Sobre amigos e álcool

A história começa apresentando o cotidiano monótono de quatro professores de uma escola, todos pra lá da meia idade, cuja maior diversão é se encontrarem para beber com o subterfúgio de celebrar a vida.

Mas nem eles próprios sabem ao que devem celebrar. Um tem um casamento pacato, o outro mal consegue dormir por conta de um novo filho, o terceiro se sente um fracassado na sala de aula e o último nem tem ninguém pra dividir as tristezas em casa. Enfim, cada um com seus problemas e todos, exemplos de másculos frágeis, com medo de exporem as dores pessoais.

No entanto, em uma noite, um deles aparece com uma teoria de um pesquisador que defende a hipótese da falta de álcool suficiente no sangue de toda a humanidade. Sim, todo corpo tem um déficit de 0.5% de álcool e, se essa diferença for completada, a pessoa se sentirá com mais autoestima e terá maiores desempenhos na vida profissional e doméstica.

Então, como já são beberrões por natureza, eles decidem colocar a teoria à prova como mero estudo científico. Conseguem comprovar que esses 0.5% realmente fazem diferença, mas vão aumentando gradativamente esse número em busca de resultados mais sólidos ou como mera satisfação pessoal.

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Do que realmente o filme fala?

Alcoolismo? Não tanto, já que os próprios personagens defendem que o objetivo é incrementar a vida com doses de segurança. Vícios? Talvez, pois a balança do equilíbrio pende sempre para um lado mais fraco das nossas psiques.

Druk, na verdade, fala sobre a vida. Sobre as nossas frustrações perenes no processo de crescimento e amadurecimento. Estamos eternamente em busca de algo para completar vazios existenciais, procurando em copos, cigarros, agulhas, divãs, trabalho e relações.

Aterrissamos nosso presente nas memórias antigas que trazem acalanto. A inocência da infância parece sagrada, a falta de responsabilidades da adolescência soa nostálgica, os riscos da juventude em que nos sentimos imortais são iguais a um templo.

Sempre retornamos, como Gil de Meia-Noite em Paris, pelo medo que nos aflige no presente e nos persegue no futuro. A teoria que o filme nos traz é mero reflexo de uma insegurança do momento atual em que estamos e que nos faz tomar decisões erradas.

Druk é um filme com uma mistura da vida real e crua de Nelson Rodrigues com uma pegada da personagem Santana de Mulheres Apaixonadas. É a sutileza de um corpo nu exposto para estudos.

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O que o filme ‘Druk’ mostra?

Filosofei tanto que esqueci de citar questões cinematográficas do filme. De forma bem resumida, lá vai: a direção do Vinterberg é cirúrgica ao extrair dos atores o cansaço que qualquer extremismo pode trazer; a interpretação do Mads Mikkelsen é fabulosa sempre, desde sua atuação em A Caça até sua veia maligna em Hannibal, dando destaque aqui ao olhar perdido que o protagonista exige; o roteiro é genial, mesmo que com algumas barrigas óbvias que não tiram glamour algum da obra; e o final é espetacular, do jeitinho que todos os espectadores realmente queriam.

Os quatro amigos conseguem se encontrar nesse caminho de se perder e, enfim, conseguem celebrar a vida. A música que toca vai ficar por dias na cabeça de quem assistir, bem como a cena em toda sua conjuntura. No fim, a vida deve ser isso mesmo: música, busca e amigos para te dizerem que tudo vai ficar bem.

Ah, e vai ganhar o Oscar de Melhor Filme Internacional. E tá previsto!

TRAILER

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FICHA TÉCNICA DO FILME ‘DRUK’

Título original do filme: Druk
Direção: Thomas Vinterberg
Elenco:
Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen, Magnus Millang
Onde assistir: cinemas
Data de estreia:
qui, 24/09/20 (Dinamarca)
País: 
Dinamarca
Gênero: 
drama, comédia
Ano de produção: 
2020
Duração: 
117 minutos
Classificação: 
a definir

Victor Lages

Feito no coração do Piauí, onde começou sua aventura cinematográfica depois de descobrir as maravilhas do filme “Crepúsculo dos deuses”, o jornalista Victor Lages ama tanto a sétima arte que a leva para tudo em sua vida: de filosofias do cotidiano à sua dissertação de mestrado.
NAN